A tendência de se comunicar com frases curtas nas redes sociais afetou a capacidade da Geração Z de estruturar parágrafos e desenvolver argumentos mais complexos
Por Patrícia Esteves
O avanço da tecnologia e o uso constante das mídias sociais estão impactando a habilidade de escrita da Geração Z, apontam professores. Nascidos na era digital, muitos jovens enfrentam dificuldades para escrever à mão, manter uma caligrafia legível e construir textos mais elaborados. Especialistas apontam que essa mudança está ligada ao uso crescente de teclados e telas desde a infância, o que reduz a prática da escrita tradicional.
Um estudo da Universidade de Stavanger, na Noruega, revelou que apenas um ano sem escrever à mão pode prejudicar significativamente a fluência caligráfica. Cerca de 40% dos estudantes pesquisados apresentaram dificuldades para escrever de forma legível e relataram fadiga ao usar papel e caneta.
A pesquisadora e professora de linguagens da Turquia, Nedret Kiliceri afirma que a caligrafia dos alunos está piorando porque falta treinamento e prática. “A escrita dos estudantes inclina-se para baixo ou para cima na página, e muitas vezes fica ilegível. Antes, os alunos usavam papel e caneta com mais frequência, mas agora interagem com telas desde cedo, o que prejudica sua caligrafia no ensino médio e na universidade”, explica.
Influência das redes sociais
Além da dificuldade com a caligrafia, muitos jovens também enfrentam problemas na construção de textos. A tendência de se comunicar com frases curtas nas redes sociais afetou sua capacidade de estruturar parágrafos e desenvolver argumentos mais complexos.
“A influência das redes sociais e a predominância de testes de múltipla escolha levaram os alunos a evitar frases longas. Muitos acreditam que juntar frases soltas já constitui um parágrafo, sem perceber a necessidade de conexão entre as ideias”, acrescenta Kiliceri.
Cadernos foram substituídos
Outro fator preocupante é que muitos estudantes simplesmente deixaram de usar canetas e cadernos. “Eles chegam às aulas sem canetas e fazem tudo pelo teclado. Isso faz parte de um fenômeno maior sobre como a tecnologia está remodelando a linguagem escrita”, afirma a professora.
Além da caligrafia comprometida, letras como “o” e “b” são frequentemente escritas de forma incorreta, demonstrando que o problema vai além da estética e afeta a alfabetização de forma mais ampla.
No Brasil, o filósofo e professor Robson Ribeiro aponta que desde o primeiro sistema de escrita, o cuneiforme – criado há cerca de 5.500 anos -, o processo evoluiu como um instrumento de preservação do conhecimento e expressão criativa. Para o especialista, a realidade atual apresenta, portanto, um paradoxo: enquanto a tecnologia amplia as possibilidades de comunicação, ela também molda um ambiente de relações efêmeras e imediatistas.
“Reservar tempo para a prática da escrita manual é essencial. Uma abordagem híbrida, que combine o uso de ferramentas digitais e práticas tradicionais, pode ajudar a manter o equilíbrio entre eficiência e profundidade na comunicação”, destaca.
O valor da escrita na vida cristã
A comunicação sempre teve papel importante na fé cristã. As Escrituras, preservadas ao longo dos séculos por meio da escrita manual, são um testemunho do valor desse recurso. O hábito de anotar reflexões bíblicas ou registrar orações pode ser uma forma prática de desenvolver tanto a espiritualidade quanto a habilidade de escrita. Procurar momentos para escrever cartas, diários ou simplesmente fazer anotações à mão é uma maneira de cultivar a reflexão e a organização do pensamento.
“Escrever ajuda a fixar ideias, traz clareza e permite que nos conectemos de forma mais profunda com nossos sentimentos e pensamentos”, afirma Ribeiro.
Para pais e educadores cristãos, o desafio é encontrar maneiras criativas de resgatar essas práticas e incentivá-las em casa e na igreja. Jogos que envolvam escrita, desafios de caligrafia e até o uso de devocionais que proponham registros escritos podem ajudar a desenvolver essa habilidade.
A tecnologia é uma ótima aliada, mas equilibrar seu uso com práticas tradicionais pode garantir que as próximas gerações não percam habilidades essenciais para a comunicação, o aprendizado e até mesmo a vida espiritual.

