A Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor aponta que a doença atinge 3% da população no país com idade entre 25 a 50 anos, sendo a maioria mulheres
Por Patricia Scott
Neste mês acontece a campanha Fevereiro Roxo, que tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a fibromialgia. A síndrome clínica se manifesta a partir de dor no corpo todo, principalmente na musculatura. A Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor (SBED) aponta que a doença atinge 3% da população no país com idade entre 25 a 50 anos. A maior incidência é entre as mulheres. Isso significa que 90% dos casos diagnosticados envolvem pessoas do sexo feminino
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a alteração do sono na fibromialgia é frequente, afetando quase 95% dos pacientes. No início da década de 80, descobriu-se que pacientes com fibromialgia apresentam um defeito típico no sono – uma dificuldade de manter um sono profundo. O sono tende a ser superficial e/ou interrompido.
A depressão está presente em 50% dos pacientes com fibromialgia. Isto significa que é comum o paciente de fibromialgia ser depressivo, mas nem todos são, pontua a instituição. “A depressão, por si só, piora o sono, aumenta a fadiga, diminui a disposição para o exercício e aumenta a sensibilidade do corpo. Ela deve ser detectada e devidamente tratada se estiver presente”.
A médica intervencionista em dor, Amelie Falconi, explica que por se tratar de uma doença considerada “invisível” – não aparece em exames laboratoriais e não tem fácil diagnóstico – e por acometer mais mulheres de meia idade, a fibromialgia não raramente é cercada de muito preconceito. “As dores são alvo de bastante descrença. Nunca são consideradas reais, mas emocionais, psicológicas, fruto até da falta de religiosidade. Por isso as pacientes costumam ser taxadas de ‘frescas’, sofrendo um tipo de silenciamento, não apenas de parente e amigos, mas também do sistema de saúde”.
Segundo a especialista, uma característica bem comum de quem sofre com a fibromialgia é a grande sensibilidade à dor. Ela pode ser desencadeada pela compressão da musculatura ou até por um simples toque. “É como se qualquer dor fosse ampliada”, esclarece Amelie, que acrescenta: “Pacientes portadores da síndrome apresentam diversos outros sintomas, entre os quais, fadiga (cansaço patológico), sono não reparador e, consequentemente, repercussões clínicas significativas na parte emocional, com o desenvolvimento de quadros depressivos e de ansiedade”.
A fibromialgia não aparece em exames laboratoriais, que costumam ser solicitados, esclarece a médica. “O diagnóstico é sobretudo clínico”, afirma Amelie, o que faz com que seja corriqueiro o exagero no momento de determinar se o paciente é portador ou não da síndrome. “Aquele que passa em consultas ou dá entrada no pronto-socorro com queixas de dores em vários lugares costuma ser diagnosticado pelos médicos com fibromialgia. No entanto, nem sempre ele apresenta a doença”. Por isso, para evitar o diagnóstico errado, Falconi recomenda a reavaliação com um médico especializado em dor.
Tratamento adequado
De acordo com a médica, a fibromialgia é uma doença incurável. No entanto, há tratamento para mitigar os sintomas. A principal ferramenta terapêutica é o exercício físico, diz Amelie, que considera o estilo de vida como um fator gerador e de tratamento para o portador da dor crônica. “O paciente precisa inicialmente enquadrar-se em uma terapia de movimento, como a fisioterapia e/ou exercício físico, por exemplo”.
A médica destaca que a inserção do exercício físico na rotina do portador de fibromialgia é bem desafiadora. “Imagine como é difícil fazer com que um paciente que tem dor no corpo inteiro, está sempre fadigado e não dorme direito, comece a praticar atividade física”, pontua.
Por isso, a medicação também é um fator importante para o tratamento da síndrome. “Ela é que o paciente muitas vezes precisa para conseguir fazer as mudanças de estilo de vida necessárias – principalmente as relacionadas com o exercício físico – para mitigar suas dores”, enfatiza a médica especialista em dor.
Mesmo assim, Amalie reforça que o exercício físico deve ser sempre considerado a principal forma de tratamento. “Trata-se de uma paciente com dor crônica e fadiga, que não tem o costume de fazer atividades justamente por causa disso. Desse modo, é importante começar de maneira leve e gradual, para que o corpo se adapte a essas atividades”.
Como a fibromialgia causa alterações gastrointestinais, a médica recomenda uma dieta alimentar adequada, com pouca ingestão de industrializados, enlatados e refinados. A prioridade deve ser o consumo de “comidas naturais” como arroz, feijão, verdura, legumes, frutas, carnes e ovo. Alimentos saudáveis são importantes para o “controle dos sintomas e também para regular a microbiota intestinal”.