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sábado, 20 abril 2024

Feminismo segundo a TV Record

Feminismo segundo a TV Record

Não importam os rumos que a trama da TV Record venha a tomar, ela abre espaço para discutirmos as origens do feminismo e até onde os feminismos de hoje estão sendo positivos ou negativos para a mulher

Por Lídice Meyer

A novela Gênesis da TV Record prossegue apresentando em seu enredo mulheres com temperamento forte. Já em seu segundo capítulo as filhas de Eva são mostradas tão questionadoras quanto a mãe. A filha mais velha, nomeada de Renah, lidera as demais em uma revolta contra o pai, Adão, o que resulta na saída das filhas da família.

A revolta das filhas ocorre devido à clara preferência e proteção demonstrada pelo pai aos filhos homens redundando no desprezo de Caim, o filho mais velho, pelas irmãs e pela mãe.

A imaturidade dos homens que já era manifestada no Adão do primeiro capítulo se mantém na imagem passada tanto por Adão como pelos filhos Caim e Abel. As mulheres por outro lado mostram-se mais maduras e produtivas no ambiente familiar. O desequilíbrio gerado pela falta da condução paterna adequada resulta na revolta das filhas contra o pai.

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A trama é conduzida de modo a justificar a inoperância de Adão como consequência da desobediência de Eva que teria causado mal-estar e desconfiança com relação a todas as mulheres. Já o questionamento da filha mais velha, Renah, que poderia ser visto como uma reação própria da fase da adolescência é tratado como uma revolta, consequência também da desobediência do casal primordial.

As manifestações de Renah como “Nenhum homem vai mandar mais em mim”, vão delineando o protótipo de um conceito de feminismo que, entretanto, reforça o sentido negativo do termo. É verdade que hoje existem muitos feminismos e que esta multiplicidade de enfoques e defensores/as tem sido mais prejudicial que benéfica às mulheres.

O feminismo que tem suas raízes no século XVIII na luta de mulheres como a inglesa Mary Wollstonecraft ou a francesa Olympe de Gouges pelo direito da mulher ser aceita como cidadã, não tinha qualquer propósito de criar uma sociedade de “amazonas” sem a presença masculina.

Ao contrário, essas mulheres queriam apenas ter reconhecido seu espaço na sociedade já que até então não podiam sequer ser contadas nos censos. A luta pelo direito de votar e ser votada, pelo direito a condições salubres de trabalho e salários dignos não impede a coexistência com os homens pois estas reivindicações só têm sentido em uma sociedade mista.

Muitas dessas mulheres deram as suas vidas pelas mudanças políticas, econômicas e sociais que prepararam terreno para as mulheres de hoje poderem exercer seus direitos de cidadãs participantes e produtivas na sociedade. Mas ainda há muito o que ser conquistado.

Uma segunda onda do feminismo começou a partir do século XX com Simone de Beauvoir e as discussões sobre ser ou nascer mulher, abrindo espaço para o binômio sexo/gênero. É a partir de então que o termo feminismo começa a adquirir novos significados, distorcendo seu propósito original e criando cada vez mais reações contrárias. Hoje basta alguém defender o direito da mulher, que se é denominado negativamente de feminista atrelando-se a esta designação diversas atitudes discriminatórias.

A Novela Gênesis vem tocar em um ponto extremamente sensível para o século XXI. Não importam os rumos que a trama da TV Record venha a tomar, ela abre espaço para discutirmos as origens do feminismo e até onde os feminismos de hoje estão sendo positivos ou negativos para a mulher.

Lidice Meyer Pinto Ribeiro – Doutora em Antropologia, Professora Convidada na Universidade Lusófona, em Lisboa, Portugal

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