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quarta-feira, 24 abril 2024

Felipe Heiderich: entrevista exclusiva

O pastor, Felipe Heiderich, conta tudo sobre a polêmica acusação de abuso sexual. Confira!

Por Priscilla Cerqueira 

Em junho de 2016, um caso chocou a comunidade evangélica do Brasil. O pastor Felipe Heiderich foi acusado de abusar sexualmente do filho da cantora e pastora Bianca Toledo, com quem era casado havia três anos. E assim teve início um capítulo na história de sua vida a qual chama de “tormento”.

Ele conta que foi mantido oito dias em uma clínica psiquiátrica, para onde foi levado dopado, e depois passou cinco dias preso em Bangu, no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro, sendo lá vítima de espancamento. “Graças a Deus, não fui estuprado, embora tenha sido jogado na cela para esse propósito”, afirmou.

Por ser réu primário, Felipe respondeu ao processo em liberdade e, no dia 8 de abril deste ano, foi absolvido. A decisão, ainda passível de recurso, é assinada pelo juiz Tiago Fernandes de Barros. O processo corre sob sigilo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

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Em meio a esses acontecimentos, o pastor afirma ter vivido uma experiência inexplicável com Deus. “Perdi tudo o que tinha, mas não a minha fé”, desabafou. Em entrevista à Comunhão, ele revelou detalhes do que passou na prisão e como sobreviveu às acusações e encontrou refúgio na Bíblia. Destacou também a importância da sua mãe nesse processo e como vive atualmente, apontando os projetos que deseja abraçar. Confira!

Você é de Alto Caparaó, em Minas Gerais. Como foi sua infância?

Nasci no Rio, mas fui criado em Alto Caparaó. Tive uma infância feliz e saudável, e foi no interior de Minas que me apaixonei por Jesus. Aos 21 anos, me mudei para o Rio de Janeiro para fazer curso de Música. Mas, ao estudar algumas matérias no seminário teológico, descobri minha vocação para o ministério. Então, fiz o curso de Teologia, uma pós e um mestrado em Divindade.

Em suas pregações, você alerta sobre a importância de jamais nos esquecermos de que Deus está conosco 24 horas por dia. Como nos mantermos firmes diante do “excruciante silêncio de Deus durante as provações e da nossa inquietação por respostas na dificuldade de confiar”?

Felipe Heiderich: entrevista exclusivaCrescemos aprendendo que Jesus está conosco o tempo todo, mas na teoria isso é uma coisa. Quando você se sente completamente isolado de tudo, sem respostas; quando parece que a Bíblia não fala mais com você; quando todas as coisas que você acredita e sempre lutou e defendeu são colocadas em xeque diante do que está vivendo, aí é gerado um grande desafio. E por causa de algo momentâneo, você pode jogar tudo para o alto, porque se encontra abandonado e isolado no meio do silêncio. Sempre tive o hábito de anotar em papel fatos em que durante a caminhada tinha visto o agir da mão de Deus, pois sabia que em algum momento estaria fraco e precisaria relembrá-los. Foi aí que aprendi que fé é permanecer crendo, mesmo quando você clama a Deus por socorro e Ele está em silêncio: quando lê a Bíblia mesmo que nada faça sentido. É estar ao lado do Senhor sabendo que a breve tribulação jamais pode ser comparada com a glória que há de ser revelada.

Você é uma pessoa reconhecida por sua alegria, mas passou por um período que classificou como muito doloroso, em que chegou a ser preso, após ser acusado de pedofilia pela ex-esposa. O que foi mais difícil nesse período e como isso impactou a sua fé? Chegou a questionar Deus?

A alegria é uma das marcas do cristão, mas, quando tudo ao seu redor desmorona e as injustiças se tornam as suas melhores amigas, a alegria é roubada de você. Minhas orações sempre foram sinceras: “Deus, está doendo, machucando, eu não sei se vou conseguir
chegar lá”. E, mesmo Ele permanecendo em silêncio, eu continuava com essas orações. O mais difícil não foi receber críticas. A questão era quando eu seria declarado inocente e como reagiria. Não quero ser uma pessoa amargurada, pois o que adianta passar por tudo isso e no final só ter ódio, olhar para as pessoas e para a Igreja e sentir raiva? Ainda existem muitas dores para serem trabalhadas. É óbvio que eu questionei Deus. Muitas vezes chorava e dizia: “Eu não estou entendendo o que o Senhor está fazendo. O Senhor se lembra de mim? Importa-se comigo ainda?” Mas entendi que minha vida não é nada diante da eternidade com Cristo.

O que fazer diante de uma situação como essa, em que nos sentimos perdidos?

Crer e confiar em Deus mesmo que não tenhamos respostas para nada. Seja transparente, rasgue sua alma e fale com o Senhor como seu melhor amigo, independentemente do momento em que estiver vivendo. Quando estamos no furacão somente, o silêncio nos faz ouvir a voz de Deus, porque Ele nos purifica de outras vozes externas que só servem para nos confundir. Aproveito para fazer um alerta para a Igreja sobre a forma como tem julgado os seus. Levamos tanto tempo tentando trazer alguém pra Jesus e na primeira oportunidade desperdiçamos. Essa mentalidade precisa mudar.

Qual foi o peso do colo de sua mãe nesse momento?

Minha mãe é o símbolo da mulher de Deus, a pessoa que mais me aproxima de Jesus como ser humano. Tem uma facilidade incrível de perdoar, em qualquer momento de tribulação. Quando meus amigos me abandonaram, ela sempre tinha uma palavra:
“Deus proverá”. Minha mãe é guerreira, enterrou seu marido, com quem foi casada por mais de 30 anos, e meses depois soube que eu tinha sido internado no hospício. Desesperada, entrou no carro com meu irmão e passou em vários lugares até me localizar. Ela estava cheia do Espírito Santo, com uma autoridade vinda dos céus, e conseguiu me tirar de lá. Se não fosse a autoridade dela dada por Deus, eu teria sido morto, como foi dito na audiência.

Felipe Heiderich: entrevista exclusivaDurante os três anos em que esteve afastado do ministério, como foi seu contato com amigos, membros e lideranças da Igreja? Houve apoio emocional e espiritual?

Desde que comecei a pastorear, tinha o princípio de que, quando algum líder de igreja estivesse passando por algum processo investigativo, seja por denúncia de suborno, seja por corrupção, seja por adultério, ele deveria ser afastado do ministério e receber um tratamento especial por parte da igreja até que o caso fosse resolvido. Então seria hipocrisia da minha parte se esse princípio não se aplicasse a mim. Eu estava sendo investigado, então me recusava a subir em qualquer altar para que o nome da igreja não fosse contaminado. Apesar de ter recebido vários convites para ministrar, preferi recuar. Mas dizia que, no dia em que eu tivesse algum documento que provasse que sou inocente, ninguém iria me segurar. Eu tinha as mãos limpas, o coração puro, e agora tenho um papel para provar isso.

Durante esse tempo você também recebeu ameaças. Como se dava essa intimidação? Depois de inocentado pela Justiça, as ameaças pararam?

Eu era ameaçado de todas as formas físicas e emocionais todos os dias. Pelas redes sociais, foram mais de 20 mil tipos. Depois que fui declarado inocente, não houve a mesma repercussão da inocência como a acusação. Muitos ainda ameaçam, mas com uma intensidade menor. Posso dizer que 99% das ameaças cessaram, e tem muitas pessoas enviadas pelo Espírito Santo que me defendem.

Humanamente é provável que uma situação como essa desperte sentimentos ruins como ódio e vingança. Já foi possível perdoar à Bianca?

O perdão é uma atitude, e precisamos perdoar para nos libertar. Perdoar não é esquecer, mas se lembrar da situação e não sentir mais dor. Não é deixar de lado o que as pessoas fizeram e viver como se nada tivesse acontecido, porque senão estaremos incentivando-as a repetirem o mesmo mal. Eu perdoei à minha ex-esposa. Foi um choque para mim saber que semanas após o divórcio ela já tinha se casado com outra pessoa. Mas isso ajudou o meu coração a entender que ela já tinha ido. Existem pessoas que foram perdoadas, mas responderão judicialmente porque cometeram crimes com relação a mim. Mas olho para elas e não sinto dor, mesmo diante de toda a maldade que me fizeram. A justiça precisa ser feita para que a maldade não perpetue.

Como foi seu retorno aos púlpitos? E a receptividade da igreja?

Felipe Heiderich: entrevista exclusiva

Meu retorno à Igreja ainda está sendo bem cauteloso. A proporção da verdade ainda não chegou nem a um milésimo do que foi a proporção da mentira, mas está sendo especial. A recepção das igrejas tem movido o meu coração em gratidão. Ao contrário do que imaginei, quando pisei na igreja pela primeira vez após um tempo afastado, fui tratado com carinho. As pessoas me abraçaram, se colocaram no meu lugar. Se a minha tribulação fez com que a fé de alguém fosse exercitada, já valeu a pena. Que o Espírito Santo sopre a verdade por todas as nações, pois a acusação que sofri foi horrenda e inominável. Espero que em breve eu possa estar em todos os lugares falando do Evangelho, sem teologias tendenciosas, mas falando do que a Bíblia me mostra.

Você escreveu em suas redes sociais que “as pessoas mais fortes têm a alma marcada por cicatrizes”. Como estão as suas cicatrizes?

As pessoas mais fortes são marcadas por cicatrizes, que são reflexos de machucados que sararam. Muitas das minhas já sararam, mas existem algumas mais profundas, como “confiança”, que ainda doem. Neste momento não consigo me imaginar em um novo relacionamento, porque é muito difícil para mim confiar em alguém. Existem cicatrizes mais profundas como: “Estou com saudades de pessoas com quem não posso mais ter contato”. Sei que Deus não deixa nenhuma cicatriz podre e vazia. Então, à medida que fortaleço meu espírito, elas vão sendo saradas.

Após sua absolvição pela Justiça, muitos internautas pediram a prisão de Bianca Toledo. Como você reagiu a essa indignação das pessoas?

Ela me causou mal, passei por torturas, privações, meus bens foram tirados de mim, mas é um alívio saber que aos olhos da Justiça também sou inocente. Infelizmente no Brasil se pode mentir diante de um tribunal, sem precisar de apresentar provas, levar aquela pessoa para a cadeia, e depois disso tudo ser condenado por denunciação caluniosa. Quando vejo a indignação das pessoas exigindo que ela seja responsabilizada, sinto a mão de Deus me protegendo e dizendo: “Filho, não se preocupe que eu vou cuidar de tudo”. Enquanto Deus corrigir as pessoas quando estiverem vivas, elas terão oportunidade de se arrepender, pois na eternidade a tristeza será maior, e não haverá segunda instância.

Qual a maior lição que aprendeu dessa experiência?

Foi sobreviver ao silêncio de Deus e saber que o fato de Ele não nos responder não significa que não está conosco ou que não nos ame. O Senhor tem formas muito peculiares de cuidar de nós. Vivemos numa sociedade imediatista, e muitas vezes queremos tudo para ontem, mas com Deus não é assim. Sobreviver a esse período e aprender com ele me tornou uma pessoa mais paciente, longânime e capaz de continuar crendo nEle mesmo em meio ao silêncio absurdo que ainda faz. Também me tornei mais cauteloso. Antes, qualquer pessoa tinha acesso à minha vida, achava que todos eram bons e tinham um bom coração, mas entendo que nem todos são assim. Existem pessoas ruins porque são ruins, influenciadas por espíritos ruins. Jesus tem acesso a elas, mas eu não preciso me abrir com elas e posso me resguardar para proteção.

Por tudo o que viveu, conhecendo a Bíblia, qual conselho daria à juventude diante da perversidade do mundo que busca destruir a família instituída por Deus?

Se hoje estou em pé, foi porque mantive minha fé em Deus. Durante o tempo em que estive no hospício e na cadeia, não tive acesso à Bíblia. E uma das coisas que me permitiram não enlouquecer foi ficar citando os textos bíblicos. Você pode não saber por que está estudando hoje, pode não ter ideia de como aplicá-los, mas a vida nos reserva grandes desafios e oportunidades. Tudo o que você aprende na Bíblia em algum momento será útil. Quando me vi na situação de Jó, as orações e indagações que fez, a forma como foi tratado, isso me deu um alento e fez muito sentido no meu coração. A Bíblia é a única forma que temos de nos mantermos fiel a Deus. A Igreja não tem que sair lutando, brigando e defendendo seus ideais, mas amar as pessoas. Ela só terá relevância na terra quando der a outra face, quando caminhar segundo a Bíblia, quando vir pessoas maldizendo-a e ela oferecer a mão, o perdão e a graça.

Quais são seus projetos pessoais e como ministro do Evangelho?

Sempre vivi para a Igreja, fui criado para servi-la. Meu coração sempre viveu para o Evangelho. A reunião de pastores com abaixo-assinado pedindo que eu renunciasse à Igreja não tem valor para mim. Falar e contar esse testemunho nesse período é algo temporário, pois não nasci para falar de mim, mas de coisas da Bíblia.
Sei que as pessoas precisam ser fortalecidas, por isso tenho pregado para os que estão doentes na alma, decepcionadas na Igreja e desviadas de Deus. Além de voltar com plenitude aos altares, estou terminando de escrever uns livros. Em um deles, vou narrar tudo o que vivi, abordando como lidar com a depressão, a iminência da morte, decepções, o silêncio de Deus e os questionamentos da fé. São projetos que estão caminhando.

E quais são seus sonhos?

Se na minha lápide estiver escrito IRTD (íntegro, reto, temente a Deus e que se desvia do mal), que são elogios que Deus fez a Jó, eu terei cumprido a minha missão. Esse é o meu objetivo de vida. Ainda sonho em constituir uma família, ter filhos. Sofri um trauma muito grande, então preciso curar meu coração primeiro. Sonho em ter uma restauração completa, não só para viver para o Evangelho, mas para a minha família também, crescendo juntos nos caminhos do Senhor. Tenho também um sonho bobo: sempre fui uma pessoa muito alegre e desde que tudo isso aconteceu ainda não consegui dar uma gargalhada. Pode parecer besteira, mas ainda anseio um dia dar uma gargalhada daquelas de doer o abdômen.

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