22.1 C
Vitória
sexta-feira, 19 abril 2024

Fé em ação

O ministério de visitação e cuidado com enfermos é um exercício do amor cristão. Um amor capaz de superar barreiras e ajudar a cumprir o grande mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo

Como verdadeiros anjos enviados pelo Senhor Deus, alguns cristãos se dedicam a um tipo de atividade que, embora informal e voluntária, constitui-se em um verdadeiro (e difícil) ministério: a visitação a pessoas doentes, seja em hospitais e clínicas, seja em seus lares. Com tranquilidade, dedicação e sabedoria, eles ajudam os que sofrem a encontrar conforto em meio a momentos de muita dificuldade e dor.

Fé em açãoUm dos primeiros textos que servem como base para a meditação sobre a necessidade de cuidar dos doentes e enfermos é o que está em Lucas 10.30-35. Nele, um sacerdote e um levita, homens tidos em alta consideração na sociedade judaica e comissionados para estender as mãos aos necessitados, passam ao largo de outro homem, machucado e caído no chão. Esse homem era também um judeu, que havia sido assaltado, despojado, ferido pelos ladrões e abandonado inerte.

Depois que os dois se afastam, deixando a vítima entregue à própria sorte, surge o samaritano. Ele, que por certo estava indo cumprir algum compromisso, e cujo povo vivia em discórdia com os judeus, comove-se e vai verificar o que acontecera com o homem ensanguentado. A partir daí, constatamos uma sequência de atitudes que demonstram a misericórdia de alguém que se colocou no lugar do outro e dele se compadeceu.
O bom samaritano serve de inspiração para muitos que hoje cuidam dos doentes.

Amor ao próximo

Quando contou a parábola do bom samaritano, Jesus estava respondendo ao questionamento de um doutor da lei judaica, que havia perguntado o que devia fazer para herdar o céu. Jesus indagou-lhe o que estava escrito. O homem então respondeu que deveria amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Jesus usa a parábola para responder quem seria o “próximo”. Ao terminar a narrativa, Ele novamente questiona: quem é o próximo? A resposta do doutor da lei: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Jesus então ordena: “Vai, faze da mesma maneira”.

- Continua após a publicidade -

Fé em açãoA essa ordem têm obedecido muitos evangélicos capixabas, seja em grupo ou isoladamente. Cenira Copertino e o marido, Santinho Copertino, ambos com 76 anos, estão engajados há quatro anos no grupo de visitação a enfermos que todas as semanas se reúne na Primeira Igreja Batista da Praia da Costa. Ela conta que é preciso estar disponível para o cumprimento das tarefas nos grupos que visitam enfermos. “Às segundas-feiras nem saio antes de casa. É um dia em que me dedico à oração e ao preparo para, no final do dia, sair para a visitação”, explica.

Cenira recebe as solicitações de visita, organiza os grupos e divide as equipes para irem até as casas dos enfermos. A igreja também disponibiliza os pastores e ajuda na resolução de questões práticas. Além da preparação espiritual, segundo ela, é preciso pensar na logística da visitação. O grande grupo reúne cerca de 30 pessoas por semana; os pequenos grupos, subdivididos, geralmente não têm mais do que seis pessoas. “É algo que amamos fazer. Quando chegamos, a Palavra é proclamada e o doente com sua família ficam felizes, pedem para que voltemos, é muito gratificante. É uma alegria”, disse, reforçando que há aqueles “irmãos enfermos física e espiritualmente, mas que com a visita são animados e ficam mais corajosos, mais firmes na fé”.

Talentos usados para servir ao próximo

No cotidiano do trabalho de visitação a enfermos, seja nas casas ou nos hospitais, cada um utiliza os talentos que possui.  Alguns fazem a meditação na Palavra, cantam, outros ainda tocam instrumentos, como violão, violino ou gaita. Nesse serviço, diferenças entre denominações e visões se diluem na missão maior de aliviar o sofrimento do próximo.

A pastora e capelã Maria Luíza Rückert assumiu o desafio de cuidar de pessoas doentes desde sua preparação na faculdade. Assim que se formou, ela fez especialização em Clínica Pastoral no hospital da Universidade de Minessota, em Minneapolis, nos Estados Unidos. Há 18 anos, está à frente da Capelania no Hospital Evangélico de Vila Velha.

Dentre suas atribuições, Maria Luíza também é responsável pelo treinamento e acolhimento da equipe que atua auxiliando o serviço de capelania do hospital. Em seu trabalho, conta com a auxiliar da Capelania Cleusimar da Cruz Moreira, que é da Casa de Oração em Novo México, que contribui com o ministério da pastora por meio da música.

Cleusimar utiliza um violão e sua voz, sua disposição e alegria nos momentos de louvor com os funcionários, nos cultos na capela, nas enfermarias, salas de espera e quartos. Desde maio de 2009, o Hospital Evangélico também conta com a presença periódica do pastor Arildo Almeida de Oliveira, da Igreja Presbiteriana do Brasil, que auxilia nas visitações e devocionais. “Trabalho muito entre os funcionários e os voluntários visitadores um ponto importante, que é o empenho para ser uma carta viva do amor de Deus junto ao paciente, familiares, funcionários. Depois, trabalho a empatia, a necessidade de aprender a se colocar no lugar do paciente e de sua família, instigo o calor humano, a compreensão, o respeito. No caso do paciente, nós oferecemos a visita, não impomos nada, para deixá-lo totalmente à vontade”, explicou Maria Luíza, que se tornou uma referência dentro do Estado do Espírito Santo para quem trabalha junto de doentes.

O Hospital Evangélico conta com uma equipe de 130 visitadores evangélicos, das mais variadas denominações. Existe também, segundo a pastora, um grupo bastante comprometido e fiel da Pastoral da Saúde, oriundo da Igreja Católica, que atua há cerca de 30 anos nas dependências da instituição hospitalar.

No Evangélico, assim como no Hospital Metropolitano, os visitadores são direcionados para os quartos onde as visitas foram solicitadas, a equipe é orientada e tudo sempre acontece tranquilamente e dentro da ordem, pois existem quartos e pessoas que não podem receber visitas, por restrições médicas ou outras. “O paciente é o anfitrião do quarto, esteja ele internado pelo Sistema Único de Saúde, por plano de saúde ou particular”, reforçou a pastora acrescentando: “digo que é importante observar quando o momento está propício e só aí oferecer auxílio por meio da oração”.

Pré-requisitos

O que é preciso fazer antes de trabalhar com visitação? A pastora Maria Luíza aconselha que a igreja ou a pessoa que desejam visitar doentes e seus familiares mantenham contato prévio com o serviço de capelania ou com o departamento de serviço social, para conhecer o trâmite da visitação.

Maria Luíza diz que o visitador precisa estar “cheio do amor de Deus para transbordar e ser capaz de consolar com a mesma consolação com que fomos consolados por Cristo” e cita como fonte de inspiração o texto de 2 Cor 1.3-11.

A equipe de Assistência Social do Hospital Metropolitano também instrui quem deseja visitar os pacientes, salientando que é importante manter a constância e a perseverança, dando continuidade ao trabalho.

Fé em açãoFoi esse chamado à responsabilidade e compromisso que marcou a missionária Joyce, da AD de Planalto Serrano e que selou seu compromisso com o ministério: “Fiquei muito impressionada quando a assistente social do Metropolitano me pediu para começar o trabalho e ser persistente, porque havia pessoas que permaneceriam ali no hospital por meses e que se sentiriam tristes se eu parasse. Uma vez por semana, faça chuva ou sol, eu estou lá fazendo visitação”.

Antes de começar o trabalho, Joyce teve o filho Josué internado com pneumonia por nove dias e, durante esse tempo, testemunhou muitas cenas de desespero de outras mães.
Foi então que conheceu a mãe de um garotinho que possuía uma doença grave e estava em estado terminal. “Sempre que o menino dormia um pouco, essa mãe vinha me procurar para conversar e desabafar, pedir oração… Josué sarou, fomos para casa.
Desde então, fui procurar a assistente social e não parei mais”.

Reflexo de Cristo

Todas as palavras de Jesus nos Evangelhos e as cartas são ensinamentos sobre amor ao próximo e a necessidade de que carreguemos os fardos uns dos outros. A administradora do Albergue Martim Lutero, em Vitória, Giana de Caio, lembra que no ministério de Jesus havia muita preocupação com o cuidado e a cura dos enfermos.

O albergue que ela dirige acolhe doentes do interior do Estado em tratamento na capital e também seus acompanhantes, oferecendo estadia e sustento, além de assistência psicológica e espiritual. Por ano, mais de duas mil pessoas são assistidas pela instituição. O único pré-requisito para ficar albergado é estar em tratamento médico continuado sem necessidade de hospitalização.

Para ela e para o pastor responsável pelo atendimento espiritual no albergue, João Paulo Auler, o ministério de cuidado e visitação de enfermos exige sensibilidade com a necessidade do outro. É preciso ser coadjuvante na história, pensar que existe alguém que precisa muito mais. Entender e saber o limite da outra pessoa se preocupando com ela.

E, como finaliza a administradora do Albergue Martim Lutero: “Ser cristão não é só ficar sentado no banco da igreja, é fazer a nossa parte. É fazer o bem para outras pessoas de coração, sem esperar retorno, troca ou agradecimento. É fazer o bem com amor, como forma de agradecer tudo o que Deus tem feito por nós, sem que nem mesmo mereçamos”.

A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

- Publicidade -

Matérias relacionadas

Publicidade

Comunhão Digital

Publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

VIDA E FAMÍLIA

- Publicidade -