O levantamento mostra que há seis igrejas para cada escola nas comunidades brasileiras, e para cada hospital 18,2 templos
Por Patricia Scott
As favelas e comunidades brasileiras possuem mais estabelecimentos religiosos do que instituições de ensino e saúde somadas. Essa constatação faz parte dos dados divulgados no Censo Demográfico 2022: Favelas e Comunidades Urbanas, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicado na última sexta-feira (8).
De acordo com o levantamento, das 958.251 unidades existentes nas favelas, 50.934 são igrejas ou templos religiosos, enquanto o número de escolas é bem menor: apenas 7.896. As unidades de saúde, como hospitais, postos e clínicas, somam 2.792.
A disparidade é ainda mais acentuada quando se analisa a proporção entre esses estabelecimentos. Para cada hospital nas favelas, há 18,2 templos ou igrejas. Já para cada escola, existem 6,5 estabelecimentos religiosos.
Esse padrão reflete uma tendência observada em todo o Brasil. Segundo os dados do Censo 2022, o número de igrejas e templos (579,7 mil) supera tanto o de instituições educacionais (264,4 mil) quanto o de unidades de saúde (247,7 mil).
O elevado número de igrejas nas favelas e comunidades urbanas evidencia o papel central das instituições religiosas em áreas carentes, muitas vezes ocupando espaços deixados em branco pelo poder público na oferta de serviços essenciais. Embora as igrejas sejam, primeiramente, centros de apoio espiritual, elas também desempenham funções de suporte social, atendendo as necessidades da população dessas regiões.
Atualmente, o Brasil conta com 12.348 favelas e comunidades urbanas, onde vivem cerca de 16,4 milhões de pessoas. Três estados abrigam quase metade das comunidades (46,1%): São Paulo (3.123), Rio de Janeiro (1.724) e Pernambuco (849).
Esse número representa um crescimento expressivo em relação a 2010, quando o país tinha 6.329 favelas e 11,4 milhões de habitantes — cerca de 6% da população na época. O IBGE atribui esse aumento à melhoria no processo de recenseamento, que permitiu uma identificação mais precisa das comunidades urbanas.