Esse tipo de atitude, conhecida como sharenting, parte de uma tendência crescente e que pode ter consequências indesejadas
Por Victor Rodrigues
Muitos pais e mães expõem indevidamente informações pessoais de seus filhos menores em redes sociais, o que pode colocá-los em situação de vulnerabilidade.
Esse tipo de atitude, conhecida como sharenting – termo em inglês que combina as palavras share (compartilhar) e parenting (paternidade) – parte de uma tendência crescente e que pode ter consequências indesejadas.
A menina Alice de, 5 anos, ama tirar fotos e vídeos. Ela tem um perfil no Instagram administrado pela mãe, a empresária do setor de alimentos Tainara Paradelas. A mãe cuida com atenção do perfil, feito apenas para registrar os momentos da infância da garotinha.
“O perfil da Alice foi feito para compartilhar memórias e coisas engraçadas com amigos íntimos e familiares”, conta a mãe, que usa critérios de segurança no perfil da pequena descrevendo que o perfil da menor é “trancado” e apenas pessoas próximas tem acesso.
“Eu não fico fazendo conteúdo voltado para a rede. Eu tiro fotos e gravo vídeos de momentos descontraídos e felizes para eu ter guardado, postar é uma consequência. Alice é uma criança animada, ama foto e vídeos e, se algum dia, eu pedir para tirar uma foto e ela não quiser, eu não forço. Mas nunca pedi ela para tirar uma foto ou fazer um vídeo para postar no Instagram”, complementa Tainara.
Perigos e impactos
Para a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta para os perigos e impactos de longo prazo desse hábito na vida dos menores.
“A criança e o adolescente não devem ter vida pública nas redes sociais. Não sabemos quem está do outro lado da tela. O conteúdo compartilhado publicamente, sem critérios de segurança e privacidade, pode ser distorcido e adulterado por predadores em crimes de violência e abusos nas redes internacionais de pedofilia ou pornografia, por exemplo”, explica a coordenadora do Grupo de Saúde Digital da SBP, Evelyn Eisenstein.
Segundo o coordenador do Grupo de Trabalho de Saúde Mental da SBP, o médico Roberto Santoro, o sharenting traz perigos objetivos e subjetivos ao desenvolvimento da criança.
“A vida da criança não pertence aos pais. Eles são promotores do desenvolvimento da criança e do adolescente e têm que zelar por esse desenvolvimento, para que ocorra de uma maneira coerente e equilibrada, rumo a uma idade adulta em que a pessoa consiga se realizar plenamente de acordo com os seus potenciais”, descreve o coordenador.
Mais acesso a informação
Para atualizar pediatras, pais e educadores sobre a influência das tecnologias de informação e comunicação (TICs), redes sociais e internet nas questões de saúde e de comportamento das crianças e adolescentes, a SBP publicou em 2021 o “Guia Prático de Atualização SemAbusos MaisSaúde”.
O material online e gratuito recomenda aos médicos como avaliar na história e no exame, durante a consulta, casos suspeitos de violência ou abusos offline ou online; além de orientar os pais sobre alternativas seguras, educativas e saudáveis de atividades para crianças e adolescentes.
*Com informações de Ludmilla Souza da Agência Brasil.