Detenção dos líderes religiosos ligados à Igreja Zion revela intensificação do controle religioso pelo governo chinês; políticos e comunidade cristã global protestam
Por Patricia Scott
Os Estados Unidos e organizações internacionais de direitos humanos reagiram com preocupação à prisão de 30 líderes cristãos na China, vinculados à Igreja Zion — uma das maiores redes de igrejas domésticas do país —, congregações não registradas junto ao governo. As detenções ocorreram entre os dias 9 e 11 de outubro, em operações simultâneas realizadas durante a madrugada em diversas cidades.
Entre os detidos está o pastor Jin Mingri, fundador da Igreja Zion, preso em sua residência após uma operação com a presença de dez policiais. Diversos outros pastores e líderes foram levados sob acusação de “uso ilegal de informações da internet”, uma possível referência ao novo “Código de Conduta Online para Profissionais Religiosos”, em vigor desde setembro de 2025.
Até esta segunda-feira (13), 16 detidos foram sido liberados, segundo a Missão Portas Abertas. No entanto, o paradeiro e a situação legal dos demais continuam indefinidos. Algumas famílias relataram ter recebido notificações oficiais de detenção criminal emitidas pela Delegacia de Yinhai, na cidade de Beihai, província de Guangxi.

O Partido Comunista Chinês (PCC) exige que todas as manifestações religiosas estejam registradas e submetidas à autoridade estatal. Igrejas que funcionam fora desse sistema, conhecidas como igrejas domésticas, são consideradas ilegais.
A repressão surge em meio a um período de tensões crescentes entre EUA e China, com tensões comerciais e dúvidas sobre a realização da cúpula entre o presidente Donald Trump e Xi Jinping, prevista para o final deste mês na Coreia do Sul. O presidente da China também reprimiu ainda mais a liberdade religiosa em Pequim, especialmente contra cristãos e muçulmanos.
No entanto, tem havido um movimento crescente de igrejas domésticas não registradas no país. Entre elas está a Igreja Zion, que foi fundada por Jin Mingri em 2007 com 20 membros. Com o tempo, a congregação cresceu para aproximadamente 10 mil fiéis em 40 cidades, tornando-se uma das maiores redes de igrejas domésticas do país.
Perseguição religiosa
Segundo a ChinaAid, esta é a mais ampla ofensiva contra cristãos em mais de 40 anos, comparável à perseguição vivida durante os anos posteriores à Revolução Cultural. Bob Fu, fundador da organização, afirmou que a ação “ressoa os períodos mais sombrios da história recente da igreja chinesa”.
Em comunicado, a Igreja Zion declarou: “Essa perseguição sistemática não é apenas uma afronta à Igreja de Deus, mas também um desafio público à comunidade internacional.”
O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, pediu a libertação dos líderes e afirmou que “essa repressão demonstra ainda mais como o PCC exerce hostilidade contra os cristãos que rejeitam a interferência do Partido em sua fé e optam por adorar em igrejas domésticas não registradas”. O ex-vice-presidente Mike Pence e o ex-secretário de Estado Mike Pompeo também emitiram declarações condenando as prisões.
O governo chinês, por sua vez, afirmou agir conforme a lei e diz proteger a liberdade religiosa, embora rejeite qualquer interferência externa. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, disse não ter informações sobre os casos e criticou o posicionamento dos EUA, classificando-o como ingerência em assuntos internos.
Apesar dos riscos, o pastor Jin Mingri teria demonstrado preparo para enfrentar a perseguição. Em uma conversa recente com um colega nos EUA, declarou: “Aleluia! Pois uma nova onda de avivamento virá então!”
A prisão de Jin frustrou as esperanças de sua família, separada há mais de sete anos. Sua esposa, Liu Chunli, que vive com os filhos nos EUA, desabafou em uma carta pública: “Meu coração está cheio de choque, tristeza, preocupação e ira justa. Jin fez o que qualquer pastor fiel faria. Ele é inocente!”
Igrejas domésticas
Nos últimos meses, igrejas domésticas em várias regiões da China têm sido alvo de batidas policiais, prisões e interrogatórios. Embora essas igrejas estejam há anos na mira do Estado, a nova onda repressiva tem características mais coordenadas e severas.
A Igreja Zion se destacou não apenas pelo crescimento numérico, mas também por seu envolvimento social, educação cristã, ministérios familiares e forte presença on-line — justamente o que agora pode estar motivando as acusações relacionadas à internet.
O economista cristão Zhao Xiao, em carta publicada on-line, expressou solidariedade e esperança: “Em nossos corações há medo, raiva, lágrimas e confusão. Esta noite escura parece especialmente longa. Mas também sabemos que a noite não é eterna. Como dizem as Escrituras: ‘A noite está quase acabando; o dia logo vem’ (Romanos 13:12).”
Realidade chinesa
A China figura, atualmente, na 15ª posição da Lista Mundial da Perseguição 2025, da Missão Portas Abertas, que classifica os países mais hostis ao cristianismo. A entidade lançou uma campanha de apoio à capacitação de jovens líderes cristãos chineses como resposta à crescente pressão do regime.
A prática do cristianismo no país varia conforme a região, mas em todas elas está sujeita ao rígido controle do Partido Comunista Chinês (PCC). Nos últimos anos, o regime tem intensificado seus esforços para moldar qualquer expressão religiosa aos princípios do comunismo estatal. Qualquer comunidade ou liderança que atue fora desse padrão corre o risco de enfrentar severas sanções.
As chamadas igrejas domésticas são consideradas ilegais e vêm sendo cada vez mais pressionadas. Mesmo aquelas que antes operavam com relativa tolerância agora enfrentam o fechamento ou a fusão forçada com igrejas maiores, mais fáceis de monitorar.
As igrejas oficialmente reconhecidas pelo Estado também não escapam da interferência ideológica. Elas são rigidamente regulamentadas para garantir que seus ensinamentos e atividades estejam alinhados com os interesses do Partido. Além disso, há medidas que proíbem a participação de menores de 18 anos em cultos ou atividades religiosas, como forma de limitar a transmissão da fé às novas gerações.
Pastores e líderes religiosos vivem sob constante vigilância, especialmente aqueles que demonstram influência significativa ou resistência ao controle estatal. Em muitas áreas do país, especialmente onde o islamismo ou o budismo tibetano predominam, cristãos convertidos enfrentam não apenas o controle do Estado, mas também a pressão social, discriminação e até violência por parte de suas famílias ou comunidades.
A perseguição religiosa na China é, portanto, sistemática e multifacetada, envolvendo tanto repressão institucional quanto pressões culturais, com o objetivo de manter o cristianismo — e qualquer outra fé — sob o domínio total do Estado. No entanto, enquanto o governo intensifica sua vigilância e repressão, igrejas domésticas continuam se reunindo em segredo, apoiando-se mutuamente em oração e resistência silenciosa — uma fé que insiste em florescer mesmo sob as sombras da perseguição. Com informações Portas Abertas e BBC News
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