Conheça o testemunho do pastor Fábio Santos Bahiense Moreira, um homem de fé, atuante, com a vida em dia e que por pouco não se matou
Por Lilia Barros
O suicídio não escolhe gênero, posição social, religião ou pessoas que estejam ou não rodeadas de amigos e familiares. A ideação suicida está na ponta final do processo doloroso de uma doença que ataca a emoção, a mente e o corpo da vítima. Muitas vezes, chega silenciosamente nas famílias consideradas felizes e bem estabelecidas, chega nos profissionais, nos acadêmicos e até nas lideranças cristãs.
Confira o depoimento do pastor batista Fábio Santos Bahiense Moreira, um homem de fé, atuante, com a vida em dia e que por pouco não se matou.

“Depois de trabalhar, pastorear e estudar muitos anos no Brasil, fui para os Estados Unidos, em 1997. Lá, o ritmo aumentou muito: trabalho, graduações, doutorados, ministério na igreja, além de ter que aprender um novo idioma. Tudo isso me esgotou sem que eu percebesse. Decidi abrir mão do meu trabalho remunerado na igreja e me dediquei à vida acadêmica. Houve um esfriamento da minha parte. Fiquei vulnerável, me afastei das pessoas, queria ficar sozinho. Um certo dia, senti dores no corpo, ansiedade, coração disparado, dor de cabeça e chorava por qualquer motivo e a qualquer hora, até que senti uma dor forte no peito e o braço dormente como se fosse ter um ataque cardíaco.
Fui socorrido e diagnosticado com depressão e síndrome do pânico, desencadeados pelo excesso de atividades: a síndrome de burnout. Minha vida mudou de ponta cabeça. Fiquei tão esgotado que passei a enxergar as pessoas como um problema e o trabalho como um peso na minha vida. Meu quadro depressivo era ainda muito mais forte no período da manhã, até porque eu tinha insônia.
Passei a contemplar a possibilidade de suicídio. Sim, eu quis morrer! E só não me matei porque minha esposa teria que cuidar sozinha de duas crianças pequenas, o que seria cruel de minha parte. Eu não tinha dúvidas da minha salvação, mas queria morrer para aliviar meu sofrimento. Eu sabia que ninguém poderia me arrancar da mão do meu Senhor Jesus, nem me separar do amor de Deus, então eu entendi que estar na presença de Deus seria muito melhor do que aguentar uma dor profunda na alma. Eu pensei: se tenho o céu me aguardando, porque não ir logo para lá, por que não? Se eu acabar comigo agora não vou ser um peso, porque eu ouvi muitos que me machucaram e queriam saber se eu não era feliz com Jesus, isso cortava a minha alma. É por isso que eu digo que basta a presença de alguém do nosso lado, isso é suficiente, não precisa falar nada.
Tive que vencer a vergonha de parecer um pastor fraco, um homem derrotado, e pedi ajuda, gritei por socorro, assim como o salmista Davi tantas vezes falou sobre si mesmo. Tive medo de nunca mais ser um homem produtivo, que sustenta a família, porque quando estive no fundo do poço eu não conseguia sequer escrever meu nome completo. Se alguém pedisse para eu abrir a Bíblia em João 3:16, que é o versículo mais conhecido entre cristãos, eu perguntaria se o texto ficava no Antigo ou no Novo Testamento. Minha mente adoeceu do ponto de vista biológico, meu equilíbrio hormonal estava todo bagunçado. Tive algumas restrições, como dirigir, eu não conseguia mais fazer isso, dependia das pessoas.
Muitos crentes e pastores também chegam a tirar suas vidas porque estão doentes, em estado de aflição terrível. O inimigo de nossas almas coloca pensamentos diabólicos na nossa mente, mas somos lembrados de que Jesus veio para dar vida. Isso chegou como uma pitadinha de esperança no meu pensamento. Minha irmã, que também já havia passado por essa agonia insuportável, me dizia repetidamente: vai passar, irmão.
Fui obrigado a voltar para o Brasil, para andar na beira da praia… Minha família entendeu, a igreja entendeu, a universidade entendeu. Com esse apoio e um tratamento com

medicação eu fui me recuperando aos poucos. Aquela dor, angústia e desesperança que tomavam conta de mim o dia inteiro foram ganhando um intervalo de tempo no dia. Passou a ser três vezes por dia, depois, dia sim, dia não, depois três vezes na semana, até que Deus me colocou de pé novamente, com ajuda profissional, inclusive de psiquiatra e terapeuta não crentes, porque isso é uma questão de saúde.
A igreja me amou e cuidou de mim e da minha família. As pessoas acham que tomar medicamento é dizer que Deus não pode me curar, que é sinal de fraqueza, mas Deus usou o medicamento, assim como usou meus amigos e familiares. Foram dois anos de luta, mas fui vendo que Deus é um Deus que cura, que te coloca de pé, o Deus da segunda chance, de todas as chances! Sim, eu passei por um esvaziamento espiritual mesmo estando dentro de um dos maiores seminários do mundo, porque negligenciei o devocional pessoal, o estar na igreja, e isso teve grande impacto na minha vida.
Há diferentes níveis de depressão e o meu era bem grave, ao ponto de agora eu não me lembrar de dois anos da minha vida, porque o sofrimento bloqueou minha mente. Eu vejo fotos, mas não me lembro. Voltei para os Estados Unidos e estou atuando somente na área acadêmica. Quando ouço alguém falar que está se sentindo para baixo, eu digo para tomar cuidado e procurar alguém, não se isolar. Conto minha história e a série de tabus dentro de mim, do sentimento de fracasso por ser crente e querer morrer, mas lembro que em Eclesiastes 3:8 está escrito que há ‘tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz’, ou seja, tudo passa, até a vontade de tirar a própria vida. Esse momento vai passar, eu sobrevivi para dizer que há esperança.”