Dizer “a resposta está dentro de você” cria a armadilha de que, se você não encontrar a resposta, deve estar com defeito, afirma a autora Nora McInerny, de “Tudo bem rir (chorar é legal também)”
Por Lilia Barros
O livro é sobre existir nas contradições da vida moderna. “Todas as pessoas na minha vida – exceto as poucas que não têm redes sociais – estão estrelando, produzindo e dirigindo seu próprio reality show para o consumo de principalmente estranhos, inclusive eu. Que mundo estranho.” afirma a autora do livro Nora
Nora McInerny quer que seu trabalho possa diminuir as cobranças que pessoas se colocam. Segundo ela, existe uma pressão intensa para alcançar e realizar diante de todo o sofrimento e luta da vida moderna.
Em entrevista a CNN Brasil, a autora falou sobre como o perfeccionismo se relaciona com esse tipo de otimismo.
“Você não precisa fazer nada além de ser uma pessoa decente e sobreviver. Todo o meu trabalho tem sido uma espécie de pressão contra o complexo industrial otimista. A corrente que vai desde crianças superdotadas para mulheres profissionais que superaram as expectativas está cheio de perfeccionistas. O que é um perfeccionista se não apenas uma pessoa que odeia a si mesma – que não consegue simplesmente aproveitar o ato de estar vivo?”
“Direi que a maioria na indústria de auto-ajuda são vigaristas que vendem milhões de livros apregoando o sonho de que você também pode fazer o mesmo quando a grande maioria das pessoas não pode. Há algo a ser dito apenas por ser realista.” Dizer ‘a resposta está dentro de você’ cria a armadilha de que, se você não encontrar a resposta, deve estar com defeito.”, afirma.
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Nora destaca que não está falando de profissionais e pesquisadores de saúde mental qualificados. “Se eles disserem para você comer com atenção e sair e olhar para a grama por cinco minutos, faça isso. Sentar aqui, acariciar meu cachorro e não olhar o celular me ajuda. Tirar meu telefone da minha frente me ajudou, como tenho certeza que ajudaria a maioria de nós.”
Segundo ela, cada geração acredita que nunca foi pior. Mas todo esse pavor e tédio existencial é uma resposta muito normal a um mundo insensível, onde bilionários estão tentando desocupar este planeta através de foguetes e nós estamos lutando por sucatas. “Por que você não ficaria ansioso?”
O conselho que ela dá para as pessoas que lutam contra a maré de um otimismo que parece forçado ou falso é: “Faça o que puder fazer. A necessidade de dar o seu melhor em todas as situações é uma mentira vendida a você por um professor de ginástica, um treinador e o capitalismo. Não, você não deve a tudo 110%. Na verdade, você deve à maioria das coisas 70%, talvez até 60%. O mundo não exige a sua perfeição.”
A segunda coisa é que ninguém é obrigado a ser um livro aberto. Nem todo mundo merece a verdade completa, “mas você precisa encontrar pelo menos uma pessoa para quem possa contar toda a história – uma pessoa que saiba como é isso.”
Este livro é uma coleção de ensaios. Os leitores não vão sair com cinco dicas ou truques. Não há dicas. Não há truques – apenas o negócio muito confuso de tentar ser uma pessoa em um mundo realmente difícil.