A espiritualidade cristã busca por uma existência autêntica, relacionando doutrinas fundamentais com todas as dimensões da existência
Por Tiago Abdalla
Cada época e cada contexto têm as próprias palavras e expressões preferidas. Quando frequentei a universidade, termos como “pluralismo”, “polissemia”, “tolerância” e “espiritualidade” estavam na moda. A última delas há vários anos ultrapassou as fronteiras religiosa e acadêmica e alcançou o interesse público. Espiritualidade soa bem em discursos na mídia ou numa conversa pessoal em uma festa com os colegas de trabalho. Fala-se sobre “espiritualidade no mundo corporativo”, “sustentabilidade e espiritualidade”, “o poder da espiritualidade na hora da morte” e, até mesmo, pasmem: “espiritualidade sem Deus”.
Mas qual é o sentido básico de espiritualidade? E qual é a relevância para aqueles que são seguidores de Cristo Jesus? A espiritualidade tem origem na palavra latina spiritus (“espírito”) e está, portanto, relacionada à dimensão interior da pessoa e suas experiências com a realidade suprema e final. Da perspectiva bíblica, ela não exclui o mundo material, uma vez que a realidade suprema e final, o próprio Deus, criou o mundo e o chamou de “muito bom” (Gn 1.31).
A espiritualidade cristã diz respeito à qualidade de nosso relacionamento com Deus e à aplicação a nossa vida diária daquilo em que cremos e que confessamos. A importância está na busca por aprofundar o relacionamento com o Criador e Redentor da vida. O cristianismo não se resume a um conjunto de ideias, mas envolve a experiência prática da revelação de Deus de um modo que cresçamos na comunhão com ele e no desfrute de sua presença.
Assim, a espiritualidade cristã implica a busca por uma existência autêntica e significativa, relacionando as doutrinas fundamentais do cristianismo com todas as dimensões de nossa experiência. Não queremos ser apenas ouvintes da Palavra, mas praticantes efetivos dela (Tg 1.21-25). E se desejamos ter um quadro concreto e perfeito do que significa a prática da espiritualidade bíblica e autêntica, ninguém melhor do que o próprio Cristo para nos mostrar isso.
Jesus se relacionava com o Pai de um modo tão real e vital quanto o ar que respirava. Muitas vezes, retirava-se para lugares isolados ou permanecia em um local até mais tarde, depois de se despedir da multidão, para investir tempo em comunhão profunda com Deus. Jesus não apenas ensinava sobre oração, ele cultivava uma vida constante de relacionamento com o Pai.
E longe de isolá-lo das pessoas e torná-lo introspectivo, esta comunhão o levava a uma vida de serviço sacrificial e desinteressado àqueles a seu redor. A espiritualidade de Jesus o direcionava aos outros, era “pés no chão”. Ela abrangia todas as esferas da vida e estava ligada a Deus e aos indivíduos de carne e osso a quem ministrava.
Por isso, convido-o a ler com atenção o Evangelho de Marcos e a crescer na compreensão do que significa uma espiritualidade cristã autêntica. Minha oração é que você não apenas defina “espiritualidade”, mas a pratique usando como modelo nosso Senhor Jesus. Assim como minhas filhas nas aulas de balé, que observam os passos e movimentos da professora para dançarem da forma correta e mais natural possível, somos chamados a olhar com atenção para cada movimento de Jesus e crescer em uma experiência cristã cada vez mais profunda e real.
Tiago Abdalla é mestre em Teologia Bíblica pelo Seminário Teológico Servo de Cristo, em Teologia e Exposição do Antigo Testamento pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida, e em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Escreveu o livro A espiritualidade de Jesus obra que integra a Curadoria Sementes, da Editora Mundo Cristão.