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terça-feira, 16 abril 2024

Entrevista com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande

“O melhor dos cenários para 2021 é com vacina”

Por Luciene Araujo

“Vamos andar mais rapidamente que o Brasil. Minha avaliação é essa. Tenho muita expectativa de que o país melhore na área econômica”. Essa foi a declaração feita pelo governador Renato Casagrande, em nossa última edição de 2019, quando o cenário era de bastante otimismo e a gente não imaginava nem de longe o que viria pela frente este ano.

Agora 2020 chega ao fim. Um ano atípico, tomado por uma pandemia global, ainda sem controle, mas que reúne a população do mundo todo na “torcida” pela eficiência das vacinas que despontam. Um cenário repleto de “novos normais” que ficam de herança para 2021 e de perguntas ainda sem respostas; mas também um legado de reflexões que levou a reordenação de valores e prioridades, tanto pessoais quanto àqueles relacionados à coletividade, às políticas públicas.

Em relação ao Executivo estadual, quais os principais desafios para o novo ano? E o que fica de lição? As respostas estão nesta entrevista exclusiva cedida à ES Brasil por Renato Casagrande (PSB), que já havia governado o Espírito Santo entre 2011 e 2014 e retornou ao comando do Executivo estadual em janeiro de 2019. Confira!

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Que resumo o Senhor faz desse ano?

Um ano inesperado, difícil para governar e muito difícil para as pessoas viverem com todas as restrições e protocolos muito diferentes do que vivíamos até fevereiro. Tudo mudou para todo mundo, portanto para todos os governantes também. Certamente o maior desafio foi estruturar um sistema de saúde capaz de atender todas as pessoas que precisam e continuam precisando de um leito hospitalar. E isso nós conseguimos fazer.

O que mais se destacou como impacto da pandemia?

Outro grande desafio foi minorar o sofrimento das pessoas que empobreceram. Infelizmente, nas crises, os ricos ficam ainda mais ricos, porque o capital consegue comprar num custo menor, e os pobres mais pobres. Tivemos que apoiar empreendedores que sofreram muito com a crise e as restrições econômicas. E é preciso destacar que outra luta foi enfrentarmos a radicalização e a politização da pandemia.

Entrevista com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande

O quanto essa perseguição política prejudicou a gestão?

Foi muito desafiador, porque tivemos a politização de todos os temas da pandemia: uso de máscara, medicamentos, abertura de hospital de campanha e agora da vacina. E em meio a essa intolerância e radicalização de polos, qualquer decisão era alvo de muita crítica. Quando decidimos não abrir hospital de campanha, por exemplo, foi uma avalanche de críticas e ameaças, que exigiu muita estrutura psicológica para suportar. Depois as pessoas viram que estávamos certos, que foi muito melhor investir em hospitais próprios do que imprimir um custo altíssimo em uma estrutura temporária.

Foram muitas fake news…

Críticas sempre serão muito bem-vindas, mas ataques de fake news, que me fizeram ir à justiça contra diversas pessoas (e continuarei indo) foram muito desgastantes. Se Deus quiser, a justiça vai continuar combatendo essa prática, mas, as pessoas precisam de responsabilidade na hora de passar pra frente uma notícia. Pense primeiro, confira se aquilo é verdade ou não.

Qual o critério utilizado para não ceder a tanta pressão?

O que nos sustentou, nos garantiu apoio popular, foi o fato de nos orientarmos pelas evidências científicas e manter o diálogo com todos os que queriam dialogar. Isso deu ao governo um apoio maciço. A pandemia se estende para 2021 e vamos manter nossas decisões em evidências científicas, sustentados pela certeza de que a maioria da população no Estado é de pessoas equilibradas e ponderadas. Não vamos deixar de ouvir os polos radicalizados, mas vamos seguir em frente com medidas que possam salvar vidas.

A chegada do Natal preocupa?

Historicamente, esse período é muito alegre, cheia de encontros e festas. É fundamental que a gente compreenda que o número de óbitos e de internações aumentou muito no estado e não temos a vacina ainda. Se não mantivermos os cuidados necessários durante as comemorações de fim de ano e o verão, com responsabilidade e empatia, vamos ter um período de muita tristeza, com a morte de muitas pessoas.

Na prática, o que é um verão com empatia?

Um verão de muita responsabilidade, disciplina. É cada um de nós compreender que, mesmo que o vírus não afete em nada seu organismo, você pode contaminar outra pessoa e essa pessoa ficar internada, até perder a vida. Então, é preciso que nesse verão a gente carregue o espírito natalino de amor, fraternidade, paz e, ao mesmo tempo, de responsabilidade, disciplina. Tem que ser o verão da empatia, de se colocar no lugar do outro.

E qual será a postura do Estado em relação à vacina?

Continuamos com interesse da parceria com o Butantan, para que no futuro, se faltar vacina, o governo estadual possa complementar o Plano Nacional de Imunização (PNI).
Neste momento não será preciso, uma vez que o governo federal tomou a decisão de adquirir de todos os laboratórios, e era isso que estávamos solicitando.

Tivemos um agravante das demandas na área de saúde mental. Como o estado tem se preparado para cobrir essa demanda em 2021?

A pandemia está levando sim a um aumento das doenças mentais e de uso de drogas. Reformamos o hospital estadual de atenção clínica lá em Cariacica, que está agora muito bem estruturado, voltado para o atendimento de doenças mentais. Também firmamos parcerias com os municípios para ampliar o atendimento nesse sentido. E temos o programa Rede Abraço, que acolhe famílias e dependentes químicos. Inauguramos uma nova sede, com mais estrutura, e firmamos parcerias com instituições e sete comunidades terapêuticas que funcionam muito bem.

Muitos procedimentos, como as cirurgias seletivas, foram interrompidos durante a pandemia. Como resolver essa demanda agora?

Nesse momento, estamos conseguindo manter o funcionamento, mas tivemos de paralisar por sete meses as cirurgias eletivas e se o número de internações por Covid-19 continuar subindo como está, vamos precisar interromper novamente. Assim que a pandemia for resolvida com vacina, teremos condições de realizar grandes mutirões e colocar essas estruturas à disposição da sociedade para a gente recuperar o tempo que estamos perdendo e ainda o acúmulo do que tínhamos antes da pandemia. Hoje temos uma estrutura hospitalar robusta no estado, abrimos mais de 1.500 leitos, montamos um sistema eficiente de credenciamento de instituições privadas e filantrópicas, estamos investindo em tecnologia para resolver as demandas da saúde, dar mais dignidade às pessoas que dependem do SUS. Conseguimos ser reconhecidos em 1º lugar da melhor gestão da pandemia, 1º lugar na transparência de dados da Covid de uma forma geral.

Entrevista com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande

Ouvimos muitas reclamações de registros falsos de Covid, sob a acusação de se tratarem de outras doenças.

Casos desse tipo precisam ser denunciados, porque grande parte dos gestores e instituições que gerenciam nossos hospitais são profissionais dedicados, que estão na linha de frente de combate à covid-19, perdendo suas vidas inclusive. Então se tiver alguma coisa desse nível, precisamos que as pessoas passem para nós, e faremos a devida apuração.

Além da saúde, a Educação foi muito afetada com o novo normal.

Não podemos dizer que foi um ano perdido, mas claro que a qualidade é outra, tanto na esfera pública quanto particular. Não tem como achar que em um novo cenário totalmente diferente daquilo que alunos e professores estavam acostumados, haverá o mesmo resultado de aprendizado que estando o aluno todos os dias na sala de aula.

E o que será feito para recuperar essa perda?

Vamos ter muito reforço escolar para os alunos. No ensino médio estamos ofertando o quarto ano para quem não conseguiram se adaptar ao ensino a distância; vamos ampliar a educação de jovens e adultos (EJA); vamos abrir mais 31 escolas em tempo integral. A educação está toda montada para a gente avançar em 2021, recuperando as dificuldades deste ano.

Em meio a tantas demandas na Saúde e na Educação, foi possível avançar?

Entraremos no dia 01 de janeiro de 2021 com 100% dos processos eletrônicos. Acabou a era do papel, que perdurou por tantos séculos. Conseguimos em 2019 ter a melhor gestão fiscal do Brasil e mantivemos essa conquista em 2020.

Também conquistamos a menor taxa de mortalidade infantil do país, o melhor ensino médio é o nosso. O Estado está avançando no processo de convivência com a pandemia. Em nosso primeiro ano de governo, fizemos investimento em infraestrutura maior que no último ano da gestão anterior, e este ano vamos fazer ainda mais, o que já é um diferencial. Conseguimos fazer com que a máquina funcionasse mesmo durante a pandemia. Concluímos a Leitão da Silva, em 2019.

E este ano começamos a obra do Portal do Príncipe; contratamos a obra de ampliação da Terceira Ponte, que está em fase inicial de projeto, mas no início de 2021 começa a obra; estamos concluindo a contratação da obra do viaduto de Carapina, provável que a ordem de serviço seja ainda esse ano; estamos contratando o aquaviário. E estou citando apenas a Região Metropolitana.

Mas em 2019, a expectativa não era para que essas melhorias estivessem mais adiantadas ao final deste ano?

Não, os projetos tiveram andamento. O que a pandemia nos atrasou mesmo foi na área de saúde, porque o planejamento era para que hoje a gente estivesse com as demandas de consulta especializada, exames e cirurgias eletivas já resolvidas. Mas a pandemia nos atropelou na saúde e exigiu foco total. Mas, assim que a vacina vier e resolver a pandemia, a estrutura que temos hoje vai nos permitir resolver esse prejuízo em tempo menor.

Entrevista com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande

Saindo da pandemia, como ficou a agenda do governo nas demais áreas, como a agricultura, por exemplo, eixo estratégico da economia local?

Nosso cronograma de ações não parou e isso será muito importante para a retomada econômica. A agricultura nos traz sempre boas surpresas, porque é muito eficiente aqui no estado. Temos uma produção de café extraordinária, esse ano estamos produzindo 14,5 milhões de sacas de café, nosso principal produto. Mas também estamos avançando muito em outras áreas como pecuária, silvicultura, fruticultura e em atividades diferenciadas como gengibre, em Santa Maria de Jetibá; maçã, em Montanha e outros produtos ligados ao agronegócio.

Em relação ao comércio exterior, o que avançou?

Temos avanços em andamento – o processo de desestatização da Codesa; o projeto do porto da Imetame, em Aracruz; o Porto Central, em Presidente Kennedy – que exigirão uma conectividade mais eficiente com a região central do Brasil, produtora de grãos. Precisamos ampliar a conexão com Minas, Goiás, Mato Grosso e Brasília. Por isso, temos buscado investimentos do governo federal para o Corredor Centro-Leste, a fim de ampliar nossa inserção internacional, tanto para exportar os produtos brasileiros quanto importar produtos do mundo para o Brasil.

O Compete-ES fez com que o Espírito Santo conquistasse reconhecimento nacional como um hub de logística de distribuição, ao atrair grandes empresas como Caloi, Arezzo e Hershey’s. Como está o andamento para melhorias logísticas esperadas há décadas?
Estamos resolvendo a questão portuária, as perspectivas agora são reais, com o Porto da Imetame e o Porto Central, além da desestatização da Codesa.

Estamos com a duplicação da BR-101 em obra, que também é muito importante. Conquistamos o ramal ferroviário de Santa Leopoldina até Anchieta e o projeto com a divisa até o Rio de Janeiro. E temos que avançar na duplicação da BR-262; concluir o contorno do Mestre Álvaro; e conquistar o investimento da ferrovia Centro-Atlântica (FCA),
que abastece e fortalecesse o corredor Centro-Leste. Esse investimento ferroviário, maioritário em Minas Gerais, mas aqui também, vai trazer mais cargas para o Espírito Santo, consolidar o Estado como uma plataforma logística. E esperamos que o Congresso aprove o projeto da BR do Mar, pois incentiva a cabotagem. Nós mandamos um projeto de lei para a Assembleia Legislativa, sugerindo a queda do ICMS de 17% para 12%, para quem opera no estado. Isso vai consolidar uma atividade de comércio exterior e de cabotagem mais forte aqui no estado.

O quanto a bancada tem auxiliado nessa interlocução com o governo?

Muito. A bancada tem sido parceira. A maioria dos parlamentares ajuda nesse trabalho, tem se envolvido em todos os temas de interesse do estado. Sou muito grato à atuação da bancada.

Qual o peso das Parcerias Público Privadas no planejamento de governo?

A meta é avançar com as PPPs em 2021 e para isso estão sendo estudadas diversas iniciativas. Queremos o setor privado mais presente na Cesan, por exemplo. Estamos ampliando a carteira na área de saneamento, que já é um sucesso no ES. Tivemos a parceria com os municípios da Serra e Vila Velha e agora mais recente em Cariacica; e vamos buscar essas PPPs para outras regiões do Estado. Estamos também estudando uma proposta de geração de energia solar para o governo economizar gastos da máquina pública e para a produção de alimentos ao sistema prisional.

Apesar da queda no montante de crimes, vimos o aumento da violência contra mulher e uma atuação bem forte da vice-governadora contra isso. Qual avaliação que o senhor faz do desempenho da Jaqueline frente ao Governo do Estado?

A Jaqueline tem sido parceira em todas as áreas do governo, não apenas em relação às políticas públicas da mulher. Tem representado muito bem o governo em diversas situações, de forma bastante proativa. É muito importante ter uma mulher negra, no centro do poder do Estado do Espirito Santo, com tanta competência. Ela representa junto comigo aquilo que a gente quer de fato para a sociedade capixaba

 

Entrevista com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande

Qual o balanço que faz a segurança pública de forma geral?

Estamos tendo muita dificuldade na segurança pública. Temos um ano em que as pessoas empobreceram mais, e esse empobrecimento gera níveis mais altos de violência.
Um ano em que as crianças e os jovens não estão na escola e em alguns casos se tornam presas fáceis de grupos criminosos, que também passaram a se enfrentar mais porque perderam capital com a saída das pessoas das ruas. E nesse enfretamento dos grupos para ampliarem o domínio sobre as áreas gera violência.

Quando cheguei no governo em 2011, encontrei uma área de segurança totalmente destruída. E em 2014 entreguei totalmente fortalecida. Ao retornar para o governo, em 2019, de novo, encontrei uma segurança destruída. E vamos entregar em 2022 uma estrutura muito mais robusta, com mais tecnologia, maior efetivo, mais equipamentos e armamento. Portanto, com mais capacidade de ação. Em 2021 teremos o retorno do Batalhão de Missões Especiais (BME); mais policiais civis; ainda mais investimento em tecnologia. Teremos uma força de segurança melhor estruturada para enfrentar os grupos
criminosos do Espirito Santo.

Quais os avanços previstos para a área de petróleo e gás?

O primeiro marco regulatório do gás é nosso. Assinamos um contrato com uma empresa dentro das regras do mercado livre de gás. Ou seja, o estado está à frente. Temos certeza que no momento que o gás tiver um preço melhor, receberemos muitos investimentos no Espírito Santo, porque somos o quarto maior produtor de gás do país. A Petrobras tem aberto mão de algumas áreas, como por exemplo no norte do estado, para empresas menores capixabas que tem muito mais interesse em fazer investimentos. E isso é muito bom, porque vai aumentar os investimentos na área de petróleo e gás. Que continuará sendo uma atividade muito importante para nossa economia durante muito tempo.

Qual o pior e o melhor cenário para 2021?

O pior cenário é aquele sem vacina. O melhor cenário para retomar o crescimento da economia depende da vacina, da estabilidade do governo Federal e das relações entre as instituições públicas. A minha expectativa para 2021 é que seja o ano da solução da pandemia de enfrentamento das desigualdades tão grande que vemos desse país.

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