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sexta-feira, 19 abril 2024

Maurício Zágari e a arte de escrever

“Para Deus, perdoar é natural, pois ele transborda em graça, amor e misericórdia. Para nós, é uma luta, vencida com conhecimento bíblico e a negação de si mesmo”

Seu prazer é trabalhar com as palavras e, principalmente, que essas palavras sejam fruto da Palavra de Deus. Maurício Zágari conduz o processo de edição dos livros da Editora Mundo Cristão, acompanhando os autores e transformando o texto bruto em literário. Ele é escritor de diversos livros de conteúdo cristão. O último, “Perdão Total — Um livro para quem não se perdoa e para quem não consegue perdoar”, vendeu os 5 mil exemplares da primeira impressão em menos de um mês. Para o editor, o entrevistado deste mês em Comunhão, essa rápida resposta do público se deve graças ao tema abordado, o que confirma o sofrimento das pessoas por conta da dificuldade em perdoar. A obra vai para sua terceira edição. Membro da Igreja Cristã Nova Vida em Copacabana, Zágari também escreve regularmente em seu blog “Apenas”, onde aborda temas do cotidiano do cristão através da sua vivência diária em contato com os leitores dos seus livros e internautas que acompanham suas redes sociais.

Quais os fundamentos em que o senhor se baseou para escrever “Perdão Total – Um livro para quem não se perdoa e para quem não consegue perdoar”? Foram as próprias experiências?
Experiências pessoais me fizeram começar a observar uma realidade que, infelizmente, ocorre no meio cristão: em nossos dias muitos vivem uma fé que, na prática, aboliu o ato de perdoar. A dura verdade é que quase ninguém tem perdoado como manda a Bíblia, mesmo muitos cristãos. Por quê? Porque fala-se pouco sobre perdão, prega-se pouco sobre perdão, ensina-se pouco sobre perdão. A consequência? Pratica-se pouco o perdão. Ao diagnosticar essa grave doença, mergulhei nas Escrituras para buscar o máximo de informações sobre o assunto. Com toda a pesquisa pronta, me dediquei a redigir um texto leve, em linguagem bem popular e acessível, para que aquelas verdades teológicas e bíblicas tão urgentes pudessem ser absorvidas por todo tipo de leitor, de todos perfis, classes sociais, idades e denominações.

Qual o caminho para o perdão total?
Há diferentes caminhos, dependendo de quem se precise perdoar. Há quem tenha de perdoar alguém que o feriu; há quem necessite perdoar a si mesmo por erros que tenha cometido. Cada caso é um caso, e eu abordo um a um no livro. Mas, em linhas gerais, posso apontar algumas atitudes fundamentais, como procurar conhecer a fundo as verdades que a Bíblia ensina sobre perdão; examinarmo-nos e examinarmos as nossas falhas, como forma de perceber que somos extremamente falíveis; e compreender o caráter de Deus e a missão de Jesus ao vir à terra. Quando se faz isso, estender perdão passa a ser extremamente mais fácil. Eu apresento o caminho bíblico para perdoar e se perdoar, passo a passo, no “Perdão Total”.

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O senhor fala sobre o único pecado que não tem perdão, que é a blasfêmia contra o Espírito Santo. Como saber se estamos ofendendo o Espírito?
Há um desconhecimento enorme sobre o que é blasfêmia contra o Espírito Santo, pois as pessoas não analisam o contexto em que Jesus fala sobre isso, em Marcos 3. Cristo diz “Todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão” em resposta aos fariseus que tinham acabado de acusá-lO de expulsar demônios pelo poder de Satanás. O que ele está dizendo a eles é que blasfemar contra o Espírito Santo significa acusar Deus de atuar em nome de Satanás. É importante saber que quem blasfema contra o Espírito Santo jamais se arrepende e, portanto, nunca entraria em crise achando que cometeu esse pecado. Por quê? Pois, se essa pessoa se torna imune ao perdão, jamais se sentirá arrependida de seus pecados, já que quem toca no coração e denuncia a transgressão é o próprio Espírito Santo (Jo 16.8). E pense bem: como ele levaria alguém a se arrepender e pedir perdão de algo que não tem perdão? Simplesmente não faria sentido. Então, se há arrependimento, logicamente é porque não houve blasfêmia contra o Espírito de Deus.

Quais os perigos de não se perdoar e não perdoar os outros?
Os perigos são gravíssimos. Quem não se perdoa carrega um fardo monumental de culpa, um veneno que corrói a alma, as emoções e a saúde. Já quem não perdoa os outros carrega o fardo do ressentimento. E, aqui, há um aspecto terrível que ninguém ensina, ninguém prega, passa quase despercebido pelos cristãos: quem não perdoa o próximo não é perdoado por Deus dos seus pecados. Isso é afirmado e reafirmado por Jesus nas Escrituras, em passagens como Mateus 6.12, Marcos 11.25-26 e Lucas 6.37. Claríssimo, mas, mesmo assim, vemos a falta de perdão se disseminar como um câncer. As lideranças e a membresia das igrejas precisam acordar para essa realidade e encará-la com a gravidade e a urgência que tem.

Há pecados diferentes?
Tirando a blasfêmia contra o Espírito Santo, que é um caso à parte por não ter perdão, todos os demais pecados estão no mesmo pacote. São morte espiritual. E não há morte mais morte do que outra morte. Morte é morte. Eles são diferentes em suas consequências materiais, pois o assassinato gera consequências distintas da arrogância, por exemplo. Mas, no mundo espiritual, todos os pecados têm o mesmo peso. Um assassino ou um adúltero não é mais pecador que um invejoso ou um glutão, como mostro biblicamente no “Perdão Total”.

O senhor cita exemplos de Paulo e Pedro algumas vezes no livro, homens que foram usados grandemente por Deus, pecaram e receberam seu perdão em Jesus. Acredita que hoje somos menos flexíveis no perdão do que foram as pessoas no passado?
A dificuldade de perdoar faz parte da pecaminosa natureza humana. Sempre esteve em nós e sempre estará. Para Deus, perdoar é natural, pois Ele transborda em graça, amor e misericórdia. Para nós, é uma luta, vencida com conhecimento bíblico e a negação de si mesmo. Mas é totalmente possível.

 Então quer dizer que grandes pecadores podem se tornar grandes homens de Deus?
Claro, é bíblico: Paulo foi assassino de cristãos. Pedro foi triplamente traidor. Davi foi um péssimo pai, adúltero, assassino e soberbo. E todos eles foram grandes homens de Deus.

Ao aceitar Jesus, o cristão recebe o perdão dos pecados e não peca mais ou ele precisa receber o perdão diariamente? Como é esse processo?
Paul Washer disse: “Como você sabe que se arrependeu para a salvação anos atrás? É porque você continua se arrependendo hoje”. A verdade é que nenhum cristão deixa de pecar totalmente porque se converteu. O que a conversão faz é tornar o pecado abominável e nojento aos nossos olhos, mas nossa natureza humana continua nos arrastando para a transgressão. Paulo expressou isso de modo claríssimo quando disse: “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo” (Rm 7.19). E ele já era convertido quando escreveu isso. Essa é a razão de precisarmos nos alimentar diariamente das Escrituras e buscar forças em Deus, por meio da oração e de jejuns, para nos fortalecer e nos tornar mais resistentes ao pecado.

Qual a diferença entre arrependimento e remorso?
Arrepender-se é reconhecer o pecado, confessá-lo a Deus e dispor-se de coração a abandoná-lo. Remorso é apenas a tristeza pelo pecado cometido sem uma mudança real, sem uma verdadeira percepção do mal cometido nem uma vontade de mudar de trajetória. Quem se arrependeu de fato pelos padrões cristãos necessariamente firmará o sincero compromisso de deixar de fazer o que fazia. Dizer-se arrependido, mas não ter disposição para abandonar o pecado não demonstra arrependimento em Cristo. Judas, o traidor, sentiu remorso e se matou. Pedro, o traidor, arrependeu-se, foi perdoado e restaurado e prosseguiu em seu ministério.

O “Perdão Total” é um sucesso, chegou à 3ª edição em praticamente seis meses de lançamento e está entre os primeiros na lista de mais vendidos no site da editora Mundo Cristão. O senhor esperava essa repercussão? O que acha que mais tem atraído o leitor para essa obra?
Não esperava nem de longe. Sou uma pessoa desconhecida do grande público, sem fama ou celebridade, tampouco sou líder de ministérios ou denominações, e é mais fácil o leitor comprar uma obra de um escritor que já conhece e admira. Eu tinha uma expectativa bastante modesta quanto à repercussão do “Perdão Total”. A editora e eu fomos pegos de surpresa quando a primeira impressão, de 5 mil exemplares, esgotou em menos de um mês. A segunda teve de ser rodada às pressas. Tenho certeza de que o que atraiu o leitor foi o tema. Nos primeiros três meses foram impressos cerca de 9,4 mil exemplares, o que comprova a minha percepção inicial, de que há multidões de pessoas que vivem a falta de perdão e querem se ver livres desse fardo terrível.  O “Perdão Total” tem ajudado muitos nesse sentido, como provam os depoimentos de cristãos e não cristãos que me escrevem ou me procuram para dizer como sua vida mudou após ler o livro. Soube de casamentos restaurados, amizades refeitas, culpas abandonadas, paz. E isso tudo não é mérito do livro, mas das verdades bíblicas que ele apresenta.

Tudo que o senhor escreve em seus livros, no blog e no Facebook tem base bíblica fundamentada. Você sempre faz questão de enfatizar que não é pastor, mas, como teólogo, de que forma define sobre que assunto vai escrever?
Sou um servo. Para mim, escrever é um serviço para o próximo e para Deus. Escrevo sobre o que entendo que o leitor precisa ler e não sobre o que alimenta minha vaidade teológica ou autoral. Busco identificar necessidades e apresentar respostas a elas. Meus dois seminários teológicos me deram base de conhecimento que me permitiria lançar livros acadêmicos e rebuscados, mas não me interessa nada escrever o que tenha pouca ou nenhuma aplicação prática na vida do leitor. Meu objetivo é abordar profundas verdades teológicas na linguagem mais popular possível, para falar ao coração das pessoas e glorificar a Deus mediante a edificação e a transformação de vidas.

Quais as funções de um editor de livros numa empresa como a Mundo Cristão?
Em síntese, é trabalhar para que o público tenha livros com padrão de excelência, que edifiquem e transformem o leitor e glorifiquem a Deus. Meu trabalho inclui contato com autores, desenvolvimento de projetos de livros, avaliação de originais, orientação a autores na elaboração do texto, transformação do texto bruto em texto literário e cuidados gerais com a obra até a aprovação final dela. Só é possível fazer isso em equipe, e a Mundo Cristão tem profissionais de primeira linha em todos os departamentos, sem os quais eu não poderia fazer nada. O senhor escreve diversos posts sobre assuntos polêmicos, e um dos que falou no seu blog foi divórcio, algo que sempre gera contradições entre ministérios.

O que pensa sobre divórcio entre cristãos?
Penso o que a Bíblia diz: que Deus odeia o divórcio e que para Ele não há impossíveis; logo, Deus é totalmente capaz de restaurar casamentos em ruínas.

Qual é a verdadeira vitória do cristão neste mundo em que existe pregação de prosperidade financeira desmedida? Qual o ponto de equilíbrio para isso?
Não há ponto de equilíbrio: ou você idolatra a falsa “vitória” pregada por aí ou vive sabendo que é mais que vencedor no real sentido bíblico. Quando escrevi “A Verdadeira Vitória do Cristão”, fiquei surpreso com minhas próprias descobertas. Impressionado pelo triunfalismo que impera em muitos âmbitos da Igreja, eu quis entender o significado bíblico de “vitória”, e minhas pesquisas nas Escrituras me mostraram que não é nada daquilo que as pessoas pensam e costuma ser pregado. Fui confirmar nos escritos da Igreja Primitiva e dos reformadores e eles comprovaram minha percepção. Ler “A Verdadeira Vitória do Cristão” revoluciona nosso modo de ver a vitória apresentada na Bíblia.

 E os livros de ficção? Um deles lhe rendeu o Prêmio Areté. Podemos aguardar alguma novidade nesse sentido?
Só depende das editoras. Eu escrevi quatro livros de ficção. Os três primeiros – “O Enigma da Bíblia de Gutemberg”, “7 Enigmas e um Tesouro” e “O Mistério de Cruz das Almas” – tiveram excelente aceitação do público e foram todos finalistas do Prêmio Areté, sendo que o primeiro ganhou o troféu de “Melhor Livro de Ficção/Romance” e me rendeu o prêmio de “Autor Revelação” do ano. O quarto livro, intitulado “O Ritual”, está escrito e pronto, mas a editora que publicou os três primeiros mudou sua linha editorial e desistiu de prosseguir publicando a série. Portanto, ele está na gaveta, até que alguma editora decida apostar na sua publicação.

Quais são seus próximos projetos?
A Mundo Cristão lança em maio meu sexto livro já publicado, “O Fim do Sofrimento — Um livro para quem busca consolo e esperança nos momentos mais sombrios”, que mostra as razões bíblicas de uma pessoa sofrer e apresenta respostas aos 30 principais tipos de sofrimento que vivemos. Tem prefácio do reverendo Augustus Nicodemus Lopes e endossos de 27 pessoas de peso, como Russell Shedd, Luiz Sayão, Ana Paula Valadão, William Douglas, Carlos Alberto Bezerra, Bianca Toledo, Nina Targino e outros. Além disso, já tenho contrato assinado com a Mundo Cristão para dois outros livros, que estão prontos e à espera de datas de lançamento. E estou escrevendo neste momento meu nono livro, que ainda vou submeter à avaliação da editora quando o concluir.

A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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