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domingo, 20 DE abril DE 2025

Entre tradição e mudança: o desafio de unir avós, pais e filhos na fé

Em meio às diferenças de gerações, a convivência familiar se torna um espaço de aprendizado mútuo, onde tradição e renovação caminham lado a lado

A convivência entre gerações pode ser desafiadora, mas também é uma grande oportunidade de aprendizado, crescimento e fortalecimento da fé dentro das famílias.

Por Patrícia Esteves

Se você pudesse conversar por alguns minutos com Matusalém, o que ele teria a ensinar sobre o convívio entre gerações? Porque vale lembrar que Matusalém viveu 969 anos. O bisneto de Adão, o primeiro homem, provavelmente foi um dos seres humanos que mais conviveu com variadas gerações na história. Aliás, por longos anos com cada uma delas. Imagine quantos almoços em família, quantas histórias recontadas com novos detalhes, quantos conselhos ele deve ter dado a seus filhos, netos (Noé entre eles) e bisnetos. Será que, com tanta experiência, ele sabia exatamente como evitar conflitos e manter a paz entre gerações? Ou será que ele enfrentava desafios parecidos com os atuais?

Se Matusalém estivesse sentado à mesa das famílias na atualidade, observando pais e filhos que mal conversam, focados em seus celulares, avós cujos conselhos não são ouvidos e jovens que sentem que ninguém os compreende, o que ele diria? Talvez risse e dissesse: “Nada disso é novidade. Cada geração sempre achou que sabia mais que a anterior. Mas a sabedoria está no equilíbrio”.

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A Bíblia não entra em detalhes sobre a convivência familiar de Matusalém, mencionando apenas um de seus filhos. No entanto, ela rememora que a longevidade traz consigo a riqueza da experiência. Filho de Enoque, um homem que “andou com Deus” e foi arrebatado sem conhecer a morte, Matusalém provavelmente cresceu imerso em uma forte influência espiritual. Seu pai, exemplo ímpar de fé e retidão, viveu em uma época em que a humanidade começava a se afastar dos caminhos do Senhor. Essa relação sugere que Matusalém pode ter sido educado em um ambiente focado na obediência e na busca constante pelo Criador.

Desde o início, o ser humano não convertido é o mesmo. As gerações se enfrentam em choques de valores e poder há muito tempo. Caim e Abel ilustram o primeiro grande conflito. Noé testemunhou a corrupção de seu tempo, rejeitado por sua própria geração.

Abraão viu seus filhos, Ismael e Isaque, dividirem-se por questões de herança e promessa. Jacó enganou Esaú, gerando uma rivalidade que atravessou gerações. Davi enfrentou a traição do próprio filho, Absalão, e outro dos seus filhos, Roboão, perdeu parte do reino por ignorar os sábios conselhos dos anciãos. Então, como construir uma ponte capaz de conectar de maneira efetiva as mais variadas gerações em um determinado espaço e tempo?

A ligação entre passado e futuro

A Bíblia mostra que o conflito entre gerações é inevitável, mas também oferece caminhos para a resolução dos problemas. O segredo para uma família forte está na construção de laços sólidos, sustentados pelo respeito, comunicação aberta e apoio mútuo. Valorizar os momentos juntos, como refeições compartilhadas ou atividades de lazer, fortalece o vínculo e cria memórias significativas. Respeitar e compreender as diferentes perspectivas é essencial para a harmonia.

A comunicação honesta e a capacidade de resolver conflitos de maneira construtiva ajudam a manter a confiança. Além disso, uma base espiritual sólida, com princípios compartilhados, pode unir ainda mais a família, oferecendo propósito para enfrentar desafios. Famílias fortes também têm a capacidade de se adaptar às mudanças sem perder seus valores essenciais, construindo uma base que se mantém firme, mesmo em tempos de transição.

“Pais precisam ter em mente que não são donos, mas mordomos dos filhos, que pertencem, de fato, a Deus”, explica o teólogo, palestrante e host do Tá Legado Podcast, Fábio Hertel, membro da Missão Evangélica Praia da Costa, em Vila Velha/ES. Essa compreensão tira o peso do controle absoluto e lembra que a missão dos pais é guiar com sabedoria, não impor com rigidez.

As diferenças de visão dentro da família não precisam ser motivo de divisão, mas sim uma oportunidade de crescimento. Em Malaquias 4:6, está escrito: “E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais”. O diálogo não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas um chamado divino para o entendimento mútuo.

“Acredito que o maior desafio decorre da dificuldade que cada pessoa tem para perceber as mudanças que naturalmente ocorrem ao longo do tempo”, explica pastor Gilton Medeiros - Foto: Divulgação
“Acredito que o maior desafio decorre da dificuldade que cada pessoa tem para perceber as mudanças que naturalmente ocorrem ao longo do tempo”, explica pastor Gilton Medeiros – Foto: Divulgação

“Acredito que o maior desafio decorre da dificuldade que cada pessoa tem para perceber as mudanças que naturalmente ocorrem ao longo do tempo. Cada época tem uma dinâmica, um modo de ser, e é preciso maturidade e sensibilidade para se perceber que o mundo já não é mais o mesmo de 10, 20 ou 30 anos atrás. Se pais, avós e netos não conseguem entender isto, viverão em mundos diferentes, com linguagens e valores diferentes e, evidentemente, não será fácil a convivência”, contextualiza o pastor Gilton Medeiros do Ministério Vida Radiante, do Rio de Janeiro/RJ.

“Todo mundo cede um pouco”

A história de Moisés e Josué ensina muito sobre essa troca geracional. Moisés não apenas liderou, mas preparou Josué para continuar sua missão. A liderança sábia dos mais velhos, aliada à disposição dos mais jovens em aprender, pode transformar qualquer lar em um lugar de crescimento espiritual e emocional.

A família de dona Maria das Graças da Silva e Laurenço Teodoro da Silva lida constantemente com essas diferenças tanto em casa, quanto na igreja onde congrega. A matriarca e seu marido, ambos com 77 anos, são pais de quatro filhas, avós de 8 netos e 2 bisnetos que, juntamente com eles, frequentam a Igreja Diante da Arca, em Juiz de Fora/MG, da qual também são os membros mais idosos.

“As diferenças sempre acontecem, mas nós conversamos e todo mundo cede um pouco em suas opiniões”, explica Mírian Araújo, filha mais velha do casal, que também tem duas filhas e já é avó. Mírian conta que uma das maiores dificuldades dos pais na igreja é conseguir lidar com os variados instrumentos musicais utilizados hoje para executar as músicas com os arranjos modernos. Acostumada aos tradicionais hinos da Harpa Cristã, dona Maria das Graças ainda acha estranho e opina que “antigamente era melhor”.

“Embora a mensagem bíblica seja imutável, a forma de comunicá-la está sempre em evolução”, diz pastor Gilson BIfano - Foto: Divulgação
“Embora a mensagem bíblica seja imutável, a forma de comunicá-la está sempre em evolução”, diz pastor Gilson BIfano – Foto: Divulgação

“A sociedade está em constante mudança, e desde os anos 90 essas transformações se aceleraram. Em Habacuque 2.2, a Bíblia ensina a importância de comunicar de forma clara e acessível: ‘Escreva em tábuas a visão que você vai ter, escreva com clareza o que vou lhe mostrar, para que possa ser lido com facilidade’. Embora a mensagem bíblica seja imutável, a forma de comunicá-la está sempre em evolução. Esse é o desafio ao transmitir essa verdade às gerações”, resume o pastor Gilson Bifano, líder do Ministério Oikos (Ministério Cristão de Apoio à Família), do Rio de Janeiro/RJ.

Como uma alternativa para atender também aos ouvidos e costumes de dona Maria das Graças e seu marido, na igreja onde congregam o grupo do louvor executa igualmente hinos tradicionais, mas dando aquela roupagem um pouco mais moderninha que a turma mais jovem gosta.

Ancestrais como alicerce

“Da sabedoria dos mais velhos à energia dos mais jovens, a família do casal Laurenço e Maria das Graças prova que o verdadeiro tesouro está nos laços que atravessam gerações” - Foto: Arquivo pessoal
“Da sabedoria dos mais velhos à energia dos mais jovens, a família do casal Laurenço e Maria das Graças prova que o verdadeiro tesouro está nos laços que atravessam gerações” – Foto: Arquivo pessoal

A relação de avó e neto, exemplificada na história de Timóteo, apoiador do ministério de Paulo, mostra que ele foi fortemente influenciado por sua avó Lóide e sua mãe Eunice (2 Timóteo 1:5). O mesmo acontece na família de Maria das Graças e Laurenço.

“Ter a minha avó comigo é um privilégio! Principalmente por tê-la na igreja também. Ela é a nossa coluna, e batalhou bastante para que as filhas e os netos estivessem na igreja, assim como ainda zela para que a gente permaneça cultuando a Deus”, celebra Lavínya Emanuelli da Silva Araújo, de 18 anos, neta de dona Maria das Graças.

Entretanto, Lavínya pondera que as diferenças existem e, com muita maturidade, explica como age e tenta fazer com que a sua igreja aja também. “Ao abordar as diferenças geracionais na igreja, é essencial considerar como cada faixa etária vivencia a fé, a prática religiosa e a moralidade. Também é preciso observar o impacto da tecnologia, o nível de envolvimento dos jovens nas atividades comunitárias e a importância das tradições para os mais velhos”, pondera a jovem.

A Bíblia traz exemplos de gerações que aprenderam a conviver e a crescer juntas. A história de Rute e Noemi é um dos mais inspiradores, pois mesmo sem um vínculo sanguíneo direto, a nora escolheu seguir sua sogra com amor e lealdade (Rute 1:16-17). “O respeito e a empatia de Noemi para com Rute já seriam algo maravilhoso, mas o vínculo se aprofunda quando Rute se submete à liderança e à mentoria de Noemi”, lembra Fábio Hertel.

O papel da igreja no fortalecimento das famílias

A igreja tem um papel fundamental no fortalecimento dos laços entre gerações, criando espaços que promovem a fé comunitária e a união. A Bíblia já alerta sobre a importância da comunhão, afirmando: “Como andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Amós 3:3). Igrejas que abraçam essa união entendem que, “juntos somos mais fortes”.

Como destaca o pastor Gilson Bifano, “a mensagem bíblica jamais deve mudar, mas a forma de comunicá-la precisa se adaptar”.

Entre tradição e mudança: o desafio de unir avós, pais e filhos na féA troca de experiências entre as gerações é essencial, com os mais velhos oferecendo sabedoria e os mais jovens trazendo energia e inovação, como ensina o pastor Sérgio Leoto, do Ministério Fortalecendo Família, cuja base fica em São Paulo/SP. Além disso, a Bíblia revela que, nos últimos dias, jovens e velhos trabalharão juntos na obra de Deus: “Derramarei meu Espírito sobre todos os povos! Seus filhos e filhas profetizarão. Os velhos terão sonhos e os jovens terão visões… Todo aquele que invocar o nome do Senhor Jesus será salvo” (Atos 2:17-21).

Esse versículo reforça que, ao invés de separação, a igreja deve ser um espaço de colaboração, onde diferentes gerações caminham lado a lado, fortalecendo a fé e cumprindo o propósito divino. Isso só será possível quando as gerações superarem as barreiras e permanecerem unidas.

O segredo para a verdadeira harmonia entre gerações não está em ignorar as diferenças, mas em aprender a caminhar juntos, valorizando a sabedoria dos mais velhos e a energia dos mais jovens. Como diz a Bíblia, ‘Onde não há visão, o povo perece’. É melhor ajudar a construir a ponte, antes que não exista caminho.

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