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sexta-feira, 19 abril 2024

Como ensinar os filhos a lidar com as emoções?

Criança é como uma esponja, absorve tudo o que é ensinado. Pais imaturos dificilmente têm filhos maduros

As emoções fazem parte do comportamento humano. O desafio é saber como lidar com elas de forma a manter o equilíbrio. É por isso que o desenvolvimento emocional começa a ser trabalhado na infância, com a orientação e a correção dos pais. Embora seja uma tarefa desafiadora, é fundamental dar limite aos filhos.

“Hoje não é raro nos depararmos com cenas deprimentes, em que crianças se jogam no chão, se não recebem o que desejam; elas xingam e até batem em seus pais por ouvirem uma negativa. Essa é uma grande inversão de papéis. Se tiverem todas as vontades atendidas, ficarão mimadas e infantilizadas e terão dificuldades de enfrentar a vida”, explica a psicóloga Paula Romer, da Igreja Presbiteriana Monte Sinai, em São Paulo.

A Bíblia exorta em Provérbios 29.15-17 que “A vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe”. Os padrões saudáveis precisam ser estabelecidos desde cedo, com a direção divina. “Os pais preparam os filhos para a vida e precisam criá-los à pessoa de Deus quanto à construção do caráter e da segurança física e emocional”, pontua Paula.

Como ensinar os filhos a lidar com as emoções?
“Os pais preparam os filhos para a vida e precisam criá-los à pessoa de Deus quanto à construção do caráter e segurança física e emocional” – Paula Romer, psicóloga

O livro “Criando Filhos Emocionalmente Saudáveis”, de H. Norman Wright e Gary Oliver, diz que “pais imaturos dificilmente têm filhos maduros”, pois é responsabilidade deles desenvolver modelos emocionais saudáveis. “Criança é como uma esponja, absorve tudo o que é ensinado. Se ela possui pais que enfrentam problemas emocionais, há sério risco de se tornarem assim também. Uma criança emocionalmente saudável aprende a viver a vida observando suas próprias experiências e tendo em sua caminhada o acompanhamento dos pais”, argumenta Paula, que também é psicopedagoga e mestre em Ciências da Religião.

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Desenvolvimento das emoções

Emoção é uma experiência associada ao temperamento. É o primeiro filtro usado pelo ser humano para se relacionar com o mundo. Muitos problemas que pessoas de diferentes idades enfrentam no dia a dia têm origem nela. Orgulho, ira, angústia, culpa, cobiça e inveja são sentimentos que aprisionam a alma. Todos os dias, o ser humano está sujeito a lidar com as emoções, seja nas decisões simples, seja nas complexas.

Tais manifestações se dão de forma positiva, como no amor, no perdão, na coragem, na gratidão, na bondade, na compaixão, na misericórdia, sentimentos que proporcionam flexibilidade e criatividade. Mas podem ocupar o terreno negativo, como no egoísmo, na raiva, no rancor, na preocupação e na vingança, que geram danos no homem e naqueles que o rodeia.

A Bíblia narra a saga de um personagem que começou um ministério com alegria e prosperidade, mas o encerrou com dor e amargura. O rei Saul conduziu sua jornada com ciúme, inveja, dor, fracasso, vergonha, tragédia e, por fim, a própria morte. Outro exemplo de descontrole emocional é observado em Gênesis 4, na história dos filhos de Adão e Eva. Tomado pelo ódio e sentimento de rejeição, Caim matou o irmão Abel.

“Deus nos criou com sentimentos e emoções, o problema é que eles também foram afetados pelo pecado, que distorceu tudo o que o Senhor havia feito de maneira perfeita. É possível não sermos reféns de nossas próprias emoções e evitarmos o que aconteceu com Caim e tantos outros homens e mulheres que a Bíblia aponta”, esclarece Paula.

Jesus, o exemplo

Não é errado ter emoções. Jesus é o maior exemplo disso. Ele não tentou “não senti-las”, pelo contrário, levava-as para dentro do relacionamento com o Pai. Era honesto, real, autêntico. Na noite antes da crucificação, no jardim do Getsêmani, o Messias estava “aflito”, “profundamente triste”, “atribulado” e “agoniado” (Mateus 26.36-46).

O Mestre expressou como se sentia, mas confiou em Jeová. Tempos antes, na tristeza, Cristo chorara a morte do amigo Lázaro, chorara por Jerusalém. E sentira amor quando conversava com um jovem rico (Mc 10.21).

Como ensinar os filhos a lidar com as emoções?
“Pais responsáveis cuidam das emoções de seus filhos ficando atentos às suas mudanças de atitudes, às alterações de humor, à perda ou aumento de apetite, para evitar que sejam infelizes, ansiosos, frustrados, e pensem, inclusive, em atitudes extremas, como suicídio” – Priscila Laranjeiras, escritora

Várias passagens nas Escrituras mostram também as emoções divinas. Deus teve arrependimento – “Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra, e isso pesou-lhe no coração” (Gn 6.6). Também demonstrou compaixão – “O meu coração está enternecido, despertou-se toda a minha compaixão” (Os 11.8b). E ainda fúria – “Sabendo-o Deus, enfureceu-se e rejeitou totalmente Israel” (Sl 78.59). “Deus fez todos a Sua imagem e semelhança, por isso tem sentimentos como nós, mas não é ‘escravizado’ por eles”, afirmou Paula.

Segundo o livro “Fé não é um Sentimento”, de Ney Bailey, apesar das nossas emoções e experiências de vida, “precisamos escolher crer que o que Deus diz é mais verdadeiro do que nossas emoções”. E a obra traz um conselho: “É preciso que sejamos francos com Deus, dizer com honestidade como nos sentimos e o que está acontecendo na nossa vida”.

Pais responsáveis 

Essa foi a forma escolhida pela escritora cristã Priscila Laranjeiras para lidar com um bloqueio vivido pela filha, Kennely Desirée, que na infância não conseguia se relacionar com os outros. “Minha filha vivia triste na escola, a ponto de desistir. Um dia ela me disse que não voltaria mais para lá. Sugeri que levasse livros, brinquedos, mas ela queria amigas. Então pensei no plano infalível: oramos juntas e pedimos a Deus que lhe enviasse amigas. Não muito convencida, ela foi pra aula; enquanto isso, orei ao Senhor de joelhos. Quando voltou para casa, nem precisei lhe perguntar se o plano deu certo. O sorrido dizia tudo! Deus enviou três amigas. Ir à escola tornou-se uma alegria, e as notas refletiram isso”, contou.

A tática da Priscila mostrou que soluções vistas como impossíveis aos olhos do homem são perfeitamente viáveis nas mãos do Todo-Poderoso. Mas é preciso colocá-las na dependência do Altíssimo. “Sempre ensinei minha filha a confiar e depender de Deus, pois o Senhor atende às nossas orações. Mostrava a ela que, quando estamos tristes, cansados, desmotivados e frustrados, podemos confiar nEle. A fé dela se fortaleceu ao longo dos anos, pois sempre sentiu e viu a ação divina.”

As emoções controlam praticamente tudo na vida. “Pais responsáveis cuidam das emoções dos filhos, ficando atentos às mudanças de atitudes, às alterações de humor, à perda ou aumento de apetite, para evitar que eles sejam infelizes, ansiosos, frustrados, e pensem, inclusive, em atitudes extremas, como suicídio”, atesta Priscila.

Inteligência emocional

O renomado psicólogo Daniel Goldman se refere à inteligência emocional como “a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos, bem como os alheios, de motivar-nos e de saber manejar bem as emoções”. Isso implica conseguir exercitar o controle delas.

Uma criança emocionalmente saudável não é aquela que não chora, tampouco a que não se frustra ou não se irrita, mas a que aprimora a compreensão sobre as próprias emoções, como analisa a psicóloga Paula. Lidar com a frustração é o primeiro passo.

“A habilidade de reconhecer os próprios sentimentos, compreender os dos outros e saber lidar com eles é o que a psicologia chama de inteligência emocional (QE). Na prática, isso significa, por exemplo, que de nada adianta a criança ser um gênio se não souber lidar com as críticas”, exemplifica a especialista.

Pais com emoções sadias

Se a criança vai bem, os pais também vão bem. O descontrole e os desequilíbrios emocionais podem levar ao êxito ou ao fracasso, determinar a personalidade e o caráter, sustentar ou “derrubar” carreiras, casamentos, empresas, nações. Educação emocional não é fácil, mas é possível. E tem de começar pelos pais.

O pastor Walter Louzada, da Igreja Apostólica Monte Sião, na Serra (ES), diz que, se os pais desejam que os filhos cresçam com emoções saudáveis, primeiro é preciso olhar para dentro das próprias emoções de uma forma saudável. “Assim, terá condições de replicá-las na vida dos filhos”.

No período de gestação, os pais podem demonstrar o amor e a importância do bebê para a família. Isso faz com que as crianças nasçam e cresçam num ambiente emocional melhor. “As emoções são trabalhadas por nossa vida em Cristo, mas precisam também ser tratadas desde cedo”.

Na visão do pastor, se os pais desejam gerar emoções saudáveis nos filhos, primeiro precisam entender que são limitados, além de ressignificar a vida, mudar alguns conceitos, aproximando-se da identidade projetada por Cristo. “Tratar as emoções não é um luxo, mas uma necessidade se estamos dispostos a santificar a nossa vida”, conclui Walter.

Com as devidas atualizações, esta matéria é uma republicação de edição da Revista Comunhão publicada em 2020. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a reportagem foi originalmente escrita.

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