23.8 C
Vitória
quinta-feira, 25 abril 2024

Educação contra a corrupção

Há, sim, estratégias para moldar o caráter do filho. Igreja e escola também podem contribuir, mas é a família que tem a principal chave para esse processo

por Sânnie Rocha e Lilia Barros

A maneira correta de educar os filhos sempre foi alvo de discussão. É uma tática que se torna desafio para os pais, afinal, as crianças não nascem com uma bula informando como deve ser o tratamento para crescerem boas, dignas, éticas, estudiosas, entre outras qualidades que sempre se deseja.

Em tempos de corrupção exacerbada, então, esse é um assunto que não sai das redes sociais e das rodas de conversa: “brasileiro é corrupto por natureza, porque fura fila, não devolve troco errado, não levanta no ônibus para o idoso se sentar, não faz isso, não faz aquilo”.

Mas há receita para ensinar as novas gerações a não praticar essas “pequenas” falhas e a não serem “corruptas” desde a infância? Existe fórmula para evitar a decepção de ver um adulto criado com todos os cuidados se tornar um mau exemplo? Além da família, qual o papel da escola e da igreja na formação do caráter de alguém?

- Continua após a publicidade -

Alguns especialistas acreditam que o livre arbítrio leva o indivíduo a se tornar bom ou mau, mas há outros que possuem opinião diferente e afirmam que os pais, sendo orientados de maneira correta sobre como educar, nos princípios bíblicos, com relacionamento franco, correção dos desvios de comportamento e na dualidade das ações e suas consequências, têm chances de criar filhos com boa índole.

Amoque Araújo e sua esposa, Eliete, são treinadores de líderes do Growing Families International, da Universidade da Família. Também trabalham com lares desde 2004 como diretores executivos da Escola de Pais e Filhos e são pós-graduandos em
Terapia Familiar.

Para ele, existe uma maneira de deixar uma herança à prole de forma que aprenda a não ser corrupta, violenta, desobediente, infiel e intolerante. A resposta está no “Treinamento do Coração”.

“Os pais precisam treinar seus filhos a obedecer aos princípios e aos valores que conduzem a uma vida virtuosa, livre das tendências pecaminosas da carne. Esse treinamento começa nos primeiros anos de vida, em que é ministrado o ensino e são aplicadas técnicas de fixação no dia a dia.

Na primeira e na segunda infância, os pais precisarão se utilizar de muitas práticas restritivas para que os infantes vençam suas inclinações egoístas e consigam obedecer àquilo que os adultos instruíram. Não bastam o ensino ou o exemplo. Nossos pequenos, ainda que entendam o que é bom e virtuoso – aquilo que agrada a Deus –, carregam dentro de si a semente da corrupção da carne, como todos nós.

A melhor herança que os pais podem dar aos filhos é um coração treinado, não somente no conhecimento da ética divina, mas dotado de autocontrole suficiente para obedecer aos princípios da Palavra de Deus, ainda que sintam as tentações típicas da carne. Um coração treinado na ética divina estará pronto para vencer na vida e conquistar tudo o que Deus disponibilizou para os que O amam e guardam os Seus mandamentos”, explica.

Educação contra a corrupção
“Nenhuma pregação, por mais poderosa que seja, tem mais poder que as atitudes. As palavras convencem, os exemplos arrastam” Sylvia Crivella, autora do livro “O Desafio de Criar Filhos”

Filho de peixe

A professora Valéria Luz Leite, membro da Igreja Cristã Maranata, e seu marido, Adenes Leite, costumam tratar assim os filhos, André (21) e Daniela (17). Desde pequenos, ela sempre orou muito para que Deus desse a direção para orientá-los de maneira coerente com a Palavra e para que fossem cidadãos exemplares.
“Vamos lutando todos os dias, tentando fazer a coisa certa, pagando um preço usando os recursos da graça. Filho de peixe não é peixe, como tanto falam no ditado popular.

Então, precisamos pedir a Deus que nossos filhos tenham experiência com Ele, ensinando o caminho, testemunhando. E como homens nós falhamos, e eles percebem quando isso acontece. Nesses casos, não adianta esconder, é preciso se redimir e confessar a eles que falhamos, pedir desculpa se necessário. O relacionamento franco faz muita diferença”, comenta.

Esse bom vínculo também é destacado por Amoque Araújo como um dos princípios para a formação do caráter. “Uma educação espelhada no bom relacionamento entre papai e mamãe, nos exemplos positivos dos pais, na correta comunicação de amor entre pais e filhos, na boa instrução, no encorajamento, na correção quando preciso.

É fundamental que os pequenos entendam que suas ações têm consequências, para o bem ou para o mal. O bom proceder tem por efeitos a aprovação de Deus e dos homens; as más ações trazem a punição. Entendemos que a impunidade é uma das principais causas das disfunções sociais no Brasil, principalmente da corrupção”, acrescenta.

A importância de uma educação não se dá somente no âmbito do intelecto, dentro do colégio, aprendendo para ter uma profissão, mas também se faz presente no nível de formação e correção de condutas. E qual seria o papel da escola e da igreja nesse processo?

“A família e o lar, representados por papai, mamãe e irmãos, são o laboratório ideal para o desenvolvimento do caráter. Ao expandir seu círculo social com a entrada na escola, esta se torna o ambiente em que os princípios e valores aprendidos em casa devem ser reforçados – pelo menos, era para ser assim.

As outras crianças passam a interagir com nosso infante e serão essas pessoas que darão oportunidade para este praticar com mais intensidade o que aprendeu no pequeno laboratório da família, em nível moral e ético.

Quanto à igreja, ela complementa os ensinos da Palavra de Deus recebidos em casa, aprofundando-os, para fins de crescimento espiritual e de serviço no Reino de Deus”, salientou.

Educação contra a corrupção
“A escola e a igreja podem colaborar na educação da criança com bons exemplos de ética, justiça e honestidade de adultos” – Ricardo Brandão, pastor da Igreja Batista e psicólogo

Além do diploma

Teóloga, psicoterapeuta e membro da Igreja Evangélica Batista de Vitória, Zenaide Monteiro, viúva, mãe de três filhas e avó, acredita que o erro de algumas famílias é acreditar que apenas a educação colegial, para obter um diploma, é importante para os filhos.

“A educação forma os valores, os comportamentos. Quem aprende desde cedo a respeitar o próximo, a não mentir, a não tirar vantagem, a não roubar, certamente vai aplicar isso na vida adulta, nos relacionamentos e na profissão. Corrupção não é (só) algo que os políticos fazem, é não fazer o que é certo. Alguns acham que educação é só estudar até ter um diploma a qualquer custo e de qualquer jeito. Não. Educação abrange comportamento, cultura, conhecimento e prática de costumes bem fundamentados. Uma criança tem que ser bem criada, com valores aplicados no seu dia a dia, aprender que ela e o outro têm direitos e deveres iguais. Se for ensinado apenas que o ter é mais importante que o ser, que o fim justifica o meio, torcendo e entendendo como ‘meio’ o antiético, o ilegal, o ‘jeitinho’, o apadrinhamento, o levar vantagem em tudo, furar fila, colar na prova, furar sinal de trânsito, mentir, enganar, essa criança será o adulto que se acha no direito de ter tudo a qualquer custo. Perde a noção de certo e errado. A Bíblia fala muito de justiça, só somos justos quando não somos corruptos, corruptores ou corrompidos. Justo é o educado. Educado é o que ama o outro como a si mesmo.”

O empresário Marcelo Paiva e sua esposa, Graciela, membros da Igreja Batista, estabeleceram uma educação para suas filhas, Catarina (11) e Carolina (9), baseada em três focos: escola de qualidade, igreja e lar.

“Escolhemos uma boa escola para que elas tenham ensino de qualidade, seguimos com elas os princípios cristãos que estão na Palavra e são ensinados na igreja e em casa. Decidimos, quando nasceram, que minha esposa não iria mais trabalhar fora para dar toda a assistência a elas. Dessa maneira, não estamos transferindo a educação delas para outro familiar ou cuidadores, mas a orientação é feita de acordo com nossos princípios”, destacou.

Educação contra a corrupçãoO pastor da Igreja Batista Ricardo Brandão, também psicólogo, acredita que é muito importante o papel da igreja e da escola como reforçadores do processo de formação do caráter do indivíduo. “Pela psicologia behaviorista e nos fundamentos bíblicos, a escola e a igreja podem colaborar na educação da criança com bons exemplos de ética, justiça e honestidade de adultos que sejam afetivamente significativos para elas. Além das formulações teóricas do que é certo e do que é errado como fruto de uma construção participativa com as crianças, essas redes de apoio precisam promover consequências reforçadoras (recompensas) quando meninos e meninas se comportam adequadamente, seja com elogios, seja com abraços, seja com outras formas criativas e inspiradoras, para que reforcem o comportamento socialmente adaptativo e bíblico. Diante de uma cultura tão corrupta, com modelos sociais tão imorais, é indubitável a necessidade de processos de subjetivações e ressignificações a partir de encontros representativos. Porém, é imperioso asseverar que apenas ensinamentos verbais numa sala de aula ou de EBD são insuficientes e incompletos para o aprendizado da criança ou do adulto. Todo comportamento é aprendido e passível de modificação, basta considerar os princípios de assimilação e manutenção do comportamento humano”, complementa.

Respeito sempre

Mãe e avó, Sylvia Crivella, autora do livro “O Desafio de Criar Filhos”, da editora Thomas Nelson Brasil, e esposa do bispo e senador Marcelo Crivella, acredita que falta nos pais a consciência de que, para ter o respeito dos filhos, é preciso aprender a respeitá-los também. Isso seria uma forma de garantir que não haja desvio de conduta.

“Creio que todo relacionamento, seja patrão/empregado, professor/aluno, pais/filhos, deve ser construído sobre o respeito. Muitos pais, por exemplo, exigem respeito dos filhos, mas não respeitam sua juventude. O jovem é um ser em transição e como tal passa por muitos ajustes e conflitos. Cabe aos pais, que já estiveram ‘lá’, que já foram jovens, compreendê-los e ter paciência. Isso por si só cria um elo forte entre eles, permitindo que os ensinamentos que os pais lhes oferecem sejam seguidos. O exemplo e a palavra dos adultos serão como uma bússola, conduzindo aqueles jovens pelos caminhos da verdade por toda a vida”, frisa.

Ela relembra palavras que aplicou na criação de seus filhos que foram cruciais, como a tradicional “Ensina (pelo exemplo) a criança no caminho que deve andar e ainda quando for velha não se desviará dele”, em Provérbios 22:6; “Queres tu não temer autoridade? Faze o bem e terás o louvor dela!”, em Romanos 13:3; e “O amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”, em 1 Timóteo 6:10.

“Para influenciar os filhos, as palavras são importantes, mas creio que a melhor herança é a fé. E a melhor maneira de ensiná-la é através do exemplo. Nenhuma pregação, por mais poderosa que seja, tem mais poder que as atitudes. As palavras convencem, os exemplos arrastam. É assim que semeamos no coração dos nossos filhos o temor ao Senhor que temos e que é o princípio da sabedoria. Dessa forma, evitam-se a corrupção, a desobediência, a infidelidade e a violência. Quem teme ao Senhor segue Seus ensinamentos, que são verdadeiros e justos”, orienta.

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 223 da revista Comunhão, de abril de 2016. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

- Publicidade -

Matérias relacionadas

Publicidade

Comunhão Digital

Publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

VIDA E FAMÍLIA

- Publicidade -