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sexta-feira, 19 abril 2024

É PRIMAVERA!

É PRIMAVERA!

“Olha e vê que o inverno já se foi; a chuva cessou, é primavera! Surgem as muitas flores pelos campos; chegou o tempo de podar e cantar; e já se ouve o doce arrulhar das pombinhas na nossa terra”. (Ct 2. 11-12)

Por Lidice Meyer Pinto Ribeiro

Quando o mês de setembro se aproxima, a cidade, campos e matas ficam mais coloridos. Os ipês, quaresmeiras, jacarandá-mimosos, flamboyants e tantas outras plantas vão enfeitando com cores o nosso mundo. Parece que Deus tomou de uma palheta de pintor e foi pincelando aqui e acolá com tons de azul, lilás, rosa, vermelho, alaranjado, amarelo, branco… É como se a natureza cantasse em alta voz: “ É Primavera! Te amo! Trago esta rosa para te dar! ”

Mas será que os povos da Bíblia tinham a mesma percepção dessa estação do ano? Os israelitas, mesopotâmios, cananeus, sumérios, acádios, hititas, dentre outros, habitavam o Oriente Médio, que se localiza no hemisfério norte. Nesta região do globo a primavera não ocorre em setembro, mas sim, de março a junho. As estações do ano são muito mais demarcadas do que para nós, no Brasil. A primavera para os povos bíblicos sucedia um inverno rigoroso e seco com dias curtos e noites longas que dificultava muito a produção dos campos e rebanhos. Até que, de repente, as noites iam a cada dia encurtando e o sol permanecendo por mais tempo. O frio seco ia dando lugar ao calor úmido de chuva fresca e a ausência de vida nos campos ia se transformando em uma efervescência de brotos verdes e filhotes de animais.

Os antigos habitantes do Oriente Médio observavam estas transformações e as explicavam através de suas crenças religiosas. Para os Mesopotâmios a chegada da primavera estava relacionada ao casamento entre a deusa do amor e da fertilidade Inanna com o pastor Dumuzi. Os Acádios e Sumérios a chamavam Ishtar (Jr 44. 17-18 ) e os Cananeus, Astarte (Jz 2.13, 10.6; 1 Sm 31.10; 1 Rs 11.5), e Dumuzi de Tammuz. Os seis meses em que o casal permanecia separado equivaliam ao outono/inverno, período de escuridão, frio e infertilidade e os seis meses em que estavam juntos equivaliam a primavera e verão, assegurando assim a continuidade do ciclo da natureza.

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O Culto a Dumuzi/Tammuz era conhecido e praticado por alguns israelitas após o cativeiro babilônico (Ez 8.14). Como parte do culto, ao final do verão quando o outono chegava e a vida nos campos rareava, as mulheres se reuniam para lamentar a ausência de Tammuz e com a chegada da primavera, festejavam seu retorno. A natureza era compreendida como um ciclo de morte e renascimento e a primavera marcava não só a ressureição da vida como também as celebrações do ano novo.

A primavera também marcava o início do ano para os judeus. O mês de Abibe ou das espigas, em que se celebrava a festa dos pães asmos (Ex 13.4; 23.15) coincidia com o início da primavera (março-abril) e finalizava com as chuvas de verão (Tg 5.7). A primavera é retratada na Bíblia como um período com chuvas amenas ou serôdias (Dt 11.14; Jó 29.23; Pv 16.15; Jr 3.3; Jr 5.24; Jl 2.23) em que os campos brotavam e produziam (Ct 2.11; Am 7.1; Zc 10.1) e a fertilidade era presente até mesmo onde menos era esperada (Gn 18.14). Por ser um período com temperatura agradável era também o momento propício para as batalhas (2 Sm 11.1; 1 Rs 20.26; 2 Rs 13.20; 1 Cr 20.1; 2 Cr 24.23; 2 Cr 36.10).

Mas, para os israelitas o acontecimento mais marcante da primavera foi a Páscoa (Ex 12.2). Após o êxodo da escravidão do Egito, a primavera passou a significar um verdadeiro renascimento do povo de Israel, a passagem de uma estação de escravidão e morte para uma estação de vida e liberdade. Anos depois, Jesus viria a dar novo sentido a páscoa e a primavera. De uma forma muito mais que simbólica Jesus morreu e ressuscitou na primavera, dando início não a um ano novo, mas um novo tempo para a humanidade.

Jesus venceu a morte de uma vez para sempre! Ele é a rosa de Saron, o lírio dos vales (Ct. 2.1), a mais bela flor da primavera de Deus!

Lidice Meyer Pinto Ribeiro, Antropóloga, Professora Convidada na Univ. Lusófona, Lisboa.

 

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