Dando continuidade à série de artigos sobre as drogas, quero falar hoje sobre a codependência.
A codependência é uma patologia, um transtorno emocional conhecido e discutido desde a década de 1970, relacionado principalmente a familiares e pessoas próximas, que tem vínculos emocionais com dependentes químicos.
A característica principal consiste no que podemos chamar de “atadura emocional”, ou seja, a pessoa se liga à patologia do outro, desenvolvendo uma grande dificuldade para colocar limites ao comportamento problemático do doente, bem como avaliar situações pertinentes com a maturidade necessária.
A esposa passiva e tolerante com todas as consequências decorrentes do alcoolismo do marido, como perda do emprego, agressividade, irresponsabilidades, etc., a pessoa que suporta qualquer tipo de abuso do cônjuge por medo das chantagens emocionais feitas por ele, como, por exemplo, a separação. A mãe que lida com o filho como se fosse uma criança, despercebida da gravidade da situação, entre outros exemplos.
Codependentes são caracterizados pela baixa autoestima, e toleram situações complexas, como agressões verbais e até mesmo físicas.
Codependência, portanto, é um quadro de transtorno que traz dificuldades, não somente para a pessoa que a possui, mas também para o dependente químico. É necessário entender que a codependência carece de cuidados tanto quanto o necessita o próprio usuário, que é aprisionado no mundo das drogas.
O codependente também é um prisioneiro, não dos entorpecentes, mas de suas próprias emoções. Se sente culpado do problema do seu ente querido, não conseguindo lidar com ele sem vivenciar dificuldades principalmente de ordem emocional. Além do sentimento de culpa, cria uma relação de cuidado exacerbado com o dependente, o que, via de regra, atrapalha até no tratamento.
Codependentes são caracterizados, entre outras posturas, por possuírem uma baixa autoestima, e sentem-se úteis e valorizados somente quando cuidam (ou imaginam estar cuidando) buscando sempre resolver os problemas do outro, tolerando, inclusive, situações complexas, tais como agressões verbais e até mesmo físicas.
Temem perder o amor do outro, e necessitam da aprovação alheia. Mesmo sem perceber, desejam ser vistos como vítimas ou mártires. Acreditam sinceramente com isso, que há um ganho, apesar do sofrimento muito grande que vivenciam ao tolerar certos tipos de abuso.
Os codependentes estão sempre prontos a socorrer o ente querido, na maioria das vezes, de forma errada, não se importando as circunstâncias nem tão pouco as consequências. Apresentam dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis e sentem uma necessidade obsessiva de controlar e cuidar do comportamento do outro, o que faz com que se tornem pseudo conselheiros o tempo todo, imaginando que sempre terão boas soluções, sem perceber que também estão sob as mesmas algemas daquele que tentam ajudar.
Não se torne codependente. Haja com amor, mas com rigor. Atenda todas as recomendações do terapeuta responsável pelo tratamento, e seja firme.
Normalmente entendem que a melhor forma de ajudar o dependente em tratamento, é atendendo às demandas apresentadas por ele, o que fazem muitas vezes sem consultar os terapeutas.
Por exemplo, no meio de um tratamento, antes de serem consolidados os cuidados necessários para que o paciente se veja livre desta situação e possa retornar ao convívio da família com maiores chances de superar o problema, o mesmo pede para sair, ou da comunidade terapêutica, ou do processo de acompanhamento profissional multidisciplinar no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) alegando já estar curado, pronto para voltar, o que não procede pois o tratamento tem um prazo mínimo, e é exatamente o prazo necessário para lidar com a síndrome de abstinência, bem como para uma observação criteriosa do especialista que cuida do caso.
Assim, se deixa levar pela “conversa fiada” daquele que está em tratamento, e que provavelmente quer sair por causa de uma fissura ou pela síndrome de abstinência, atrapalhando o processo terapêutico.
Isso é tão grave que já se teve notícias sobre codependentes que levaram substâncias entorpecentes para os usuários em tratamento, atendendo ao pedido dos mesmos que alegavam não suportar a abstinência, causando assim transtorno terrível, tanto no tratamento deste, quanto no próprio funcionamento da instituição que o abriga.
Se você tem no seu relacionamento alguém com dependência química, fique atento para não se tornar codependente. Haja com amor, mas com rigor. Atenda todas as recomendações do terapeuta responsável pelo tratamento, e seja firme.
Não acredite em tudo que o dependente fala, pois se estiver vivendo uma síndrome de abstinência, não terá lucidez suficiente para avaliar sua situação, nem tão pouco limites para conseguir a substância que “o acalma”. Por outro lado, se você já está em um quadro de codependência, procure um especialista, até porque se você ama a pessoa que está em tratamento, e deseja que ela fique bem, você também precisa se tratar.
Quer ajudar? Submeta a Deus diariamente sua demanda, observe as orientações do terapeuta que cuida do DQ (dependente químico), procure um especialista sério e qualificado e creia que para Deus tudo é possível. Deus te abençoe e ministre a cura da sua família.
Celso Godoy é pastor batista, terapeuta e conselheiro. Especialista em dependência química.
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