Somos distintos, mas a nossa comunhão é sustentada pelos fortes laços do fraterno amor, que possui três dobras: eu, você e Deus

O complexo de inferioridade produz pedantismo; enquanto o medo gera agressividade.
Mas, se a pessoa for equilibrada e polida vivendo indiferente a Deus, será tão carente de
misericórdia como um indivíduo desajustado e tosco. O cristão fiel não vive para ser
(de fora para dentro); ele vive porque é (de dentro para fora).

Na relação com Deus, nosso ser é como um espelho. Diante de um espelho limpo nós
nos vemos claramente nele; se sujo, não. Havendo entraves em nós, a visão de Deus será
embaçada, e a Graça não fluirá. “Os limpos de coração verão a Deus” (Mateus 5: 8) e
com amor refletirão Deus ao mundo (João 13: 35).

O ímpio não vê Deus. Cético e cego, ele basta a si mesmo. Em sendo como um espelho
sujo, em sua zona de conforto, egoicamente embriagado na autoadoração, sobrevive na
escuridão, fechado a novas possibilidades espirituais, e caminha como néscio, rumo à
perdição.

Cristo tem “todo o poder no Céu e na terra” (Mateus 28: 18). Contudo, em obediência e
por amor, Ele deixou a Sua Glória no Céu, rebaixando-Se à condição terrena, vindo a
ser um homem. Viveu servindo às pessoas e, finalmente, submeteu-Se à morte de Cruz
(Filipenses 2: 8).

Ele Se humilhou e, depois, Deus O exaltou (Filipenses 2: 9). É isso que ocorre com
quem O recebe como Senhor e Salvador: destronizando o ego e entronizando Jesus
Cristo, torna-se cristão. Recebe filiação Divina (João 1: 12), e Vida Eterna (João 3: 16).
É redimido, e ganha muitos irmãos que compartilham a mesma fé.

Quem atua em nós nessa transformação de “bios”, vida humana, para “zoe”, vida
Divina, é o Espírito de Deus. Esse processo é tal qual o da limpeza de um espelho sujo
que, na teologia, recebe o nome de conversão, cujo processo envolve arrependimento, fé
e regeneração. O homem natural esvazia-se para encher-se do Espiritual.

Se você já é um cristão, deixe-me parafrasear C. S. Lewis para lhe dizer algo mais.
Coisas diferentes podem estar juntas (Exemplo: orelha e ouvido) e coisas iguais pode estar separadas (Exemplo: notas de R$ 100,00). Então, por favor, não force seu irmão a
ser igual a você.

Isso seria uma violência, uma introjeção na linguagem da psicologia gestáltica. Mas se
nosso irmão estiver em apuro e negarmos ajuda a ele, estaremos pecando porque, ainda
que diferentes, estamos juntos, como membros, formando um corpo, cuja cabeça é
Cristo, que tem uma mensagem transformadora para o mundo.

Esse corpo é a Igreja de Cristo. Os redimidos formam uma comunidade de redenção. A
igreja é um organismo vivo que, como um espelho, reflete Cristo, por meio de seus
membros. Um membro separado do corpo humano perde a sua função. Membros
desligados do corpo de Cristo ofuscam.

Porém, é importante pensarmos no real significado de adorar a Deus em espírito e em
verdade (João 4: 23). Na igreja, a comunhão e o amor fraterno são importantes, mas se
dependermos totalmente de outros, nossa vida espiritual não irá bem, porque denotará
imaturidade.

Viver obedientemente, adorando e louvando a Deus é uma forma de cultuá-Lo, porque
cada cristão fiel representa a Igreja onde estiver. José é uma ótima referência. Mesmo
enfrentando as mais hostis, sombrias e solitárias circunstâncias não vacilou (Gênesis 39
a 41).

Somos diferentes uns dos outros. Estamos juntos como membros do corpo de Cristo.
Trabalhamos na obra e testemunhamos, individualmente, por onde andamos, ainda que
separados. Somos distintos, mas a nossa comunhão é sustentada pelos fortes laços do
fraterno amor que possui três dobras – Eu, você e Deus.

Clovis Rosa Nery é Psicólogo, pesquisador e escritor.