Neuropsicólogo explora as bases cerebrais da crença e desafia a ciência a estudar a espiritualidade
Por Patrícia Esteves
A relação entre fé e ciência é um tema que desperta controvérsias há séculos, especialmente quando envolve explorar a espiritualidade no contexto científico. O neuropsicólogo Jordan Grafman, que recentemente firmou uma parceria para criar um centro virtual de pesquisas em “neurociência das crenças”, acredita que o estudo do cérebro pode oferecer novas compreensões sobre o papel da fé e sua influência nas decisões e no bem-estar das pessoas. Esse centro, que reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros, visa investigar as bases cerebrais das crenças religiosas e como essas crenças podem moldar o comportamento humano. Embora alguns cientistas ainda hesitem em explorar esse campo, o neuropsicólogo afirma com convicção: “Deus existe. Tenho confiança de que Deus existe no cérebro”.
Para ele, o estudo das crenças religiosas é essencial, pois a fé desempenha um papel significativo na sociedade e na identidade de cada indivíduo. “As pessoas frequentemente se apegam a crenças que oferecem conforto e reduzem a ansiedade”, observa o neuropsicólogo. “Se você tem uma crença estabelecida, ela traz um tipo de estabilidade; sem isso, a ansiedade pode tomar conta”. Segundo o estudioso, o cérebro humano é naturalmente inclinado a buscar explicações para fenômenos, e em culturas ao redor do mundo, desde os primórdios, a crença em agentes superiores ajudou a organizar e unificar comunidades.
A abordagem científica do neuropsicólogo sugere que a crença religiosa, assim como as emoções e os sonhos, possui uma “assinatura” no cérebro, que pode ser mapeada e analisada. Ele explica que uma vez que alguém é exposto à ideia de Deus, essa representação se fixa no cérebro, influenciando não só suas crenças religiosas, mas também outras áreas, como a política e até o senso de pertencimento. “Mesmo ateus, ao serem expostos à ideia de Deus, criam uma representação Dele em seus cérebros; é algo inevitável,” afirma ele.
Para a comunidade cristã, esse estudo levanta discussões interessantes sobre como a fé, que muitas vezes é descrita na Bíblia como “certeza das coisas que se esperam, e a convicção de fatos que se não veem” (Hebreus 11:1), poderia ter correlações mensuráveis no cérebro. Esse aspecto neurocientífico da crença, embora intrigante, não diminui a dimensão espiritual da fé. Em vez disso, revela como a mente humana reage à necessidade de respostas e de sentido. Para os cristãos, essa “assinatura” cerebral pode ser vista como mais uma evidência da ação de Deus na vida humana, uma manifestação da busca espiritual intrínseca que Ele próprio colocou no homem.
A parceria do neuropsicólogo com instituições internacionais e com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) no Brasil aponta para um interesse crescente em compreender como a fé e a espiritualidade afetam a saúde e o bem-estar. Estudos recentes indicam que a fé pode, de fato, trazer benefícios à saúde, como a redução do estresse e o fortalecimento emocional. O neuropsicólogo explica: “Alta ansiedade leva ao estresse, e o estresse pode prejudicar o cérebro. A fé, como o efeito placebo, tem o poder de reduzir a ansiedade e promover respostas de cura. É o que chamamos de poder da crença”.
Embora alguns cientistas ainda vejam o estudo da espiritualidade como um campo incerto, Jordan Grafman enfatiza a importância de superar preconceitos acadêmicos. “Infelizmente, muitos periódicos hesitam em publicar estudos sobre religião por temerem ser vistos como parciais,” comenta. Para ele, a ciência não deve ignorar o impacto da espiritualidade, que influencia bilhões de pessoas ao redor do mundo.
Ao final, os avanços nas pesquisas sobre neurociência e fé talvez não tragam respostas definitivas sobre a existência de Deus, mas podem ajudar a sociedade a entender melhor o papel da crença e da espiritualidade na vida cotidiana. Em última análise, a fé, além de ser um dom espiritual, é um fenômeno com raízes profundas na estrutura humana, tanto biológica quanto social, sendo um elo que transcende o debate entre ciência e religião. Essa perspectiva pode inspirar a comunidade científica a olhar para a fé com um olhar renovado e com respeito, aceitando que a espiritualidade, ainda que misteriosa, é uma parte vital do que significa ser humano.