Deus tem tudo a ver com a escolha profissional de uma pessoa. Temer ao Senhor é respeitar sua Palavra e o seu desejo para alcançarmos vitória
Por Syria Luppi [Atualizado por Márcia Rodrigues]
A fase da adolescência é marcada por escolhas, algumas delas que nos acompanham pelo resto de nossas vidas, mas dentre estas escolhas uma se destaca: a profissional. O que para a grande maioria deles é aterrorizante, uma vez que, na adolescência, o jovem ainda não é capaz de ver com clareza a importância dessa escolha.
Tomar decisões sérias e fazer escolhas que podem ter consequências duradouras em nossas vidas já é algo difícil quando se é adulto. Imagine, então, quanto se é adolescente. A escolha de uma profissão que exige formação de nível superior acontece aos 17 ou 18 anos porque tem como requisito o término do Ensino Médio, que se dá geralmente nessa idade. Logo, a escolha é uma determinação sociocultural e, aparentemente, não tem nada a ver com o amadurecimento intelectual da pessoa.
De acordo com o psicólogo Alex Sandro Alves de Azeredo, não é adequado escolher uma profissão tão cedo, mas, infelizmente, é isso o que acontece hoje. “Na fase da adolescência, vive-se um momento de construção. Construção de uma identidade, de valores, de caráter. O adolescente procura experimentar, conhecer o mundo que o rodeia, não implicando isso em responsabilidade. Ele quer ver ‘o que vai dar’ e, se não gostar, ele troca, larga e parte para outros conhecimentos. No caso da profissão, exige-se que ele faça uma escolha para toda a vida; uma escolha responsável. Esse momento de ter que escolher a profissão, mesmo não estando preparado, pode ocasionar um grande desgaste psicológico no adolescente, levando-o até mesmo à depressão. Para mim, uma escolha tão séria como essa em tão tenra idade é uma grande violência”.
A situação é difícil e merece muita atenção, porque arriscar um investimento de quatro ou cinco anos numa formação em faculdade e descobrir que não era nada disso o que realmente desejava é, no mínimo, perda de tempo e dinheiro. Muitas vezes a inexperiência, a falta de informação e o conhecimento insuficiente da própria personalidade levam os jovens a um resultado negativo.
Os missionários Magrão e Fernanda trabalham com aconselhamento de adolescentes e são autores do livro “Minha escolha profissional: o que Deus tem a ver com isso?” (Editora Vida). Eles destacam as grandes transformações que nossa sociedade vivencia e o quanto elas influenciam nosso modo de pensar e nosso relacionamento com as pessoas. “O mundo não é mais o mesmo, tantas são as transformações pelas quais temos passado: o avanço das ciências biológicas, o desenvolvimento tecnológico, as mudanças na economia e na cultura. Já parou para refletir sobre os efeitos dessas mudanças na vida das pessoas?”, questionam. Nesse aspecto, é importante que o jovem busque orientação para trilhar no caminho certo. Mas de onde viria essa orientação?
Deus
Deus tem tudo a ver com a escolha profissional de uma pessoa. Para o psicólogo Alex Sandro, “quando o adolescente convida Deus para ajudá-lo nessa escolha, ele fica menos sobrecarregado. Deus entra nessa escolha dando ao adolescente equilíbrio emocional e psicológico. Sabendo que Deus está com ele, o adolescente não se sente mais sozinho. Mas é bom lembrar que Deus está apenas junto, acompanhando, orientando, mas quem vai escolher a profissão é o adolescente. Essa responsabilidade é dele”.

Da mesma opinião compartilha a psicóloga cristã Débora Monteiro Coelho. Segundo ela, todas as nossas escolhas devem ser direcionadas e conduzidas por Deus. “Sem, a direção do Senhor, sempre iremos falhar, já que somos muito momentâneos e a nossa visão é estreita. Assim, há caminhos que ao homem lhe parecem bons, mas no fim podem ser caminhos de morte”.
O jovem deve orar e não se desesperar frente às dúvidas. Em Mt 6:25 a 34 e Fl 4:6 e 7 encontramos passagens encorajadoras. “Ao homem que teme ao Senhor, Ele o instruirá no caminho que deve escolher. Na prosperidade repousará sua alma, e a sua descendência herdará a terra” (Salmos 25: 12,13).
Temer ao Senhor é respeitar a sua Palavra e o seu desejo de nos mostrar qual o caminho que devemos seguir para alcançarmos vitória. Quantos jovens e adolescentes, por não terem intimidade e temor a Deus, estão perdidos achando que estão no caminho certo?
Magrão e Fernanda orientam o jovem a refletir sobre a situação e deixar o Senhor falar. “Nossas escolhas e decisões ficam então sob a orientação de Deus, para que ele cumpra seu divino propósito em nós. É importante o jovem fazer uma autoanálise, procurar saber quais são suas expectativas em relação ao futuro, o que espera da vida. Deus nos deu a liberdade de escolha, mas devemos sempre perguntar: ‘Senhor, quais são os seus planos para mim?’ Isso deve se aplicar a todas as áreas de nossa vida”.
O pr. Adilson Romualdo Neves diz que “o maior interesse de Deus é prover felicidade a todos os seus, principalmente os que têm temor. Por isso, devemos buscar com fé no Senhor a sua graça em nos dar a bênção da melhor escolha”. De acordo com ele, entregar o seu caminho ao Senhor é o princípio fundamental para ter sucesso na vida. “Os que confiam em Deus sabem que Ele fará sempre o melhor. Porém, cabe ao ser humano fazer a sua parte, ou seja, preparar-se para os desafios da vida, dentre os quais o mercado de trabalho”.
Pastor Adilson ainda considera que “a vivência de um projeto profissional está inserida em um projeto maior de vida, que pressupõe descobrir seus valores, princípios, metas e o sentido de sua vida. Os jovens que desenvolvem a competência de estabelecer propósitos na vida parecem ficar muito mais autoconfiantes e com maior autoestima. De Deus pode vir essa confiança necessária”.
A Igreja, segundo o pr. Adilson, também tem papel fundamental no processo de decisão profissional do jovem. “A igreja deve ser incentivadora e atuar no papel da orientação vocacional. Dar a oportunidade aos adolescentes de refletir sobre os elementos que compõem a escolha da profissão, explorando o conhecimento de si mesmo e do mundo do trabalho. Creio que a Escola Bíblica tem fundamental importância nesse processo, através da criação de uma grade curricular que contemple essa demanda da juventude”.
Pais

A função dos pais é muito importante para a escolha profissional do filho. A maneira como os pais se posicionam diante dessa dúvida fará toda a diferença. A família desde muito cedo joga expectativas e determina valores para a criança, isso é fato. Mas essa atitude pode, muitas vezes, frustrar o adolescente, que se vê influenciado demais pelos pais e sem coragem para assumir o que deseja realmente. Os estudiosos e psicólogos defendem a idéia de que os pais devem explicitar suas expectativas preferencialmente de forma não autoritária, para que o jovem tenha parâmetros para tomar sua decisão. A escolha poderá ou não respeitar as expectativas, mas o importante é que foi dado ao jovem mais elementos para pensar na sua decisão.
O jovem, por sua vez, se depara com uma infinidade de possibilidades. Para se ter uma idéia, as universidades brasileiras oferecem mais de 300 cursos diferentes, segundo o Ministério da Educação. Por vezes o jovem preocupa-se se a futura profissão lhe será rentável – afinal, é com ela que ele irá sobreviver e é por meio dela que poderá realizar muitos de seus projetos de vida. Talvez o medo de arriscar outro caminho pese e o jovem acabe sucedendo os pais em alguma atividade.
Os pais podem dar aquela força ajudando-os a descobrir suas áreas de interesses e afinidades, mostrando prós e contras e dando suporte emocional. “Os pais devem ajudar o jovem a estar tranqüilo, centrado nesta hora de decisão tão importante. Eles devem estimular a ajuda profissional, sempre que houver conflitos quanto à escolha profissional. É importante que os pais não pressionem os filhos, desejosos de que eles escolham o que eles querem, mas eles devem respeitar o direito de escolha do filho. Lógico que devem orientar, mas, sem pressionar esquecer que os filhos crescem rumo a autonomia”, falou Débora Monteiro Coelho.
Orientação vocacional
Um instrumento poderoso para diminuir o drama da escolha profissional é a orientação vocacional, um conjunto de técnicas e ferramentas organizado para ajudar as pessoas a escolher, com margem reduzida de erro, uma profissão ou curso superior.
Vânia Reis, psicóloga, diretora do Grupo de Atendimento Psicológico (GAP), que aplica a orientação vocacional, revela que “após uma entrevista, levanta-se o nível mental e o perfil de personalidade e os interesses em pelo menos três testes diferentes (por área) para se ter uma margem de segurança da consistência dos dados levantados. Com essas informações em mãos damos início ao processo de orientação vocacional”.
Ela explica que o teste é indicado para todos os adolescentes que estão em dúvida. “É preciso deixar claro que o teste é parte do processo, não o processo. É comum o adolescente confundir entre seu desejo real, com as pressões da sociedade em geral – mercado de trabalho, emprego, remuneração, status, etc. – ou os anseios de seus pais, em particular, e a desinformação a respeito das profissões e, assim, não conseguir entrar em contato com clareza consigo mesmo. Mas é sempre válido fazer o teste”.

A orientação vocacional inclui também jogos, dinâmicas, debates e entrevistas com profissionais das áreas de interesse dos jovens, entre outras atividades,. O objetivo principal é ajuda-lo a conhecer-se melhor e, a partir de uma gama de possibilidades, definir duas ou três áreas de interesse, pois, muitas vezes, os jovens chegam até a orientação, pensando que gostam de tudo ou que não querem nada.
Para o psicólogo Alex Sandro, a melhor escolha profissional contempla vários fatores. “O dinheiro é necessário. Todo mundo quer trabalhar e ter um bom salário. A opinião dos pais e o apoio deles são importantes também. É bom ouvir os pais. Mas só ouvir, não deixando que eles assumam a responsabilidade da escolha. A satisfação virá por conta do bom salário e do apoio dos pais na escolha que o filho fez”.
Esta é uma versão reduzida e atualizada da matéria publicada originalmente na edição 95 da Revista Comunhão, de Março de 2005. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.