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sexta-feira, 19 abril 2024

“Descontroladas, nervosas e inseguras”. Adjetivos que rotulam as mulheres

Preconceito no trabalho Foto: Divulgação

Pesquisas revelam o desrespeito às mulheres nas mais diversas situações e ambientes. Apesar das mudanças históricas, ainda há uma cultura que insiste em desvalorizar a trabalhadora, diminuir seu potencial e desconstruir sua palavra

Por Lilia Barros

As mulheres lidam com o preconceito todos os dias. Elas recebem em média 26% menos que homens no ES, segundo o Observatório de Políticas Públicas para Mulheres no Espírito Santo. Somado a desigualdade salarial, mesmo atuando com alto desempenho e na mesma área de um homem, muitos adjetivos dados a elas têm como intuito desacreditar ou rotular as trabalhadoras dentro do ambiente corporativo. Frágil, insegura, histérica, descontrolada são termos que tem se naturalizado e impedido o acesso delas a postos mais altos ou ao simples reconhecimento de sua capacidade.

No final de março, o Fórum Econômico Mundial divulgou os dados do Novo Relatório Global de Gênero que faz comparações na educação, saúde, política e economia. Foi constatado que o tempo necessário para alcançar a paridade salarial dos homens passou de 99,5 para 135,6 anos nos últimos 12 meses. O ranking conta com 156 países, sendo que o Brasil está em 93º lugar, caindo uma posição em relação a 2020.

Outra recente pesquisa feita pela Discovery Brasil revela que 41% das entrevistadas disseram que outros homens da sua área não as enxergam no mesmo nível. O estudo chamado de “O fenômeno de impostora” ouviu 1.250 mulheres concluindo que 57,3% das profissionais se lembram mais das críticas que recebem do que dos elogios.

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E o preconceito dentro da igreja?

O preconceito pode ir além do ambiente corporativo e familiar. Embora as mulheres estejam se tornando cada dia pilares na igreja, servindo em vários ministérios, será que ainda existe tratamento diferenciado nas comunidades cristãs?

Criada em um ambiente machista, a pastora Nefertiti Goncalves, da Igreja Sara Nossa Terra, no Recreio (RJ) conta que sempre buscou se respeitar e colocar limites no outro, o que a fez alcançar respeito do próximo.

“Sim, eu mesma já passei por algumas privações, mas sabia quem eu era e qual meu lugar no ambiente. É uma crença forte que é apresentada desde a infância, menina faz assim e menino faz assim, crescemos em um ambiente que dita as regras e isso vira crença e dificulta a mudança de pensamento e atitude. É muito complexo visto que as pessoas acreditam que as mulheres nasceram só para determinadas tarefas, por outro lado eu acredito que existe muita disputa e vontade de provar quem você é através da força. O mais importante é realmente se conhecer a si mesmo e saber qual o seu lugar e propósito de vida pois o maior problema de ambos os lados é que não sabem quem são e para que vieram a essa vida e acabam se destruindo uns aos outros. Acredito que um comportamento de respeito próprio não dará ao outro oportunidade de agir com desrespeito”, ensina a pastora.

O pastor da Igreja Nova, no RJ, Maurício Fragale, considera vergonhoso para a sociedade e para a igreja que depois de décadas de luta pela igualdade entre as pessoas isso ainda exista. “É uma vergonha que a essa altura do campeonato, no século XXI, a humanidade ainda esteja debatendo, discutindo coisas como machismo e racismo. As mulheres assumiram seus espaços no mercado de trabalho. Martin Luter King, Nelson Mandela e outros lutaram por igualdade racial, de gênero, as próprias pesquisas científicas mostram que nos seres humanos não existem raças e o fato de o ser humano ter mais pigmento na pele do que o outro, seja homem ou mulher, não coloca os colocam como raça diferente. A humanidade ainda está brigando e isso demonstra uma incompetência muito grande nas áreas de ensino, de orientação de pais, de professores, de não conseguir colocar na cabeça daqueles que hoje já são adultos mas que um dia foram crianças, a realidade sobre esses temas respeito ao próximo independente de cor, sexo, já deveríamos estar vivendo outro tipo de sociedade pelo tempo passado, pelas lutas e conquistas. Lógico que a gente sabe que esse tipo de postura ainda existe inclusive dentro da igreja. O que a gente precisa é de educação, as crianças precisam ser educadas não no sentido delas serem doutrinadas, mas esclarecidas para crescerem com uma mentalidade correta em relação ao próximo, de respeito e amor. Isso faz parte do fator educação dentro e fora da igreja.

Disciplina resolve?

Problemas de comportamento, pecado, são tratados dentro da igreja como um ato de indisciplina, mas se se estamos falando de pessoas sendo disciplinadas por causa de atitudes ou palavras preconceituosas ou ofensivas, a disciplina vai resolver o problema?

Para Maurício Fragale, essa é uma questão que parte da postura da liderança da igreja. “Se o pastor se posiciona, a igreja se posiciona, e aquele que agir de forma preconceituosa será imediatamente identificado e sua atitude confrontada em amor pelos próprios membros da igreja, na esperança de que entenda que tal atitude não se coaduna com o real cristianismo. Caso tal pessoa se recuse a aprender e mudar, acabará por se sentir um peixe fora d’água, e acabará por sair. Em nossa igreja a experiência a tem sido positiva, e temos conseguido formar uma igreja inclusiva, que respeita as pessoas e as ama de forma indistinta”.

Nefertiti Goncalves conta sua própria experiência. “Vim de um ministério onde só homens tinham cargos e posições mas isso não me feria, acreditava que era a visão deles e eu não me sentia menor nem pior por isso. Mas segui me capacitando para servir a Deus da melhor forma e num determinado momento eu era a única preparada para assumir uma responsabilidade em uma área da comunidade, sem desejar e nem me esforçar para isso, fui convidada a frequentar as reuniões do conselho e a ter voz e capacidade para tal tarefa. Experimentei algumas vezes um auditório só de líderes homens ouvindo o que eu tinha a ensinar. Isso para mim não era algo extraordinário e sim apenas ser eu mesma independente do que o outro acha ou pensa”.

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