A Palavra de Deus e a psicologia são aliadas importantes no enfrentamento da doença. Juntas, ajudam a promover o bem-estar espiritual e a saúde mental
Por Patricia Scott
Ao redor do mundo, 300 milhões de pessoas sofrem de depressão, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Na América Latina, o Brasil é o país com a maior prevalência dessa doença, conforme o relatório “Depressão e outros transtornos mentais”, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Dados do último mapeamento realizado pela OMS apontam que 5,8% da população brasileira têm depressão. Isso significa 11,7 milhões de brasileiros. E um estudo epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde revela que, nos próximos anos, até 15,5% da população no país poderá ter depressão ao menos uma vez ao longo da vida.
O psiquiatra Pedro Onari esclarece que a causa física da depressão está ligada à diminuição dos neurotransmissores cerebrais, que são fundamentais para o bom funcionamento das funções mentais. Ele afirma que os principais neurotransmissores são serotonina [humor, energia libidinal, estabilidade emocional, sono e apetite], noradrenalina [aumento da energia química no organismo, diminuição causa desânimo, perda da vontade e disposição] e dopamina [humor e ansiedade].
“Pessoas na família com depressão aumentam o risco da depressão. Além disso, doenças cardíacas, câncer, dor crônica e mau funcionamento da tireoide (hipotireoidismo) podem desencadear ou agravar sintomas depressivos”, esclarece Onari, que considera que o aumento no número dos casos tem relação com mudanças rápidas na vida moderna, como “isolamento social, pressão social, uso excessivo de tecnologia, expectativas elevadas e competitividade na sociedade contemporânea”, cita.
Psicologia e Bíblia
A psicanalista Patrícia Candal explica que a depressão é uma condição complexa e multifacetada, que pode ser entendida a partir de várias perspectivas, incluindo a psicologia e a Bíblia, cada uma oferecendo insights valiosos sobre causas, efeitos e formas de prevenção. Na psicologia, “a doença é vista como resultado de uma interação entre fatores biológicos. Predisposição genética e desequilíbrios químicos no cérebro podem tornar algumas pessoas mais suscetíveis à depressão”, considera.
Além disso, a especialista observa que experiências traumáticas, estresse prolongado e certos traços de personalidade, como pessimismo extremo, podem contribuir para o desenvolvimento da depressão. Patrícia cita, ainda, fatores sociais: relações interpessoais conturbadas, isolamento e condições socioeconômicas difíceis também desempenham um papel significativo.
Sob a perspectiva bíblica, a psicóloga esclarece que a depressão pode ser compreendida como parte da condição humana em um mundo imperfeito. “As Sagradas Escrituras reconhecem a dor e o sofrimento como realidades da vida. O pecado original, segundo a Bíblia, trouxe consigo dor e sofrimento ao mundo, afetando a todos”.
Patrícia lembra que alguns personagens bíblicos, como Davi, Jó e Elias, passaram por períodos de profunda angústia e tristeza, refletindo a realidade da depressão. “A falta de propósito e o distanciamento de Deus também são vistos como causas potenciais de sentimentos de desespero e vazio”, comenta.
Patrícia pondera que, enquanto a psicologia fornece ferramentas práticas e baseadas em evidências para lidar com a depressão, a Bíblia oferece uma visão espiritual e uma fonte de esperança através de uma relação profunda com Deus. “Juntas, essas abordagens podem ajudar a promover a saúde mental e o bem-estar espiritual”.
Orientações preventivas
A depressão dificulta a rotina diária, afetando o trabalho, as relações pessoais e a capacidade de manter um cotidiano normal. Por isso, é importante a prevenção que, segundo Patrícia, envolve estratégias que abordam os fatores de risco e promovem a saúde mental.
“Estilos de vida saudáveis, como a prática regular de exercícios físicos, uma alimentação balanceada e sono adequado, são fundamentais. Manter redes de suporte social e buscar ajuda psicológica precoce também são passos importantes para prevenir a depressão”, ressalta Patrícia, que é pastora na Igreja Batista Alegria, em Vitória (ES).
Ela pondera que a Palavra de Deus oferece orientações adicionais para a prevenção, enfatizando a importância de uma vida centrada no Senhor. “Práticas regulares de oração e meditação nas Escrituras podem trazer paz e renovar a mente”, elenca e finaliza: “Participar de uma comunidade de fé pode fornecer suporte emocional e espiritual, e confiar na soberania e no amor de Deus gera conforto e esperança em tempos de dificuldade”.
Sintomas da depressão
- Tristeza persistente
- Desesperança
- Perda do interesse em atividades que antes eram prazerosas
- Fadiga
- Alterações no apetite
- Oscilação no sono
- Dores inexplicáveis
- Sentimento de abandono
- Perda da paz
- Isolamento social
- Distanciamento de Deus
- Dificuldade de concentração
- Piora da memória
“Para que haja o diagnóstico preciso, é necessária, além da recorrência dos sintomas, a avaliação de um profissional de saúde”, diz a psicóloga Lívia Marques. Como fatores de risco a especialista cita: “estresse crônico, ansiedade crônica, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), mudanças e /ou perda de emprego ou situação financeira”.
Para a especialista, validar e não julgar é importante para o processo de tratamento. “Vale ter uma escuta ativa e atenta. Respeite os limites da pessoa e o seu próprio limite. Incentive o acompanhamento com profissional”, afirma Lívia.
Lívia alerta que a depressão ainda é envolta em preconceito. “Para que possamos abrir o diálogo, a informação é importante”, orienta e conclui:”Saúde mental é para todas as pessoas. Ela precisa chegar a todos os lugares”, destaca.