O Cristão não tem direito à aposentadoria, porque ao aposentar-se, ele esquecerá as profecias e sem as profecias ele se corrompe. Em se corrompendo, ele morre
Por Clovis Rosa Nery
Aqui, o protagonista é o apóstolo Paulo. Ele não sofria de autocomiseração, não olhava para os sofrimentos e privações. Olhando para frente, não aspirando aposentadoria, foi o homem missionário mais produtivo, ativo e proativo, que o mundo conheceu.
Visitei, em Roma, o local onde ele esteve preso, o cárcere Mamertino. Trata-se de uma masmorra escura no subsolo de uma rocha com o teto bem baixo, somente com porta de entrada, sem ventilação e úmida.
Spurgeon escrevendo sobre aquele sombrio lugar, disse: “São as próprias trevas”. Estive lá numa tarde de verão, quando experimentei um choque de realidade, em vista da sua hostilidade.
Dali, Paulo abandonado e desamparado pelos “irmãos”, aguardando a sua execução, em seus últimos escritos, confessa que, derramado em sacrifício, havia combatido o bom combate, acabado a carreira e guardado a fé (II Timóteo 1: 15, 4: 16, 4: 6 e 7).
A partir daquele momento pude entender com clareza a razão de o apóstolo haver solicitado a Timóteo que lhe enviasse a sua capa e apressasse para ir visitá-lo antes do inverno (II Timóteo 4: 13 e 21).
Focado em Cristo, não obstante as hostilidades circunstanciais, Paulo foi um exemplo para nós. Ele não vivia na inércia, desmotivado ou frustrado. A luz da palavra de Deus, acesa pelo interruptor da fé, era o seu combustível.
Infelizmente, cristãos estão morrendo porque estão se aposentando. Não temos o direito à aposentadoria. Ao aposentarmos, parafraseando Tim LaHaye, esqueceremos as profecias e sem elas nos corrompemos; enfim, morremos espiritualmente.
Cristãos à beira da morte são estranhos. Não negam que a Bíblia é a palavra de Deus, mas não a leem; concordam que através da oração o mundo pode ser transformado, mas não oram; afirmam que são incapazes de lesar alguém, mas sonegam o dízimo.
Outros são indiferentes às necessidades básicas de seus genitores. Também há aqueles que dizem que os crentes devem ser unidos, mas discriminam os mais humildes; advogam que Jesus voltará, mas vivem como se Ele não existisse.
Em certa ocasião, após concluir o exame de um processo, constatei tratar-se de um caso de estelionato. Decidi, então, ouvir o suspeito da fraude. O indivíduo discorreu com naturalidade a respeito de seus atos ímprobos.
Depois, certamente com intuito de angariar simpatia que pudesse atenuar a penalidade que lhe seria aplicada, afirmou que ele era um membro devoto de determinada religião cristã.
Assim, em alguns lugares, a Igreja possui doentes terminais. Atitude perigosa, repudiada por Deus, é professá-Lo com os lábios e contradizê-Lo com a vida. Denota um estado de espírito perigoso, que é o ceticismo; e outro pior ainda, o cinismo.
Resta-nos rogar a Deus que nos ajude a não tornarmos cristãos aposentados; que o Senhor nos mantenha vivos ─ ativos em Sua obra ─ vendo o mundo com os olhos d’Ele e, com fé e amor às almas, possamos orar como o Reverendo Alexander Whyte:
“Dá-me, Senhor, um Espírito cristão caridoso, humilde, misericordioso, manso, útil, leal e liberal; que eu não me aborreça por nada a não ser pelos meus próprios pecados e pelos pecados dos outros; […]; que eu possa escapar da Tua ira, que bem mereço, e habite no Teu amor; que eu seja Teu filho e servo fiel para sempre, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.”
Clovis Rosa Nery é Psicólogo, pesquisador e escritor.