Ex-presidente de Cuba, Raúl Castro sai de cena e encerra seis décadas do controle da família em Cuba. Sua saída pode influenciar mudanças em relação a religião no país
Por Priscilla Cerqueira
Pela primeira vez em seis décadas, a família Castro não exercerá o poder em Cuba. É o que líder comunista do país, Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, renunciou ao cargo. Ele estava na cúpula do poder há 62 anos.
“Continuarei militando como um combatente revolucionário a mais”, declarou ele, após defender “um maior dinamismo ao processo de atualização do modelo econômico e social” que vigora na ilha socialista e demonstrar o desejo de dialogar com os Estados Unidos.
“Ratifico, desde este congresso do Partido, a vontade de desenvolver um diálogo respeitoso e edificar um novo tipo de relação com os Estados Unidos”, sem renunciar “aos princípios da revolução e do socialismo”.
Ele reconheceu os “problemas estruturais” da economia do país, que vive uma grave crise, mas ordenou que se continue a colocar limites ao setor privado para evitar o que chamou de “destruição do socialismo”.
Afeta o evangelho no país?
De acordo com a doutora em antropologia, Lídice Meyer, ainda é cedo para termos ideias concretas de como a saída de Raúl Castro afetará o evangelismo cristão em Cuba. “Ao transferir a autoridade do governo do país para a próxima geração de líderes que não partilham de sua mesma herança histórica, Raul abre espaço para possíveis reformas econômicas e culturais”, explicou.
Lídice, que é cristã, e atualmente é professora na Universidade Lusófona, em Lisboa, Portugal, argumenta que “quanto mais membros da chamada ‘geração histórica’ saírem dos cargos de poder político, econômico e social, mais possibilidades de mudanças acontecerem em Cuba quanto a religião”.
Desde 1959, Cuba é governada por um único partido, o Partido Comunista de Cuba, que busca controlar a igreja cristã de acordo com os valores e ideologias comunistas. Líderes da igreja ou grupos cristãos que criticam o regime enfrentam detenção, sentenças de prisão e perseguição do governo e seus simpatizantes.
Embora o país não esteja no Top 50 da Lista Mundial da Perseguição 2021, a perseguição tem aumentado muito. Segundo Lídice, a saída de Raul Castro pode influenciar mudanças com a relação a religião no país, “pois o cristianismo pode ser visto pelo povo como uma nova alternativa para a vida, abrindo novas portas a evangelização”.