Desde que o grupo terrorista HTS assumiu o poder em Alepo, muitos cristãos fugiram, deixando para trás um grupo pequeno, mas decidido, tentando manter a fé e tradições
Por Patricia Scott
O líder rebelde Abu Mohammed al-Jawlani, à frente do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), fez sua primeira aparição pública após a derrubada do ditador sírio Bashar al-Assad, na histórica Mesquita dos Omíadas, em Damasco, capital da Síria. Acompanhado por uma multidão que clamava “Allahu akbar” (Deus é grande), al-Jawlani declarou que a Síria estava finalmente “livre” do regime de Assad. Ele enfatizou a importância da diversidade religiosa no país, mas também afirmou que “esta vitória, meus irmãos, é uma vitória para toda a nação islâmica”.
O discurso aconteceu no domingo (8), marcando simbolicamente a transição de poder no país. A Mesquita dos Omíadas, considerada o quarto lugar mais sagrado para os muçulmanos, foi palco das celebrações, refletindo o fim de 24 anos de governo de Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia após a ofensiva final dos insurgentes. Agora, pela primeira vez em quase 50 anos, a Síria não será liderada por um Assad.
Desde que o grupo terrorista HTS assumiu o poder em Alepo, muitos cristãos fugiram, deixando para trás um grupo pequeno, mas decidido, tentando manter sua fé e tradições. “Os próximos dias e semanas serão cruciais para o destino da comunidade cristã”, disse Jeff King, presidente da International Christian Concern, que acrescentou: “Os cristãos, com raízes que remontam a quase dois milênios, agora enfrentam um futuro incerto e perigoso.”
A mesma opinião é compartilhada por Portas Abertas: “Comunidades minoritárias, incluindo cristãos, estão se preparando para um futuro incerto. Precisamos orar por nossos irmãos e irmãs pedindo que Deus lhes dê força e coragem”.
Os toques de recolher impostos pelo grupo militante, das 17h às 5h, restringem ainda mais a vida cotidiana, deixando muitos moradores, incluindo cristãos, se sentindo confinados e vulneráveis. Pequenas vans que distribuem pão e água gratuitamente em alguns bairros proporcionam um alívio limitado.
Vários líderes cristãos permaneceram na cidade, oferecendo orientação espiritual e apoio prático às suas comunidades. Eles se comunicam por meio das mídias sociais, onde realizaram os serviços e orações. Os líderes estão encorajando os moradores cristãos a encarar a realidade com consciência, coragem e fé, segundo relatos.
Segundo analistas e estudiosos do Oriente Médio, as declarações de al-Jawlani indicam uma grande possibilidade de a Síria passar a ser governada por um regime teocrático. Isso pode significar que as minorias religiosas, incluindo os cristãos, enfrentariam um futuro incerto e perigoso sob o controle das forças rebeldes lideradas por islâmicos. Mesmo com a população cristã minoritária da cidade, significativamente reduzida após anos de guerra civil, persiste o medo de ameaças e restrições crescentes.
Há cerca de uma semana, as forças rebeldes islâmicas, lideradas por Hay’at Tahrir al-Sham, que é designada como uma organização terrorista pelos EUA e Reino Unido, tomaram Alepo. Em seguida, tomaram outras cidades, como Homs, e a capital, Damasco, no final da noite de sábado, em uma ofensiva abrangente que derrubou as forças do governo sírio.
Após 24 anos no poder, o presidente sírio Bashar al-Assad renunciou e deixou o país com sua família em um voo para a Rússia na noite de sábado, onde se encontra exilado sob a proteção de Vladimir Putin.
Proteção a cristãos
A facção islâmica HTS, que é um desdobramento da Al-Qaeda, prometeu proteger os civis, incluindo os cristãos. Conforme relatado pelo Al-Monitor, em Alepo, o líder al-Jawlani teria declarado: “Alepo sempre foi um ponto de encontro para civilizações e culturas, e continuará sendo, com uma longa história de diversidade cultural e religiosa”.
Apesar das garantias, os temores continuam entre os cerca de 30 mil cristãos de Alepo, uma diminuição em relação aos centenas de milhares que habitavam a cidade antes do início do conflito sírio, em 2011. O grupo Christian Solidarity International (CSI), com sede na Suíça, reagiu à garantia dada pelo HTS, afirmando: “A ideologia e a história do HTS oferecem às minorias religiosas em Alepo razões sérias para duvidar dessas promessas”.
O HTS frequentemente tem como alvo cristãos em toda a Síria, realizando ataques violentos e sequestros, matando esses civis e confiscando suas propriedades, conforme explicou o CSI. “Na visão de mundo salafista que orienta o HTS, os cristãos não são hereges a serem destruídos (como os alauítas e os drusos), mas sim ‘povo do Livro’ – seguidores de religiões reveladas antes da vinda do profeta [islâmico] Maomé. Em terras governadas pelo Islã, eles devem ser feitos dhimmis – um povo protegido, que é mantido em subordinação legal e paga um imposto adicional chamado jizya.”
“Até agora, o HTS tem evitado impor o status de dhimmi aos cristãos em Idlib, referindo-se a eles como musta’min, ou residentes temporários”, reconheceu o grupo. “Mas por quanto tempo o HTS manterá essa distinção?”, perguntou o CSI.
A comunidade cristã em Alepo historicamente se alinhou ao governo sírio, que, sob a liderança de Bashar al-Assad, um membro da minoria alauíta, foi visto como protetor das minorias. A ascensão dos rebeldes ao poder marca uma mudança dramática, despertando lembranças de perseguições passadas durante o regime do Estado Islâmico em partes da Síria. O EI perseguiu sistematicamente os cristãos, destruindo igrejas e realizando sequestros em massa, antes de ser derrotado em 2019. Com informações The Christian Post