Entender a fronteira entre exercer autoridade e cair no autoritarismo é essencial para pais que desejam educar filhos com amor, respeito e valores cristãos duradouros
Por Patrícia Esteves
A relação entre pais e filhos é um dos vínculos mais formadores da vida humana e também um dos mais desafiadores. Estabelecimento de limites, formas de diálogo e aplicação de disciplina, para muitos pais cristãos ainda são fontes de dúvidas e muitos se perguntam “qual é o limite saudável entre exercer autoridade e não escorregar para o autoritarismo”?
A resposta é mais complexa do que um simples sim ou não, mas pode ser um divisor de águas para quem deseja criar filhos íntegros, equilibrados e, principalmente, conscientes do valor da honra e do respeito no lar.
Em uma sociedade marcada por mudanças rápidas e constantes na forma como as famílias se estruturam, o papel da autoridade parental continua sendo indispensável. No entanto, como alerta a educadora Cris Poli, coordenadora pedagógica na Escola do Futuro Brasil, conhecida nacionalmente por seu trabalho como Supernanny, o modo como essa autoridade é exercida faz toda a diferença no desenvolvimento emocional, social e espiritual dos filhos.
“Os pais são autoridade na vida dos filhos, sem dúvida. Mas essa autoridade não deve ser imposta pela força, ela deve ser conquistada com amor e limites”, afirma Cris Poli, em entrevista exclusiva à Comunhão. Ela chama a atenção para o maior erro cometido por muitos pais, que é tentar “impor a autoridade (que Deus liberou com muito amor) com gritos e pela força, se tornando autoritários”.
O exemplo que ensina mais que as palavras
A distinção entre autoridade e autoritarismo começa no exemplo diário dos pais. Segundo Cris Poli, o papel dos pais é “fundamental na formação, não somente do respeito e da honra por parte dos filhos, mas de todo e qualquer traço de caráter ou comportamento, porque os filhos são atentos observadores e imitadores das atitudes dos pais”. Ou seja, muito além de discursos e ordens, o comportamento vivido pelos pais é o que modela o caráter dos filhos.


Esse conceito também é respaldado por pesquisas da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre desenvolvimento infantil, que indicam que crianças expostas a modelos coerentes de comportamento tendem a replicar tais atitudes na adolescência e vida adulta. Em outras palavras, autoridade saudável nasce da coerência entre o que se diz e o que se faz.
Amor e limites
O equilíbrio entre amor e limites é outro pilar essencial. Cris Poli explica que não se trata de permissividade, mas de um amor responsável e consciente. “O amor que, em equilíbrio com os limites, educa os filhos. Não é um amor permissivo, mas é um amor equilibrado com autoridade e responsabilidade, consciente da importância dos limites para formar os filhos preparados para viver em sociedade. A honra aos pais é consequência desse equilíbrio. Não é tarefa fácil, mas é necessária”.
Um lar que sabe combinar afeto e disciplina prepara o coração dos filhos para respeitar não apenas os pais, mas também as autoridades legítimas que encontrarão ao longo da vida.
A base inabalável dos princípios bíblicos
Para as famílias cristãs, a referência maior para exercer autoridade com equilíbrio está nas Escrituras. Cris Poli reforça que o conhecimento e a vivência da Palavra de Deus são o fundamento que sustentam a educação dos filhos. “Não são atitudes ou regras ou decisões arbitrárias que podem mudar dependendo das circunstâncias ou do humor dos pais, mas são firmadas nos valores e princípios bíblicos que apontam para honrar a Deus, em primeiro lugar, e aos pais, separados por Deus com o propósito eterno de educar os filhos no amor e temor de Deus”, reforça.
O cotidiano como sala de aula
Ensinar virtudes como respeito, empatia e gratidão acontece menos nos discursos formais e mais nas interações rotineiras, segundo a educadora. “(Pais ensinam) vivendo, praticando, interagindo, conversando, usando situações e até momentos de correção para trazer esses princípios exemplificando com a Palavra de Deus. Cultos domésticos são preciosos para ensinar esses, e outros, traços de caráter”, aconselha Cris Poli.

“Autoridade é uma coisa que está com você, que você precisa conquistar, que precisa ser exercida. E as crianças reconhecem as pessoas que têm autoridade”, diz em um de seus vídeos publicados no YouTube (Autoridade X Autoritarismo | Dicas da Cris). O que distingue a autoridade saudável é justamente essa conquista baseada na confiança, não no medo.
Autoridade vigilante
Se há algo que pais cristãos precisam manter em mente é que a linha entre autoridade e autoritarismo é sutil e exige constante vigilância. Exercer autoridade não é abrir mão do diálogo ou da escuta. Tampouco é abdicar dos limites e regras claras. O segredo está no coração com que se lidera o lar, que deve ser um coração que reflete o caráter de um Deus que corrige com amor e guia com paciência.
Pais que buscam honrar a Deus na forma como educam seus filhos são chamados a cultivar uma autoridade baseada em princípios firmes, mas vividos com humildade, coerência e respeito mútuo. Essa é a educação que marca gerações e reflete o ensino de Provérbios 22:6: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele”.