25.5 C
Vitória
sexta-feira, 19 abril 2024

Controvérsias assustadoras V

“Havendo incoerência entre a palavra e a ação é possível que o caráter esteja maculado”

Por Clovis Rosa Nery

A série de artigos intitulada “Controvérsias assustadoras” são sinopses de capítulos do livro “Desvios”. Acompanhe o artigo anterior aqui.

“Não olhem para mim, porque sou homem. Olhem para Jesus!”.  A parte final dessa afirmação está correta; mas, o restante quando inserido num contexto que sinalize comportamento contumaz, não está, por apontar indício de desvio, embasado numa espécie de pedagogia do esquivismo.

O pastor Juan Carlos Ortiz diz que ela “quer dizer o seguinte: eu já tentei e não consegui. Agora tente você”, uma de confissão de fracasso. Há contradição nela, porque Hebreus 13:7 concita-nos a observar a vida de nossos orientadores espirituais, e imitá-los na fé e, II Coríntios 3:2 diz: “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens”.

- Continua após a publicidade -

Falar uma coisa e fazer outra é comportamento farisaico (Mateus 23:3). No capítulo 2: 21 a 24, da epístola aos romanos, o apóstolo Paulo considera essa postura uma blasfêmia consciente.

Embora Paulo tenha escrito a Timóteo que era o principal pecador (I Timóteo 1:15), no versículo 12, do capítulo 4, da mesma carta, ele concita seu filho na fé a ser  um exemplo “na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza”.

Aos cristãos de Corinto, ele alertou: “Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo” (I Coríntios 11:1), repetindo, poucos anos depois, a mesma orientação aos filipenses (3: 17), acrescentando: “Tudo o que aprendestes, recebestes, ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; […]” (Filipenses 4: 9). E Jesus disse: “[…] resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus” (Mateus 5:16). Nessa mesma linha, o apóstolo Pedro orienta os anciãos a apascentarem o rebanho de Deus com exemplo (I Pedro 5: 2 e 3).

Deus, em seus desígnios, usa quem, como, onde e quando Ele quiser, até pagãos, como aconteceu com Nabucodonosor (Daniel 3 a 5) e Ciro (Isaías 44: 28 e 45: 1 a 4). Mas isso não significa concessão. Deus é dono e Senhor de todos, sejam obedientes ou desobedientes, bons ou maus, justos ou injustos, santos ou ímpios. Mesmo politeístas corrompidos como Nabucodonosor ou Ciro o Senhor pode designá-los para determinada missão. Mas isso não é garantia de atenuantes no julgamento final.  Indica que Deus é quem manda, porque Ele está no controle.

Se eu digo a meus liderados, ou a meus queridos leitores, que não olhem para mim, em outras palavras, estou dizendo que eu não inspiro confiança. Obviamente, tudo em mim não merece crédito, tais como meu falar, meu agir e meu pensar; enfim, sou um desqualificado, porque não vivo o que prego. Havendo incoerência entre a palavra e a ação é possível que o caráter esteja maculado.

Quando Jesus respondeu a Saulo, no caminho de Damasco, o que Ele disse?  − “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (Atos 9:5). Ele não disse que era Jesus, cujos discípulos estavam sendo perseguidos.  O Mestre dos mestres vive no mundo por meio de Seus discípulos. Fazer o mal a estes, significa uma perseguição literal a Ele. Se esta é a condição do discípulo, com que fundamento alguém pode dizer “não olhem para mim, […]”?

Mesmo sendo falhos e a nossa vida, no sentido lato, nem sempre ser uma boa referência, condescender com o fracasso é uma lástima. A não ser que sejamos cristãos carnais haveremos sempre de nos preocupar com os efeitos danosos ao evangelho, decorrentes de um eventual mau testemunho. Que adianta eu dizer que Cristo é meu Mestre, meu Rei e meu Senhor se eu não testemunhar?

Clovis Rosa Nery é psicólogo, pesquisador e escritor.

Mais Artigos

- Publicidade -

Comunhão Digital

Continua após a publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

Entrevistas