O hino foi inspirado no Yigdal, em hebraico, e adaptado por Thomas Olivers no século 18
Por Carolina Leão [Hinologia Cristã]
O hino “Ao Deus de Abraão Louvai” é um clássico cristão, interdenominacional. A história dessa composição que atravessa séculos foi lembrada pelo pastor Carlos Itamar Pimenta Jajewsky ao falar para o projeto Hinologia Cristã.
De acordo com a explicação do pastor, o surgimento desse hino se deu quando um pastor metodista itinerante galês, Thomas Olivers (1725-1799), certa vez ouviu em uma sinagoga em Londres o Yigdal, em hebraico, em estilo recitativo, por um famoso diretor de cantor, Meyer Lyon, chamado de Leoni. Impressionado com o que ouviu, Olivers conseguiu acesso à letra e adaptou-a, dando-a um “caráter cristão”, em sua referência ao Deus Triuno.
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A seu pedido, Leoni transcreveu a melodia. Olivers publicou o hino num panfleto com o título: “Um hino ao Deus de Abraão”. Isso aconteceu aproximadamente no ano 1770, dando à melodia tradicional hebraica o nome de “LEONI”.
Com isso, os irmãos Wesley incluíram o hino no seu hinário “Pocket hymn book” (Hinário de bolso), em 1785. Outras versões do Yigdal apareceram depois, sendo preferidas em outros hinários, mas o Hinário para o culto cristão inclui as estrofes um a quatro do hino como adaptado por Olivers, com pequenas alterações.
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Testemunho histórico
Conta-se a história duma jovem judia que se batizou na fé cristã e, em consequência disso (como Salomão Ginsburg) foi abandonada pela família. Foi acolhida no lar do pastor que a batizou, e lá pôde expressar sua fé. Como se fosse para mostrar que, apesar de tudo, sua alegria no seu recentemente descoberto Salvador era maior do que a perda de lar e família, ela cantou: “Ao Deus de Abraão louvai”.
Tradução do hino
A tradução deste hino par ao português foi feita por Robert Hawkey Moreton, que nasceu em Buenos Aires, Argentina, no dia 10 de janeiro de 1844. Sendo filho de imigrantes ingleses, a família voltou à sua pátria em 1861, onde Robert começou a estudar medicina. Sentindo-se chamado para o ministério, deixou a medicina para se preparar na Faculdade Teológica de Richmond, Estado de Virgínia (EUA). Depois de se formar, trabalhou durante quatro anos na Inglaterra.
Sendo aceito pela Sociedade Missionária Metodista Wesleyana após seu casamento em 1871, Moreton e esposa foram para a cidade do Porto, Portugal, onde iniciaram um trabalho que duraria 54 anos. Organizou a Igreja Evangélica Metodista do Porto e outras igrejas em outros locais. Durante anos foi superintendente do trabalho metodista na Península Ibérica, trabalhando no ministério metodista até sua morte, em 1917.
Moreton, um homem de muita capacidade e interesses variados, traduziu muitos materiais para estudos bíblicos para a língua portuguesa, além de livros e artigos apologéticos. Deixou uma imensa contribuição em revisões bíblicas realizando conferências sobre história, viagens e ciências naturais, que conhecia profundamente. Robert Moreton preparou uma coleção de hinos em 1876. Escreveu numerosos hinos, trinta e seis dos quais estão em Salmos e hinos e treze no Cantor cristão, 36ª edição. Entre eles há textos originais, traduções e adaptações. O “Hinário para o Culto Cristão” inclui mais cinco das suas melhores traduções nos hinos 72, 96, 331, 347, 504.
Sobre o projeto Hinologia Cristã
A história dos hinos bem como outros ícones da música cristã brasileira são objetos do projeto Hinologia Cristã, que tem como missão reunir, numa só ferramenta, o histórico de hinos e cânticos tanto tradicionais quanto modernos, letras, partituras, áudios, biografias, entrevistas com compositores/músicos e artigos sobre hinologia, sob organização de Robson Santos. Acompanhe o projeto Hinologia Cristã pelo site (hinologia.org), como também no Facebook, Instagram, TikTok e Youtube.
Sobre Carlos Itamar Jajewsky
Carlos Itamar Pimenta Jajewsky, que relatou essa história, é pastor, advogado, policial, escritor, pesquisador na área de segurança pública, autor do projeto que deu origem a Força Nacional de Segurança Pública brasileira.