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terça-feira, 16 abril 2024

As críticas de Rachel Sheherazade

“Creio que o compromisso maior do cristão não está na Igreja, mas no mundo”

Conhecida por suas críticas a respeito de temas como corrupção, segurança pública, saúde e educação, a paraibana Rachel Sheherazade se tornou uma voz na denúncia dos vários problemas sociais e estruturais do Brasil. Cristã, lançará em breve, por uma editora evangélica, um livro sobre o resgate de valores. Conheça detalhes da vida pessoal e profissional desta jornalista de opinião forte que ganhou destaque nacional.  

Conte como foi a sua trajetória enquanto cristã. Como e quando aconteceu a sua conversão? Como os valores cristãos estão presentes na sua rotina?
Fui criada num lar cristão. Pais evangélicos, avó católica. Estudei em colégio Marista, mas, frequentava a Primeira Igreja Batista. No começo, minha mãe nos levava à igreja mesmo contra a nossa vontade. É que, enquanto crianças, preferíamos ir ao clube, tomar banho de piscina a assistir ao culto do domingo. Na infância, frequentava a Escola Dominical. Quando adolescente, participei de muitos eventos evangelísticos, como os Encontros de Jovens com Cristo, e também fiz parte do grupo de teatro da Primeira Igreja Batista. Foi lá que me casei e onde, diante do altar de Deus, consagrei a vida dos meus dois filhos. Cristo sempre fez parte da minha vida. Mas meu batismo aconteceu aos 23 anos.Os valores cristãos norteiam toda a minha vida pessoal.Minha vida profissional é só um reflexo dela.

Acredita que as igrejas podem trabalhar com as comunidades onde estão inseridas para reduzir as desigualdades sociais? E como vê esse tipo de ação?
Não acredito em igualdade social. Os homens jamais serão iguais, pois somos, desde a criação, plurais, diferentes. Nossa essência e nosso destino são únicos. Cada um escolhe seu caminho, e o futuro de cada ser humano é uma consequência de suas escolhas, de seu arbítrio – direta ou indiretamente. Acredito que, como sociedade, Igreja, indivíduo, temos que trabalhar para assegurar oportunidades iguais para todos. Mas o que cada um fará com sua oportunidade, com o talento que lhe é dado, é uma escolha pessoal.

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Como concilia a sua agenda com os compromissos na igreja?
Acredito que não pode haver choque de agenda entre o cristão e Deus. Creio que o compromisso maior do cristão não está na Igreja, mas no mundo. Na Igreja, nos nutrimos da Palavra de Deus, nos apoiamos enquanto congregação, crescemos juntos como irmãos, mas é no mundo lá fora que temos nosso campo de ação. Temos que viver o dia a dia sendo exemplo para o mundo, sal e luz. Meu grande compromisso não é com a religião ou com a igreja física. Tenho que me aprofundar cada dia no Evangelho, preciso focar nos valores de Cristo, buscando, sempre, a vontade de Deus. No meu dia a dia, é o que tento fazer:me espelhar em Jesus e ser imitadora dEle onde quer que eu esteja, apesar das minhas limitações humanas.

Poderia falar um pouco sobre seu livro pela Editora Mundo Cristão? Como surgiu a ideia da obra? Quais serão os principais pontos tratados no livro?
Devido aos meus posicionamentos cristãos, fui procurada pela editora. Conversamos sobre algumas ideias e chegamos à conclusão de publicar um livro que pudesse ajudar nosso país a resgatar seus valores esquecidos, sua autoestima prejudicada, o senso de justiça, a responsabilidade individual… Ambos, eu e a editora, queríamos falar sobre os principais problemas do Brasil, sob uma ótica cristã, abordando suas origens e consequências para toda sociedade. Mas não focarei apenas as mazelas do país. O livro também apontará possíveis soluções para cada um dos grandes males do Brasil.

Como está sendo a experiência como autora? É algo que pretende dar continuidade?
Apesar da minha agenda apertada, a experiência como autora está sendo extremamente prazerosa. Às vezes me sinto em meio a um deserto de ideias… Nenhuma palavra parece querer brotar. Outras vezes, sou alvo de uma poderosa brainstorm, aquela tempestade de pensamentos e palavras que desaguam e invadem a cabeça do escritor. É emocionante. Sempre sonhei em ser escritora. Pensava em escrever para crianças. Aos 8 anos, escrevi meus primeiros livrinhos. Eu também os ilustrava. Depois do nascimento dos meus filhos, voltei a escrever alguns livros infantis: “O Trenzinho Feliz”, “Uma Flor Chamada Clara” e o “Milhinho Amarelinho”. Mas nunca os publiquei. Foram presentes para meus próprios filhos. Quem sabe se o livro sobre os problemas do Brasil não seja o meu primeiro e tímido passo para o mundo literário?

Em que momento descobriu que gostaria de ter o jornalismo como profissão? Teve apoio familiar nessa decisão?
Como disse, sempre gostei de escrever. Sempre foi uma paixão: os livros, as histórias, os poemas, as palavras… Tudo isso me encanta desde sempre. Meu pai foi um referencial, pois é um leitor assíduo e apaixonado. Minha avó paterna também me inspirou, pois adorava literatura. Então, meu sonho era ser escritora. Achei que o caminho mais fácil para realizá-lo seria através da faculdade de Jornalismo. Antes, porém, do curso de Comunicação, cheguei a cursar Administração de Empresas, do qual desisti por total falta de identificação. Apesar de estar decidida a cursar Jornalismo, não tive o apoio da minha família. Eles achavam que eu “morreria de fome” se dependesse dessa profissão para sobreviver. Meu pai chegou inclusive a fazer-me uma indagação curiosa: “Minha filha, você sabe quantos jornalistas as faculdades jogam no mercado de trabalho todos os anos? E você sabe quantas ‘Fátimas Bernardes’ têm no Brasil?” Foi um balde de água fria nos meus planos. Mas eu sou teimosa, insisti, e Deus me abençoou. Hoje, vejo que jamais conseguirei ser uma Fátima Bernardes (a melhor âncora de telejornal do Brasil, na minha opinião), mas, ao menos, posso ser uma Rachel Sheherazade.

Como surgiu a oportunidade no SBT? Como avalia a sua trajetória na emissora até aqui?
Minha história com o SBT começou ainda na Paraíba. Trabalhava numa afiliada da Rede Globo como repórter e, em 2003, recebi um convite da TV Tambaú, afiliada do SBT, para ancorar um telejornal noturno, o Tambaú Notícias Segunda Edição. Um ano depois, estava ancorando a Primeira Edição do mesmo telejornal, que contava também com entrevistas políticas. Em 2010, com a saída do comentarista do jornal, fui convidada a substituí-lo na função. Então, além de ancorar e entrevistar os convidados, passei a comentar os fatos mais importantes da semana. Foi quando, em abril de 2011, em plena véspera da folia carnavalesca, fiz uma crítica de três minutos sobre o carnaval. O comentário, bastante ácido, caiu nas redes sociais e virou um fenômeno, sendo replicado milhões de vezes no Twitter e no Facebook. Foi assim que o Silvio Santos ouviu falar de uma jornalista paraibana que não tinha papas na língua e resolveu me contratar e me confiar a bancada de seu mais importante telejornal. E graças ao Silvio (Santos), e a Deus, acima de tudo, minha trajetória profissional mudou radicalmente.

Um episódio mais recente, no qual comentou sobre um assaltante no Rio de Janeiro, acabou ganhando grande repercussão e motivou diversos debates sobre assuntos como liberdade de imprensa, justiçamento, colapso da Segurança Pública, entre outros. Acredita que os brasileiros possuem de fato liberdade para expor opiniões? Ou ainda existe um tipo de censura?
Não. A liberdade de expressão, no Brasil, é relativa. É, digamos, uma liberdade vigiada: bem vigiada. Essa liberdade vai depender de quem fala e do que anda falando. Se incomoda quem manda, o sujeito é calado. Se fala só o que é conveniente, se ele é subserviente aos poderosos, então não será incomodado. Nesse caso, terá direito de falar (o que lhe é permitido). A censura no Brasil nunca deixou de existir. Hoje, ela é pior, porque é velada. E o cidadão é calado por força da pressão política, sua liberdade é tolhida pela intimidação em forma de avalanches de processos, ataques pessoais e o achincalhe moral. É o assassinato de reputações, como bem descrito no livro do ex-secretário de Justiça Romeu Tuma Junior.

Muitos brasileiros, cristãos inclusive, defendem o espaço de jornalistas que não apenas informam, mas dão os seus comentários, servindo como uma voz para o sentimento de indignação da sociedade. Esse apoio, somado a fatos como os protestos vistos no ano passado, pode significar que os brasileiros já chegaram ao seu “limite” e demandam mudanças profundas no país?
Sim. O brasileiro quer mudanças. Mas sinto uma ingenuidade no brasileiro que espera que a mudança aconteça de cima para baixo. Ele espera que o político em Brasília se torne um homem de bem para que, só então, ele próprio possa agir corretamente também. Ele acredita que todo corrupto ocupa um cargo político, mas não vê ilicitude no brasileiro comum, que suborna o guarda da esquina, que compra o diploma falso, que sonega o imposto (injusto, mas devido). O brasileiro comum diz abominar a corrupção, mas é tolerante com as “pequenas” fraudes, os “pequenos furtos”, as “pequenas” mentiras, os pecadilhos… Se o brasileiro quer mesmo um país do qual se orgulhar, precisa primeiro mudar sua forma de pensar, seu proceder. Precisa ser, ele próprio, o espelho das mudanças que quer ver no Brasil. Sendo honesto, apesar da corrupção, sendo participante apesar da omissão, tendo coragem para denunciar os desmandos, tendo responsabilidade para votar com a consciência, e não pela conveniência, pensando mais coletivamente e menos individualmente.

O Brasil vive um novo e importante capítulo de sua história política, com as eleições para presidente. Como a senhora analisa o país neste momento e quais são as áreas que demandam atenção prioritária nos próximos quatro anos?
Vejo dois “Brasis” em conflito. Um país dividido entre o continuísmo e a renovação. Este processo eleitoral tem sido surpreendente, e há muito suspense sobre o futuro do Brasil. Independente de quem ganhar o segundo turno, se Aécio Neves (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT), o próximo presidente terá desafios imensos pela frente. O Brasil não se preparou para o futuro e a conta dos erros crassos cometidos na última década cairá no colo de quem vencer a eleição. Acho que as prioridades são muitas. O país está estagnado, a indústria involuiu, o poder de compra caiu drasticamente, a inflação fugiu do controle, a corrupção corroeu nossa mais importante estatal, a Petrobras, a segurança pública faliu. Além disso, é preciso pôr em votação a redução da maioridade penal, a reforma do Código Penal, além das reformas política e fiscal. Há muito trabalho a fazer, há muito o que ser consertado.

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