Os pastores Carlos Alberto dos Santos e Sérgio Carazza foram convidados para debater o tema e falar sobre os limites para o envolvimento do crente na política
Por Michelli de Souza
Desde a década de 1980, o interesse dos cristãos em participar da cena política vem aumentando e, a cada pleito eleitoral, cresce a participação de cristãos no legislativo nacional, estadual e municipal. No Congresso Nacional, por exemplo, temos 129 deputados federais e 17 senadores evangélicos, segundo dados da Frente Parlamentar Evangélica. Ou seja, cerca de 25% do conjunto de 594 parlamentares.
Diante desse cenário, cabem alguns questionamentos acerca da participação do crente na política, um meio que é conhecido por casos de corrupção, mentiras e articulações em torno de projetos de poder. Aliados a esse contexto, estão casos de líderes espirituais ligados diretamente a figuras políticas, pastores que assumem cargos políticos enquanto mantêm sua função ministerial, lideranças eclesiásticas que apoiam candidatos dentro da igreja, entre outras situações que geram controvérsias e incitam a questão: até que ponto o cristão deve se envolver na política?
Para debater esse assunto, a revista Comunhão reuniu Carlos Alberto dos Santos, que é pastor da 1ª Igreja Batista Universitária do Brasil, em Duque de Caxias/RJ, e autor do livro Política & Cidadania; e Sérgio Carazza, que é pastor da Igreja Batista Cristã de Brasília. O mediador do debate foi o pastor Eduardo Baruque.
Partidarismo é fora da igreja
O pastor Sérgio Carazza destaca que é importante que o crente participe da política a fim de exercer o seu papel como cidadão. “O partidarismo não pode estar dentro da igreja, mas a igreja tem que estar na política. A igreja deve influenciar a sociedade, os parlamentares, o judiciário, o executivo. Então, para mim, o cristão tem que se envolver na política, sim”, afirmou o reverendo.
O pastor Carlos Alberto concorda que o cristão deve se envolver na política, mas destacou que é fundamental que a Igreja, enquanto instituição, não se envolva na política partidária. “Eu não concordo que púlpito seja sinônimo de palanque. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O objetivo da Igreja, instituição, é pregar o evangelho e ponto final. Agora, cada cidadão que compõe esta igreja, até em nível constitucional, do ir e vir, tem direitos e deveres como cidadãos que devem exercer com responsabilidade e com excelência”, salientou.
Carazza concorda com Carlos Alberto e diz que “Igreja não é lugar de fazer política, mas de influenciar a política”. Mas o reverendo acredita que o pastor deve instruir o membro a votar de forma consciente e a escolher um candidato que represente os valores cristãos. “Esquerda ou direita, para mim, esse não é o caso. A questão para mim é a Palavra de Deus. Estando de acordo com a Palavra de Deus, é um candidato bem-visto por nós”, ressaltou o pastor.
Questionado sobre a viabilidade de o pastor se candidatar, Carlos Alberto não vê problemas em uma liderança se candidatar quando se sente vocacionada para a vida pública, no entanto, ele vê incompatibilidade entre o exercício simultâneo das duas funções. “Eu entendo que, o pastor, no seu ministério, não é compatível estar desenvolvendo um cargo eletivo. Eu entendo que o pastor pode estar vocacionado para uma área social, mas eu vejo muita dificuldade de conciliar o ministério pastoral, que já tem as suas demandas, com a questão da vida pública”, pontuou o pastor batista.
Assista ao debate na íntegra para acompanhar o desenrolar da conversa: