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quinta-feira, 28 março 2024

Como o cristão pode manter o equilíbrio na vida política sem contaminar o meio eclesiástico

Foto: William Douglas

Sei porque a igreja tem pouca influência no mundo hoje: é porque o mundo tem muita influencia na igreja.” Charles Spurgeon

 Por William Douglas

Ser um bom cristão é um grande desafio. Um dos riscos é a contaminação da pregação e da Igreja, tanto em sua vocação espiritual quanto em sua credibilidade. Quero destacar três grandes missões às quais o cristão e a Igreja precisam dar atenção com amor e habilidade.

Primeiro, a Igreja deve anunciar o Evangelho, as Boas Novas da Salvação, seguido do discipulado e do processo de santificação. É o “fazer discípulos”.

A segunda área é a social: o socorro aos pobres, viúvas e vulneráveis de modo geral. Esse preceito percorre a Escritura, do Antigo ao Novo Testamento. No decorrer da História, a vulnerabilidade da ignorância foi enfrentada com a criação de escolas e universidades confessionais. Os cristãos também foram vanguardistas em áreas como a medicina (no cuidado de enfermos), a assistência social (na criação dos hospitais na Idade Média) e na defesa daqueles que viviam em situação desfavorável (como a luta pela abolição da escravidão, apesar de outros cristãos se omitirem ou serem escravagistas). Cite-se o exemplo de William Wilberforce, parlamentar britânico que lutou toda a vida pela criação de uma lei abolicionista a partir de sua consciência diaconal.

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Ao fazer tudo isso, a Igreja cria zona de contato com o Poder Público, que precisa ser bem administrada.

A lista de necessitados inclui também as pessoas abastadas, os materialmente ricos cuja vida emocional e espiritual é empobrecida. Eles também lutam contra as doenças emocionais, coração vazio, suicídio, depressão, solidão, divórcio etc. Jesus fez uma opção por toda a Humanidade, não apenas pelos pobres. Ele ama a todos e a igreja deve fazer o mesmo.

Por fim, por meio de pessoas vocacionadas para este fim e também pelo voto, a Igreja não pode eximir-se da responsabilidade de agir publicamente na defesa de seus valores, posicionando-se não só como sal da terra, mas também como cidadã. A orientação que leve a sociedade às decisões sobre respeito à vida, por exemplo, não são necessariamente religiosas. Vida, liberdade, patrimônio, direitos e garantias etc. são valores cristãos e também seculares: todo país precisa definir o que deseja sobre estes temas. Da mesma forma, temas universais – e atualíssimos – como aborto, drogas, preconceito e racismo, modelos econômicos, sistemas de educação de crianças, entre outros. Os cristãos, como cidadãos, têm o direito de, em uma democracia, ver seus valores respeitados e contribuir para a construção da sociedade secular da qual, mais do que inseridos, são parte integrante.

A questão da participação política é especialmente delicada, porque podemos nos sentir atraídos pelas bandeiras e propostas político-partidárias, o que colocaria a Igreja na dependência de alguma coloração ideológica, o que é ruim. A Igreja não precisa nem deve levantar bandeiras seculares nem filosóficas para cumprir sua missão. Jesus não é “de direita” nem “de esquerda”, mas “do Alto”. A igreja, e o bom entendimento do Evangelho, em uma hermenêutica conservadora e clássica, tem posicionamento próprio na defesa de pautas que um e outro partido podem defender, o que não significa que ela esteja ou que deva engajar-se nas demais propostas políticas, muitas das quais contrariam frontalmente o espírito do Evangelho. Esse espírito defende a promoção da paz, a reconciliação do homem com Deus e entre os povos e o anúncio da salvação em Cristo Jesus, o Filho de Deus.

William Douglas é Desembargador Federal – Tribunal Regional Federal da 2ª Região, professor universitário e escritor

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