A fé pode sustentar os cristãos em meio à dor da perda e trazer conforto na saudade
Por Patrícia Esteves
A perda de um ente querido é uma das experiências mais dolorosas e transformadoras que alguém pode enfrentar. Para cristãos, a fé frequentemente se torna uma fonte de força e esperança, ajudando a suportar o luto e a encontrar consolo nas promessas de Deus. Em meio à dor, o processo de superação envolve não apenas momentos de solidão e introspecção, mas também de reencontro com o propósito de vida e de reafirmação da fé.
A pastora Fernanda Leite, da Comunidade Efatá, de Santos/SP, conta que enfrentar o luto pela perda da pequena filha Giovana juntamente com o esposo Fernando e o filho Samuel, parecia exigir uma escolha entre perder-se na dor ou apoiar-se em Deus. Ao colocar os olhos em Jesus, ela encontrou a capacidade de enfrentar o sofrimento, mesmo que inicialmente mal conseguisse falar. “Tirei meus olhos de lá e coloquei em Jesus, autor e consumador da nossa fé”, lembra. Com o tempo, ela buscou compreender melhor o Céu e se confortou ao imaginar sua filha em paz, deixou-se ser guiada pelas Escrituras e pela esperança da eternidade.
O casal enfrentou a dolorosa experiência de perder sua filha Giovanna, que adoeceu repentinamente. O que começou como um desconforto simples rapidamente se agravou, levando a hospitalizações frequentes e tratamentos intensivos, mas, apesar dos esforços dos pais e dos cuidados médicos, Giovanna não resistiu, deixando um profundo vazio na família.
Em meio à dor, Fernanda buscou consolo em sua fé, lembrando que a filha estava agora em um lugar de alegria eterna, o que trouxe reflexão sobre a eternidade e conforto tanto para ela quanto para Fernando. A experiência de perda fortaleceu os laços familiares e os conduziu a um propósito maior: viver a vontade de Deus e compartilhar Sua mensagem de amor e esperança, honrando a memória de Giovanna. Fernanda também recordou um momento decisivo, quando percebeu que havia dois caminhos diante dela: o da fé e o da loucura.
Durante o luto, muitas pessoas se sentem distantes de Deus, questionando sua presença e buscando respostas. Ela também enfrentou esses questionamentos e encontrou forças ao se agarrar à soberania divina, reconhecendo que, mesmo quando a dor parece insuportável, Deus está presente e trabalha os corações. A experiência dela remete ao que Jesus disse em João 16:33: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33).
Para aqueles que encontram dificuldade em aceitar o consolo prometido na Bíblia, ela compartilha que a leitura das experiências de outras mães a ajudou a reformular suas próprias perguntas, de “Por que eu, Senhor?” para “Por que não eu, Senhor?”. Ela afirma que, em vez de evitar a dor, busca compartilhar e consolar outros em situações semelhantes, acreditando que a dor pode ser canalizada para um propósito maior. Conforme a Bíblia orienta em Romanos 12:15, “Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram”. Fernanda encontrou significado em sua própria experiência ao conectar-se com aqueles que também enfrentam o luto, compartilhando uma esperança viva em Cristo.
O processo de luto, segundo a pastora, não deve ser um estado permanente. É natural que a saudade permaneça, mas a dor pode e deve diminuir ao longo do tempo. Ela explica que, para aqueles que ficam, existe a oportunidade de viver e honrar a memória de quem partiu, seguindo em frente e conquistando em seu nome.
Esse ponto de vista reflete o ensinamento de Eclesiastes 3:4: “Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar”. No processo de superação, ela destaca que honrar quem partiu significa também viver plenamente o tempo que resta.
Aqueles que acompanham enlutados, seja na igreja ou em família, têm um papel sensível e desafiador. É essencial respeitar o tempo de cada pessoa, sem impor soluções rápidas, e simplesmente estar presente. Pastora Fernanda observa a importância de permitir que os enlutados falem sobre a perda, revisitem lembranças e expressem sua dor.
“Nunca diga a alguém pra não chorar… simplesmente diga que você está ali, você vai chorar com ela, vai acolher a dor dela”, reforça. Esse acolhimento sem julgamentos ou pressões é, em última análise, uma forma de representar o amor de Deus ao próximo, seguindo o ensinamento de Paulo que diz “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gálatas 6:2).
Por fim, a jornada de luto, embora difícil, torna-se uma experiência de resiliência e fé. A caminhada rumo à superação está longe de ser linear, mas, ao manter os olhos em Jesus e o coração aberto ao consolo do Espírito Santo, é possível encontrar sentido na dor e, aos poucos, redescobrir a paz que somente Deus pode proporcionar ao coração enlutado.