Para pastores, o tratamento de Trump com as igrejas irá influenciar a postura de outros governos perante o segmento religioso. Analista político pontua que tal impacto vai depender da força política da igreja no país
Por Michelli de Souza
O relacionamento que Donald Trump mantém com as igrejas evangélicas americanas não tem impacto apenas no cenário estadunidense com a eleição do republicano à presidência. É nisso que acreditam alguns pastores, que analisam também a influência que esta eleição à presidência dos Estados Unidos tem sobre a política brasileira na sua relação com o segmento evangélico.
Na visão do pastor Francisco de Assis Mecenas, que é membro da Primeira Igreja Batista (PIB) de Marília, em São Paulo, a vitória de Donald Trump tem um significado importante para as igrejas no mundo todo, em função do respeito que o republicano tem pelas igrejas evangélicas.
“A maneira como o Trump recebeu os líderes religiosos, como eles oraram por ele e clamaram pela vida dele é completamente diferente. Principalmente porque você está vendo um homem que esteve a um passo da morte. Ele não perdeu a vida por um triz. Isso traz à pessoa um nível de temor diante de Deus, o que a gente não encontra em muitos líderes. Então, esta eleição é muito importante para a igreja evangélica no mundo inteiro”, salientou Mecenas.
Para Jorge Linhares, pastor da Igreja Batista Getsemani, em Belo Horizonte, além de esta eleição norte-americana representar o fortalecimento da direita política no mundo, o fato de Trump frequentar cultos de uma igreja batista e manter um relacionamento próximo com as igrejas evangélicas representa um simbolismo que influencia o processo político de vários países.
“Representa para o mundo uma afinidade e uma participação da igreja no processo eleitoral, o que o Brasil está aprendendo. O Brasil está aprendendo a reconhecer o valor da igreja nas eleições. E não somente nas eleições, mas também a sua participação nos governos” ressaltou Linhares.
Joarês Mendes de Freitas, que é pastor emérito da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, em Vitória, no Espírito Santo, também destacou que a eleição de Trump é importante para a Igreja no cenário mundial.
“Embora a conduta de Donald Trump seja, muitas vezes, duvidosa, sua defesa pública dos valores essenciais do cristianismo certamente será uma contribuição muito valiosa para os cristãos, sobretudo naqueles países onde o liberalismo tem avançado”, disse Freitas.
Impacto varia conforme o cenário religioso
Para o Doutor em Sociologia Política João Gualberto Vasconcellos, é preciso analisar o cenário religioso de cada país para medir o impacto desta eleição presidencial norte-americana sobre o contexto político na sua interface com as igrejas evangélicas.
Ele citou o exemplo da Argentina, onde a direita está no poder e é forte, mas não mantém proximidade com os evangélicos. O mesmo se dá em países católicos, como Hungria e Polônia. Contudo, essa relação entre religião e política ocorre de forma muito diferente no Brasil, onde há projeções de que, em menos de 10 anos, metade da população do país será evangélica.
“Avalio que o impacto da eleição da direita americana vai depender do tamanho do segmento evangélico que cada país tenha. O crescimento evangélico é muito forte na sociedade brasileira, mas ele não se dá em outros países do mundo, como nos países árabes, como na Rússia, onde são ortodoxos”, pontuou Vasconcellos.