Ter um segundo filho não significa que a jornada se torna mais fácil. Pelo contrário, essa nova etapa aprofunda desafios e traz novas reflexões sobre família, fé e comunidade
Por Patricia Esteves
A chegada de um segundo filho traz consigo a ilusão de que a experiência acumulada tornará tudo mais simples. Mas logo os pais percebem que a nova rotina exige ainda mais equilíbrio. Entre as demandas do recém-nascido e as necessidades do filho mais velho, surge um turbilhão de emoções.
Eddie Morales, diretor de marketing e comunicações da Communio, compartilhou essa vivência de ter um segundo filho em um podcast do Christian Post. “O peso da paternidade — de novo — pressionou sobre mim, e eu senti como se estivesse fazendo malabarismos com pratos demais, sem saber qual pegar primeiro”, descreve.
Assim como na primeira experiência, a segunda paternidade não se resume a noites mal dormidas e fraldas trocadas. Há um novo cenário emocional, carregado de pressões autoimpostas e expectativas silenciosas. “Há a pressão que coloco em mim mesmo para cumprir prazos, estar presente para meu cônjuge e manter uma casa bem organizada. E então há as expectativas invisíveis — tanto sociais quanto internas — que sussurram: ‘Você deve ser capaz de lidar com isso perfeitamente’”, disse Morales.
Entretanto, a paternidade não é sobre perfeição, mas sobre presença. Cada momento — seja embalando um bebê ou lendo uma história para o filho mais velho — fortalece laços e ensina sobre amor incondicional. “A paternidade reflete nosso relacionamento com nosso Pai Celestial. Assim como estendo amor e graça aos meus filhos, muitas vezes sem que eles saibam ou peçam, Deus estende Sua graça a mim”, reflete.
O valor da rede de apoio
Em meio à exaustão e aos ajustes da nova rotina, o apoio da comunidade se torna essencial. “Desde que acolhemos nosso segundo filho, nossa comunidade da igreja se uniu em torno de nós — trazendo refeições, nos cobrindo em oração, cuidando de nosso filho mais velho, repondo fraldas e presenteando itens essenciais para recém-nascidos”, conta Morales.
Esse suporte não é apenas um alívio prático, mas um reflexo do cuidado divino. Pequenos gestos, como um telefonema, uma refeição quente ou uma oferta de ajuda no culto, fazem diferença na vida dos pais que enfrentam essa transição. “Em temporadas de muitos ajustes, o apoio não é apenas útil — é transformador”, afirma.
Abraçando a graça na paternidade
O maior desafio da segunda paternidade não é atender a todas as expectativas, mas aprender a abrir mão delas. “Vamos nos dar permissão para abrir mão de expectativas irrealistas. Vamos nos inclinar para a graça que Deus oferece e encontrar alegria na simplicidade de estar presente”, encoraja Morales.
Os dias podem ser longos, e a rotina exaustiva, mas Deus, como Pai amoroso, lembra a cada pai e mãe que seu esforço tem valor. “Nosso Pai, cheio de paciência e amor, gentilmente nos lembra: Você está melhor do que pensa”, conclui Morales.
A importância da presença e da proteção dos pais
Para o pastor Sérgio Leoto, do Ministério Fortalecendo a Família, de São Paulo/SP, a presença é essencial e é bom que os pais demonstrem autenticidade e vulnerabilidade no relacionamento com os filhos, isso com todos os filhos, independentemente de que seja o primeiro, segundo ou terceiro. A amizade verdadeira não se constrói apenas por meio de regras e orientações, mas também pela capacidade de compartilhar sentimentos, admitir erros e mostrar que o aprendizado é contínuo para ambas as partes.
Quando os filhos percebem que os pais não estão apenas no papel de autoridade, mas também como pessoas acessíveis e dispostas a crescer junto com eles, a conexão se fortalece. Essa transparência cria um ambiente de confiança, onde os filhos se sentem seguros para expressar suas dúvidas, angústias e conquistas, sabendo que encontrarão acolhimento e compreensão.
“Assim, quando tiver uma crise (existencial ou espiritual) muito profunda, ele poderá se abrir com você. Contará algo que está no fundo do seu coração, pois terá a certeza de não ser ridicularizado, mas acolhido. Justamente porque você lhe deu atenção, quando ele contou eventos que eram ‘simples’”, ensina o pastor.

