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sexta-feira, 29 março 2024

Clamor de uma nação

Assim como nos tempos bíblicos, os cristãos também têm buscado o Pai para conseguir reverter a crise econômica e política que o Brasil vem atravessando, mostrando que o povo de Deus tem senso de justiça e cidadania

Em 2013 o Brasil passou a ser invadido por uma onda de insatisfação que resultou em manifestações contra o Governo Federal e a Copa do Mundo. Este ano, em meio aos muitos escândalos de corrupção e pacotes econômicos rígidos, a população voltou às ruas para mostrar sua indignação.

Desde janeiro, os cidadãos reclamam contra anúncios de impostos mais altos, escalada da inflação, conta de energia e combustível mais cara, além das denúncias de desvios de dinheiro na Petrobras que não param de surgir na imprensa todos os dias.

O clamor do povo de Deus por dias melhores em momentos como este, de embate político, sempre existiu. É possível destacar personagens bíblicos como Jeremias, que denunciava reis, sacerdotes, ministros e falsos profetas por conta da invasão de Israel pelo rei Nabuconosor de Babilônia (Jr 21); Neemias, que batalhou pela construção dos muros em Jerusalém (Nm 3 e 4); Amós, que por conta da injustiça social dos reis Usias, de Judá, e Jeroboão, de Israel, brigou publicamente e foi acusado de conspirador (Am 6 e 7).

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Todos demonstraram sua indignação em tempos difíceis e de corrupção daqueles que estavam à frente de seus povos, como cidadãos, mas principalmente como profetas de Deus, com senso de justiça e ao mesmo tempo de joelhos, clamando a misericórdia vinda do céu.

“Jeremias e Amós se manifestavam em praça pública. Dando os recados da parte de Deus, repreendiam os reis e os grupos dominantes. Não existe paralelo na Bíblia com manifestações, porque não havia espaço para isso naquela época. É uma prática do mundo moderno, por conta da democracia, mas tínhamos indivíduos que protestavam sozinhos. Então o protesto público é legítimo e perfeitamente de acordo com as Escrituras. Além disso, Jesus disse que nós precisamos ter sede de justiça, que deve caracterizar Seu seguidor.

Ele quer ver a coisa certa, quer ver a honestidade e a transparência por parte dos nossos governos”, explica o pastor da Igreja Batista da Mata da Praia, Marcelo Aguiar, que também é sociólogo.

As últimas mobilizações estão sendo caracterizadas pela participação de famílias, sejam elas cristãs ou não, algo diferente, por exemplo, das passeatas da década de 1990 contra o então presidente Fernando Collor de Melo, em que as caras pintadas eram dos jovens. Ainda assim, para o pastor, os atos de 2015 podem ser comparados aos de 1992, por conta do foco.

“Percebemos verdade, espontaneidade e um direcionamento específico para as notícias de corrupção e a política econômica controversa depois das eleições. Fizeram-me lembrar também as manifestações pelas ‘Diretas Já’ nos anos 80, além do impeachment de Collor. Aquelas também foram manifestações populares espontâneas, com um alvo definido, que até mudaram o Brasil.

Se seguirmos por essa linha, acredito que coisas boas devem acontecer em breve. Quero elogiar as manifestações ordeiras, com a participação das famílias; estamos vendo toda a sociedade representada”, acrescentou.

A secretária-executiva Elisa Moreira, membro da Igreja Batista da Praia do Canto, tem participado dos eventos com a família e amigos. Ela acredita que essa é a única maneira de sua voz chegar até aqueles que estão à frente do país para mostrar que não estão fazendo a coisa certa.

“Essa é uma forma de se dizer o que pensamos, que estamos indignados com tanta corrupção, tanta falcatrua, e decidimos nos unir para expressar essa indignação. É uma mistura de sentimentos de estar sendo enganado e tapeado, enquanto o povo vive com boas intenções, vai trabalhando, pagando seus impostos e vivendo com dificuldade. Claro que não esquecemos o que Deus fala na Palavra em II Coríntios 7:14. ‘E se esse meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e buscar a minha face, e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e seus erros e curarei a sua terra’. Por isso continuamos também na oração e no clamor a Ele”, destaca.

Membro da Missão Praia da Costa, o empresário Cesar Jubrael também foi com sua família protestar, atravessando a Terceira Ponte até a Praça do Papa. Ele disse que o povo de Deus sempre teve propósito e lutava por isso. “Eles lutavam para salvaguardar o seu povo, e o que estamos fazemos para salvaguardar o povo honesto e trabalhador de hoje? Vamos deixar nosso povo extinguir?

Ao contrário do que os cientistas políticos estão dizendo, não é a elite que está protestando, a elite assiste a tudo pela TV. Vai para a rua quem está sentindo falta de segurança e saúde e pagando um absurdo de imposto por isso. Se protestamos é porque o sistema político faz apenas com que eles se enriqueçam e o Brasil pare, só a vida deles anda para frente. Vale frisar que os Três Poderes formaram um conluio, eles mesmos fazem as leis, cometem os crimes e se julgam”, reclamou.

Campanhas on-line
Além de participar dos protestos nas ruas, há os que decidem por se manter na frente de batalha apenas através da oração e buscando quem se una para interceder em favor do quebrantamento dos corações dos dirigentes do país.

Foi assim que fez Daniel, que em seu livro, no capítulo 9, relembra a profecia de Jeremias, sobre os tempos difíceis pelos quais Jerusalém passaria em 70 anos. Naquele momento,

ele percebe que se completam 67 anos da profecia e começa um clamor pelo seu povo, pedindo a Deus a misericórdia para que aquele tempo passasse (Dn 9:3-23).

Usando as redes sociais, campanhas de oração pela nação têm sido um recurso para clamar ao Pai por dias melhores na política há algum tempo. Esse foi o meio que o evangelista Marcos Almeida, da Assembleia de Deus de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, encontrou para unir o povo de Deus em intercessão.

Ele criou o site “Ore pelo Brasil” em 2013 a partir da indignação do que via diariamente nos noticiários sobre injustiças e desigualdades sociais, como miséria, corrupção e escândalos. “Tive essa iniciativa com uma grande esperança de que o Santo Espírito de Deus tocasse em mais vidas e fizesse como nos dias de Elias, separando e agrupando mais e mais dos Seus que não dobram os joelhos a se levantarem valorosamente nas fileiras invisíveis e invencíveis da oração por suas vidas, por suas famílias, parentes, amigos, pelo Brasil, pelo mundo e pela igreja”, salientou.

Líder de jovens em sua igreja, ele acredita que a presença dos cristãos em atos públicos se dá hoje principalmente por conta de uma juventude mais ligada às questões políticas. “Com relação à participação dos jovens, cristãos ou não, no processo político e econômico, eu afirmo, sobretudo por causa do mundo globalizado de hoje, pela facilidade ao acesso à informação, que a juventude atual está mais antenada, mais conhecedora não só desses dois assuntos, mas de muitos outros envolvendo os interesses da sociedade, bem como aos temas de interesse da própria juventude.

E isso a leva a lutar mais pelos direitos”, acrescenta.Foram as manifestações em 2013 que fizeram com que o ministro de louvor e adoração da Primeira Igreja Batista (PIB) de Planalto, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Willian Dias Junior, decidisse investir na fanpage “Campanha de Oração pelo Brasil”, unindo reivindicação e oração. Ele expressava todos os dias sua opinião sobre gastos excessivos durante a Copa. Foi quando seu sogro, que é pastor, sugeriu que ele iniciasse uma campanha de oração em vez de ficar “protestando” on-line.

“Iniciei a ‘Campanha de Oração Pelo Brasil’, inicialmente apenas com meus amigos. Ao longo do tempo, ela se espalhou, e estamos caminhando para atingir mil seguidores. É preciso engajar as pessoas na arena política, mas não se posicionando a favor de algum partido ou político. Creio fortemente que púlpito e eleições não se misturam, e por isso é preciso cuidado da liderança quanto a isso. Obviamente, líderes têm o direito (e o dever) de se posicionar politicamente, e creio que inevitavelmente haverão de influenciar as pessoas com as quais convivem. Mas usar o púlpito para isso desvirtua o ministério da Palavra. Uma maneira mais edificante de lidar com o momento político e econômico do Brasil é sensibilizar as pessoas para os problemas existentes e encorajá-las a pensar e agir de acordo com a vontade de Deus. O primeiro passo sempre deve ser a oração. Mas não se deve parar por aí.

Cristãos são chamados a fazer a diferença onde estão, não só por palavras, mas por ações. As igrejas precisam estar abertas para auxiliar os mais pobres, repartir o pão, praticar o amor efetivamente”, observou.

Vigílias
A Missão Praia da Costa realizou 15 horas de oração, jejum, louvor e estúdio bíblico durante o primeiro protesto, em 15 de março. Foram 1,5 mil pessoas participando, pedindo a Deus por um país melhor e mais justo.

Segundo o líder da igreja, pastor Simonton Araújo, o objetivo não é reivindicar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, nem pedir um governo cristão, mas sim que venha alguém que resolva o problema da nação. “O objetivo era o mesmo das manifestações, mas realizado de forma diferente. Desejamos alguém que saiba administrar e que tenha vocação política,

não seja meramente pelo cargo político. A essência do cristianismo é a salvação eterna, mas enquanto estamos aqui buscamos a Deus por uma vida melhor”, concluíu.

Nina Targino, uma das articulistas do livro “O Poder da Igreja que Ora”, que será lançado pela Editora Mundo Cristão no segundo semestre deste ano junto com Stormie Omartian, Helena Tannure, Bianca Toledo, Devi Titus, Dora Bomilcar, entre outras, acredita que em cenários de crise, os líderes devem orientar seu rebanho a seguir a Bíblia. Para ela, a oração é o caminho para resolver qualquer situação. “Todo cristão que verdadeiramente segue a Jesus Cristo conhece o seu dever como cidadão num mundo dominado pelo pecado. Tenho a mais firme convicção de que só o Evangelho pode transformar o homem e fazê-lo um cidadão de caráter, responsável, íntegro. O caminho para uma mudança efetiva na alma e no coração do ser humano passa sem sombra de dúvida por uma rendição verdadeira a Jesus”, destacou.

E como completou Nina, o homem rendido a Jesus faz a diferença na sociedade, mudando-a. Portanto, é necessário fortalecer a evangelização no país, oração, muita oração, e da Igreja unida, um só Corpo em Cristo. Tudo isso contribui grandemente, agrada ao coração de Deus e pode modificar o cenário que aí está.

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