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sexta-feira, 29 março 2024

Carta viva, sermão morto

Carta viva, sermão morto

Meu pai dizia que um dos sinais da maturidade era o equilíbrio, a ponderação, a compostura…

Por José Ernesto Conti

Caro Pastor Ed René,

Já que você (me permite tratá-lo assim) está fazendo uma série de sermões sobre as cartas de Paulo, gostaria de lhe enviar uma carta sobre o sermão de domingo (25 de outubro).

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Meu pai dizia que um dos sinais da maturidade era o equilíbrio, a ponderação, a compostura… Mas creio que isso está ficando em desuso em nossos dias de redes sociais. Pra começar, as próprias redes se encarregam em desequilibrar qualquer afirmação um pouco mais leviana de nossa parte. Estamos perdendo o direito de falar, de vez enquanto, alguma besteira, logo não fica chateado com minhas palavras.

Voltando ao seu sermão sobre as Cartas Vivas Contra as Letras Mortas, tentando contextualizar uma situação de estupro no tempo de Moisés e em nossos dias, usando o texto de Dt 22: 28-29, afirma que por isso a Bíblia é um livro insuficiente e que esse é o grande desafio da igreja contemporânea, ressignificar os princípios de vida que ela encerra, princípios esses que devem saltar das páginas para promover libertação e justiça em nossos dias.

Talvez pelo fato de já estar no final de seu sermão daquela noite, as afirmações acima o animaram a continuar nessa toada, da necessidade de atualização do texto bíblico, para atender às novas exigências, esbarramos com conceitos como aceitar a escravidão com base na carta de Paulo a Filemon e principalmente com os homossexuais, para que deixem de ser condenados ao inferno. “Se queremos ser cartas para o novo mundo, se a Igreja quer ser cartas para o novo mundo, nós vamos precisar atualizar a Escritura e vamos ter de fazer essa atualização e ter essa coragem de enfrentar os pecados de gênero”, você disse.

Onde está seu erro, Pr kivitz? (muita pretensão a minha). É o mesmo erro de centenas, talvez milhares de críticos da Bíblia: querer que os princípios da Bíblia não entrem em conflito com os nossos princípios. Em outras palavras, o que a Bíblia define como padrão, precisa estar, no mínimo, no mesmo nível da nossa ética, da nossa moral, da nossa racionalidade. Resumindo, para que Deus seja um cara no mínimo razoável e coerente, ele (Deus) não pode agredir minha lógica. Não foi isso que você disse?

Você me permite usar a história de Jó, para verificar o quanto está distante da verdade, quando exige uma explicação convincente para certas passagens da Bíblia. Quem em sã consciência não condenaria Deus pelo que ele fez com Jó? Se fosse uma briguinha entre seres humanos, classificaríamos de estúpida e insolente, mas obrigar Jó a sofrer como sofreu e matar a sua família, tudo por causa de um orgulho idiota (acho que Deus vai me perdoar esse idiota, foi só para reforçar), está fora de qualquer racionalidade. Depois que tudo passou e quando Jó questiona Deus, o que recebe de resposta? Jó, onde estava tu quando lancei os fundamentos da terra? Quem colocou limites ao mar? Quem faz crescer a erva? Quem controla as estrelas? Quem primeiro deu a mim para que eu haja de retribuir-lhe?

Jeremias garante que é o oleiro quem pode fazer o que quiser com o barro, não o contrário. Paulo num arroubo poético afirma “ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os teus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos. Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?”

Concordo com sua indignação, Pr Kivitz. Muitas vezes, naquelas circunstâncias, quase concordo com a mulher de Jó, mas o que não concordo é que Deus tenha que agir de acordo com o “nosso” padrão, com “nossa” justiça, com “nossas” razões. Afirmar isso é o mesmo que afirmar que Deus é limitado em sua soberania, é insuficiente em sua onisciência, frágil em sua onipotência e incapaz em sua sabedoria.

Acho meu pastor, que você “picou fumo” no seu sermão de domingo!!!

José Ernesto Conti é Pastor da Igreja Presbiteriana Água Viva

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