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sábado, 20 abril 2024

Brasil: o que está por vir?

O cenário político e econômico do país gera incertezas e a desconfiança do que esta por vir, além do sentimento de que estamos num navio à deriva, sem comando

*Por Sânnie Rocha

A crise política deflagrada nos últimos meses por conta das denúncias de corrupção envolvendo membros do Governo Federal deixou o país em uma grande instabilidade político-econômica que vem gerando desconfiança e indignação popular. A Operação Lava Jato tem se tornado um marco histórico de investigações do crime, com viés de que, dessa vez, não será possível livrar os culpados pelos desvios financeiros da Petrobras e de outras empresas. Há ainda a expectativa de as denúncias obtidas serem apenas a ponta do iceberg. A presidente Dilma Rousseff anunciou redução de ministérios a fim de diminuir os gastos públicos, mas por enquanto não convenceu, apesar de ter estimulado deputados petistas a anunciarem que também vão aproveitar a onda de enxugamento da máquina pública para promover cortes em seus gabinetes, o que para especialistas é uma medida ainda não suficiente. Na tentativa de acalmar os ânimos da base aliada, o executivo garantiu R$ 500 milhões em emendas parlamentares para que os deputados e senadores destinem esses recursos a projetos em seus municípios. Todas se referem ao exercício de 2014 e não foram pagas, e ainda existem mais R$ 4,6 bilhões que ficaram de fora relativos ao ano passado.

A iniciativa foi pensada para aliviar o momento político conturbado, que também se deve, segundo o economista e professor de Economia e Finanças da Multivix, Jonair Pereira da Costa, à falta de solidez da estrutura de sustentação do Governo, ou seja, partidos que compõem a base aliada têm demonstrado infidelidade quanto a votações importantes de interesse da administração federal, ficando clara a sua fragilidade política. Executivo e Congresso não se entendem, e o descontrole é percebido cada vez mais. “O Governo precisa de sua base, pois grande parte do ajuste fiscal necessário para a recuperação da economia depende do Congresso Nacional, por isso essa iniciativa. Quanto à economia, teremos um ano difícil para todos, porque o mercado está estimando um desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) com taxa negativa 2,01% para 2015, e os efeitos da crise devem se alongar para 2016, pois pela primeira vez o boletim Focus, do Banco Central, projeta também um baixo desempenho para o próximo ano, com PIB negativo em 0,15% e desemprego em alta”, explica. Economista e professora da Fucape Business School, Arilda Teixeira também acredita que a incerteza do quadro político tem afetado muito a situação econômica, pois são imprevisíveis as mudanças que o Planalto vai implementar a qualquer momento.

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Ela observa que os dados do Banco Central apontam uma queda de 17% dos investimentos em carteira de janeiro a junho de 2015 em relação ao mesmo prazo de 2014, sendo que esses aportes frente a 2013 haviam aumentado 13%. Já o investimento externo direto, ainda na base comparativa semestral, caiu 33% entre 2015 e 2014 e 2,4% ante 2013, demonstrando que os donos do capital estrangeiro estão desconfiados com toda essa instabilidade política. “Os rumos da economia vão depender da nova relação entre o Executivo e o Legislativo no processo de implantação das reformas estruturais imprescindíveis para que se retome o crescimento sustentável.

Diante dos entraves estruturais que bloqueiam o crescimento brasileiro e da forma como ambos têm conduzido a solução para esses problemas, não se pode esperar mudança positiva para o cenário nem fazer projeções para o futuro. Os rumos da economia dependerão da credibilidade da política econômica implementada para superar os entraves ao avanço, que por sua vez, estão atrelados a ações dotadas para superar esses gargalos. Ou seja, enfrentar-se-á o desafio de, simultaneamente, reconquistar a confiança dos formadores de opinião no país – dentre eles os investidores – e no exterior, e garantir mudanças estruturais que dependem da aprovação do Legislativo.

Sintetizando, dependerá do comprometimento como um projeto de país, ao contrário do que se viu nos últimos 12 anos, que foi, no Executivo, o comprometimento com um projeto de poder de um grupo político que se considerou o guardião intocável das necessidades de toda a nação brasileira; e no Legislativo, uma luta por interesses individuais dos parlamentares para manter sua posição no Congresso Nacional, uma vexatória demonstração de descaso para os problemas do país. Até aqui, o que se viu foi um embate por defesas de interesses individuais em detefenderimento dos interesses da coletividade, que não é o que se esperaria encontrar em um país que se diz democrata e republicano. Se isso não mudar, continuaremos fadados ao fracasso econômico”. Caso se mantenha o cenário que vem sendo desenhado nos últimos dois meses, com a presidente se mantendo no poder, mas sem força administrativa real, Arilda d que “teremos mais quatro anos de retração da economia e a herança que esse cenário deixará para o país”.

Explodir ou resolver
O presidente do Conselho das Igrejas Evangélicas do Estado do Espírito Santo, pastor José Ernesto Conti, concorda que a situação daqui para a frente tende a piorar e que até o final do ano será “explodir ou resolver”. “E como as coisas poderão piorar? Como exemplo, vimos o senador Renan Calheiros obrigando três ministros da Advocacia-Geral da União (AGU) a votar a favor das contas da Dilma, mesmo sabendo que elas estão erradas. O Senado votará os aumentos e as reonerações. Se os condenados da Lava Jato começarem a ser soltos pela Justiça, na minha opinião, os políticos, Dilma e Lula, vão acreditar que tudo isso não vai dar em nada. Mas creio que já estamos no limite. Até o final do ano, é o prazo para explodir ou resolver. Importante: mesmo que Dilma renuncie ou sofra o impeachment (duvido muito, pois ela possui 23 mil cargos para dar em troca da sua liberdade), a situação não vai melhorar”, afirma. Para o pastor da Igreja Evangélica Batista de Vitória (IEBV), João Brito, que também é advogado, o impeachment não é a solução para que o país saia do atoleiro. Além disso, opina, não existe grande possibilidade de o afastamento presidencial acontecer, a não ser que haja alguma denúncia forte contra Dilma. “A restauração não será tão rápida, independentemente do que ocorrer. Serão necessários quatro ou cinco anos, um processo que independe de quem vai assumir. A crise existe, está descontrolada, e a questão é como sair dela”, salientou.

E nessa embarcação à deriva, como está o Espírito Santo? O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, José Eduardo Faria de Azevedo, disse que neste momento, trabalho, criatividade e inovação têm sido as principais palavras de ordem, frente aos ajustes econômicos e às revisões de projetos e cronogramas pelos quais passam o país e, consequentemente, o Estado “A crise, no entanto, não deve ser entendida como um fator de estagnação da economia, mas sim aproveitada para nos fazer pensar de maneira diferente, exercitar a inovação e buscar novos caminhos para chegar aos objetivos desejados. Diante desse cenário, o Governo do Estado elencou diretrizes para avançarmos no crescimento, primando pela consonância e pela harmonia entre os investimentos sociais, ambientais e de infraestrutura na definição de prioridades, objetivando um desenvolvimento diversificado e equilibrado. Um dos seis pilares apresentados no Planejamento Estratégico 2015- 2018 foi o desenvolvimento econômico com foco na diversificação, na sustentabilidade e na inclusão, com vistas a superar as restrições econômicas este ano.

Mapeamos desafios e prioridades para auxiliar o Espírito Santo a enfrentar não apenas 2015, mas os anos seguintes, tornando-o cada vez mais eficiente, qualificado e competitivo. Nossa agenda de desenvolvimento contempla projetos-âncora, tais como: melhoria no ambiente de negócio, economia criativa, economia verde, melhoria da logística e infraestrutura”, explica. Para o cristão, resta saber como lidar com toda a situação participando ativamente, conforme explica o pastor João Brito, sendo um bom cidadão de fé e sal da terra. “A Igreja tem que ter sua posição. Apesar de ser apartidária, os indivíduos não são. O cristão tem o direito de escolher o partido conforme sua consciência. Cristão tem que participar de qualquer ação que ache justa, mas não se tornar massa de manobra”, disse.

O pastor José Ernesto Conti avalia que as igrejas sejam afetadas a partir do momento que se omitam e passem a usar o discurso de que nosso reino não é deste mundo, uma fala ainda muito influente na liderança. “Mas creio que a parcela daqueles que se preocupam com o evangelho integral, ou seja, que acreditam que somos cristãos e cidadãos, está aumentando no seio da Igreja e a revelia da liderança. O aumento da crise institucional forçará que cada vez mais cristãos sintam na pele a necessidade desse envolvimento. Afinal, cada vez mais cristãos estão conscientes de que a democracia significa participar das decisões de nosso país, mesmo crendo que somos cidadãos do céu”, ressalta.

Confira esta matéria em áudio.

 

 A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita. 

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