Uma das principais campanhas de prevenção ao suicídio é o Setembro Amarelo, que, neste ano, tem como tema “Se Precisar, Peça Ajuda”
Por Patricia Scott
No Brasil, uma das principais campanhas de prevenção ao suicídio é o Setembro Amarelo, que, neste ano, tem como tema “Se Precisar, Peça Ajuda”. Conforme a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) divulgou, nesta quarta-feira (11), o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 11.502 internações relacionadas a lesões com intenção deliberada de autoinfligir dano em 2023, o que corresponde a uma média diária de 31 casos. Este número representa um aumento de mais de 25% em relação aos 9.173 casos registrados em 2014.
A Abramede revela que os números podem ser ainda maiores. Isto porque há possíveis subnotificações, registros inconsistentes, além de limitações no acesso ao atendimento em algumas regiões. Em 2016, houve uma leve queda nas notificações de internações por tentativas de suicídio em comparação com os dois anos anteriores. Contudo, o índice voltou a subir em 2018 e alcançou o ápice em 2023.
O psicólogo e especialista em trauma e urgências subjetivas Héder Bello pondera que transtornos mentais são fatores de vulnerabilidade no contexto do suicídio. No entanto, não são os únicos. Ele cita também precariedade financeira ou social, status de refugiado político e situações de abuso ou violência como contribuintes para ideação ou tentativas de suicídio.
“Políticas públicas que abordem esse tema de forma aberta e sem tabu são essenciais. Instrumentos nas áreas de educação e saúde também devem ser amplamente divulgados para mostrar que existem recursos e possibilidades para enfrentar essas situações estressantes e vulneráveis”, afirma Bello.


Estatísticas estaduais
Análise regional dos dados mostra variações significativas entre os estados brasileiros. Em alguns, como Alagoas, houve um aumento alarmante de 89% nas internações de 2022 para 2023, passando de 18 para 34 casos.
Paraíba e Rio de Janeiro também apresentaram aumentos notáveis de 71% e 43%, respectivamente. Em contraste, estados como São Paulo e Minas Gerais, apesar de terem altos números absolutos de internações (3.872 e 1.702, respectivamente, em 2023), tiveram aumentos percentuais menores, de 5% e 2%.
Alguns estados, como Amapá, Tocantins e Acre, mostraram reduções expressivas nas internações por tentativas de suicídio e autolesões, com quedas de 48%, 27% e 26%, respectivamente. A Região Sul, no entanto, enfrenta uma tendência preocupante de aumento, com Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul registrando crescimentos de 22%, 16% e 33%, respectivamente.
Perfil dos pacientes
O perfil dos pacientes revela diferenças significativas entre os sexos. Entre 2014 e 2023, o número de internações de mulheres aumentou de 3.390 para 5.854, enquanto entre os homens, o número caiu de 5.783 para 5.648. Em termos de faixa etária, o grupo de 20 a 29 anos foi o mais afetado em 2023, com 2.954 internações, seguido pelo grupo de 15 a 19 anos, com 1.310 casos.
As internações entre pessoas com 60 anos ou mais totalizaram 963 casos. Houve aumento significativo nas internações entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, que chegaram a 601 registros em 2023, quase o dobro do observado em 2011.
A Abramede ressalta que, embora o atendimento inicial exija foco técnico, é crucial incluir a identificação de sinais de vulnerabilidade emocional e oferecer suporte integrado. Uma resposta rápida e humanizada pode impactar positivamente o prognóstico dos pacientes e ajudar na prevenção de novos episódios.
Dados globais
Globalmente, o suicídio é considerado um problema de saúde pública, com cerca de 14 mil registros anuais no Brasil, o que equivale a uma média de 38 mortes por suicídio por dia. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que mais de 700 mil pessoas cometem suicídio, anualmente no mundo.
A OMS enfatiza a necessidade de reduzir o estigma e promover o diálogo aberto sobre o tema para enfrentar o problema. A organização ressalta ainda que as causas que levam ao suicídio são complexos e envolvem fatores sociais, econômicos, culturais e psicológicos, incluindo a negação de direitos humanos básicos e acesso a recursos.
A meta global é reduzir a taxa de suicídio em pelo menos um terço até 2030, conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, o que acarreta consequências sociais, emocionais e econômicas profundas para indivíduos e comunidades.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma das organizações dedicadas à prevenção do suicídio. Se você precisa de ajuda e deseja conversar com alguém sem julgamentos, ligue para o CVV pelo telefone 188, que tem atendimento 24h. Além disso, você pode buscar apoio nas Clínicas da Família, Unidades Básicas de Saúde e Centros de Atenção Psicossocial. Em situações de emergência, procure uma unidade de pronto atendimento ou ligue para o SAMU pelo número 192.