O atentado sofrido pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, no último sábado (13), ligou o alerta sobre como a intolerância pode manchar a democracia
Por Cristiano Stefenoni
O atentado sofrido pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, no último sábado (13), durante um ato de campanha na Pensilvânia, ligou o alerta não apenas para a violência no período eleitoral, mas também sobre como a intolerância e a divergência de ideias podem levar ao caos e manchar a democracia. Mas, afinal, qual a opinião de pastores sobre esse crime e suas consequências?
De acordo com o pastor e professor acadêmico Geraldo Moyses Gazolli Junior, mestre em Ciências da Religião e doutorando em Teologia, desde o século XIX já foram registrados cerca de 16 atentados contra presidentes e candidatos nos EUA. A diferença, dessa vez, é que a polarização consegue tirar a atenção da gravidade dos fatos e jogar para o discurso ideológico, o que é um risco para a democracia.
“Vivemos hoje um período complicado na democracia, em que não importam mais os fatos, ou seja, o que importa é o ‘discurso’. O atentado acontece e, de imediato, os ‘porta-vozes’ dos extremos se pronunciam dando suas versões, se é verdade ou não. O atentado, na minha opinião, escancara o fim da decência”, lamenta Gazolli.
O pastor ressalta que essa postura ideológica acaba inflamando os dois lados, fazendo crescer a rede de fakenews e prejudicando ainda mais o processo democrático. Ele cita o termo utilizado pelo acadêmico e escritor internacional Nigel Dower, que chama essa estratégia de “desumanização do inimigo”.
“Alguns políticos conseguem apenas se promover declarando uma guerra aberta. É o ‘nós versus eles’, sem nenhuma proposição, apenas confronto. Infelizmente, isso está criando não somente mais polarização, mas também o embate, onde não há mais diálogo. O preocupante disso é perceber que cristãos professos estão seguindo essa linha de divisão dentro da igreja”, afirma.
Sobre a postura do cristão nessas horas, o pastor cita o texto de 1 Pe 2:17, que diz: “Tratem todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei”. Ele completa dizendo que “somos o corpo de Cristo e devemos, neste momento, declarar com mais convicção quem somos nesse mundo. Não há na Bíblia nenhum motivo que eu utilize para desrespeitar o sofrimento de alguém. Sendo assim, devemos humildemente advogar pelo respeito e pelo amor” orienta.
O pastor Evaldo Carlos, presidente da Primeira Igreja Batista da Praia da Costa, em Vila Velha (ES), lembra que imposição, força e violência são absolutamente contrárias à democracia e ao cristianismo.
“A gente sabe que ninguém está imune à ação radical, mas essa é a atitude antidemocrática, aquela em que se tenta destruir o outro para que a sua ideia prevaleça. Nesse sentido, a democracia é atacada, pois a violência vem para destruir o pensamento do outro. A democracia sempre é prejudicada, quando as pessoas se tornam radicais”, afirma.
Outro ponto importante abordado pelo pastor é que o cristão não deve ser violento, mas precisa, sim, se posicionar. “Nós, como cristãos, precisamos ser sempre contra a violência, porque ela não constrói nada. Agora, não podemos ficar neutros em situações como essa. Temos que nos pronunciar, dizer que somos favoráveis aos valores cristãos e às ideias que são construtivas para a sociedade”, enfatiza Carlos.
Para o pastor Evaldo, a figura de Trump ganha força por conta dos valores que ele defende. “O povo está cansado de ver pessoas que vão lá, enganam, fazem um discurso bonito, mas não realizam nada daquilo. As pessoas precisam de pessoas que realmente tenham coragem, determinação, e o Trump parece isso, alguém que está disposto a mudanças e a agir para que o país dele seja melhor”, acredita.
O pastor Sandro de Oliveira Lopes, da Igreja do Evangelho Quadrangular de Itapuã, destaca que quem mais perde com esse atentado é a democracia. “Acredito que a democracia vem sendo impactada não somente por esse atentado, mas pela forma como as autoridades de outros poderes constitucionais vêm atuando no mundo”, diz.
Ele ainda lembra que, apesar da atuação da mídia com várias versões sobre o caso do atentado, é fundamental ficar sempre do lado da verdade. “O lado do cristão sempre tem que ser o da verdade, sem se preocupar com ideologia. Nosso posicionamento tem que ser firme, porém, com bom senso”, conclui.