Com os recentes conflitos envolvendo Estados Unidos, Rússia, Ucrânia e Oriente Médio, o tema de uma guerra global voltou a ser debatido. Pastores comentam o que as Escrituras dizem a respeito
Por Cristiano Stefenoni
A Terceira Guerra Mundial voltou a ser destaque nas principais manchetes do mundo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticar os conflitos no Oriente Médio e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Na França, Emmanuel Macron também alertou sobre essa possibilidade. Um conflito global envolveria ainda membros da OTAN, da União Europeia e, provavelmente, China e Coreia do Norte. Mas a Bíblia menciona algo sobre uma nova guerra nesta geração?
Em um primeiro momento, não é preciso recorrer às Escrituras para saber que um conflito mundial na atual conjuntura teria consequências catastróficas. Primeiro porque, atualmente, há 13.080 armas nucleares catalogadas, o suficiente para extinguir a humanidade. Desse total, 90% pertencem à Rússia e aos Estados Unidos. O restante é controlado por China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel, Coreia do Norte, Turquia, Itália, Bélgica, Alemanha e Países Baixos.
Para efeito de comparação, mesmo sem o poderio nuclear de hoje, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) deixou um rastro de 45 milhões de mortos. As maiores baixas ocorreram na União Soviética (20 milhões), Polônia (6 milhões), Alemanha (5,5 milhões), além de 6 milhões de judeus e 1,5 milhão de japoneses.
Outro agravante para um conflito global nos dias atuais seriam os impactos financeiros. A Segunda Guerra, por exemplo, gerou um prejuízo de 1 trilhão e 385 bilhões de dólares, causando perdas significativas em diversas áreas da economia e deixando marcas sociais que ainda são sentidas. Em uma eventual Terceira Guerra, em um mundo altamente interligado e dependente da globalização, os danos econômicos e suas consequências seriam incalculáveis.
Guerras de impacto global
Mas, do ponto de vista bíblico, uma grande guerra em escala global é possível? De acordo com o pastor Rafael Rossi, diretor de Evangelismo da Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul e apresentador do programa Arena do Futuro, da TV Novo Tempo, uma terceira guerra mundial não está claramente profetizada, mas a escalada de tensões entre as nações pode, sim, fazer parte dos desdobramentos finais da história.

“A Bíblia não menciona diretamente uma terceira guerra mundial, mas Jesus advertiu que, antes de Sua volta, haveria ‘guerras e rumores de guerras’ (Mateus 24:6). Ele também disse que ‘se levantará nação contra nação e reino contra reino’ (Mateus 24:7). O livro de Daniel revela que, nos últimos dias, o mundo passaria por instabilidades políticas e militares (Daniel 11). E Apocalipse 13 e 17 mostram que haverá um período de grande crise global antes da volta de Cristo, com nações se alinhando sob influência de poderes espirituais”, explica Rossi.
Outro ponto importante abordado pelo pastor é que, na opinião dele, quando o assunto é profecia, as guerras assumem o caráter espiritual e não apenas bélico, como é o caso do grande conflito mundial no final dos tempos, representado pela batalha do Armagedom (Apocalipse 16:12-16).
“É preciso considerar que essa batalha não é militar, mas espiritual. Trata-se da última grande investida do inimigo contra Deus e Seu povo, envolvendo engano, perseguição e a unificação de poderes mundiais contra a verdade. Ainda que uma guerra global pudesse desempenhar um papel nos eventos finais, o verdadeiro conflito profético está relacionado à batalha espiritual pelo coração dos seres humanos”, acredita.
Cristão deve evitar sensacionalismo

Na opinião do pastor, os cristãos devem manter o equilíbrio ao abordar o tema das guerras, evitando tanto alarmismos sensacionalistas quanto a ideia de que tudo não passa de mera coincidência. “O equilíbrio é essencial na vida cristã. Jesus nos chamou para sermos vigilantes (Mateus 25:13), mas também para não nos deixarmos levar pelo medo ou pelas especulações. O cristão deve basear sua fé na Palavra de Deus e não apenas em notícias ou tendências mundiais”, justifica Rossi.
Segundo ele, a melhor forma de viver em tempos de crise como os atuais é seguir o que a Escritura orienta, isto é, pregar o Evangelho e viver uma vida dedicada a Deus. “A Bíblia nos orienta a viver com esperança, compromisso e fidelidade. Paulo escreveu que devemos “guardar a fé” (2 Timóteo 4:7) e manter nossos olhos fixos em Jesus (Hebreus 12:2). Devemos viver como Daniel, que mesmo em um ambiente hostil, permaneceu fiel a Deus e influenciou sua geração. Como Noé, que pregou a verdade e preparou sua família para a salvação”, ressalta.
Profecias apontam para Armagedom e Gogue e Magogue
O presidente da Convenção Evangélica dos Ministros das Assembleias de Deus do Estado do Espírito Santo e Outros (Cemades), pastor Álvaro Oliveira Lima, também ressalta que a Palavra de Deus não menciona especificamente uma Terceira Guerra Mundial, mas cita dois grandes conflitos: o Armagedom e Gogue e Magogue (mencionados em Ezequiel 38:2-3 e Apocalipse 20:7-9), que, esses sim, estão profetizados para acontecer.
“Na escatologia, existem várias escolas que estudam esse tema. Armagedom é uma palavra de origem hebraica que significa Monte do Megido e, segundo essa linha de estudo, ocorrerá uma guerra no Vale de Josafá, onde muitas nações se reunirão para guerrear especificamente contra Israel. Isso acontecerá em um período em que a igreja não estará mais na Terra”, afirma Lima.
O pastor explica que, antes do Armagedom, haverá o arrebatamento da igreja, seguido por sete anos de Grande Tribulação, período em que o anticristo liderará grandes nações com o objetivo de exterminar Israel. “Após isso, seguirá o julgamento das nações, que determinará quem entrará no milênio, um período de mil anos em que Satanás será preso junto com seus anjos. Ao final desse tempo, ocorrerá outra guerra, chamada Gogue e Magogue”, detalha.

E é exatamente por causa dessas profecias que o pastor não acredita em uma guerra com potencial nuclear. “Se fosse assim, a Terra seria destruída, e a Bíblia não se cumpriria como está escrito, uma vez que uma guerra nuclear aniquilaria todo o planeta”, afirma.
O pastor Álvaro também alerta para os sinais da volta de Jesus, que, segundo ele, estão cada vez mais evidentes. “Mesmo que essa guerra não aconteça, os cristãos devem estar atentos a essas notícias, pois elas são sinais de que a volta de Jesus está próxima. É um prenúncio da volta de Cristo, porque, em Mateus 24-25, está escrito sobre guerras e rumores de guerra”, afirma.
Enquanto essas coisas não acontecem, o pastor orienta que o povo de Deus permaneça firme nos caminhos do Senhor. “O cristão precisa estar focado no Senhor Jesus e em seus ensinamentos, estudando a Palavra de Deus, meditando nela e buscando a orientação do Senhor. Assim, não ficará assustado com esses acontecimentos. Nem tudo é o fim dos tempos ou o fim do mundo. A postura do cristão deve ser de vigilância. A volta de Jesus pode ser hoje, mas também pode demorar mil anos. Não sabemos. Portanto, o cristão precisa estar sempre pronto para a partida”, finaliza.

