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sexta-feira, 25 DE abril DE 2025

As Mulheres no Natal de Jesus

Maria, uma menina em idade, mas uma grande mulher nas decisões e na firmeza de propósitos que se transforma na primeira discípula

Por Lidice Meyer Pinto Ribeiro

 Está chegando o Natal. Desde quando Francisco de Assis criou o primeiro presépio no século XIII, que a imagem que temos deste evento é a mesma. Uma manjedoura com um bebê, ladeado por sua mãe, a única representante feminina na cena, cercada de elementos masculinos: José, magos do Oriente, pastores e até mesmo anjos com fisionomias masculinas.

Eu amo presépios. Eles têm o poder de nos enlevar e transportar magicamente àquela noite em que o Filho de Deus nasceu do ventre de Maria. Mas esta imagem tão bela acaba por ocultar a presença de outras personagens femininas que tiveram grande importância antes, durante e logo após o nascimento de Jesus.

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O evangelho de Lucas, ao contrário, destaca e enfatiza o papel destas mulheres nos dois primeiros capítulos de seu texto. Lucas inicia com a história de um casal: Zacarias e Isabel. Mas é Isabel que tem destaque apresentada como sendo da família sacerdotal de Arão. Isabel é apresentada como uma mulher estéril, mas justa e irrepreensível (Lc 15-7). Sua justiça é enfatizada para demonstrar que sua esterilidade não é um castigo por um pecado, mas sim para que se manifestasse um milagre divino em sua vida, numa clara associação com Sara (Gn 18.11-14) e com a mulher de Manoá (Jz 13.2-3).

Isto fica ainda mais claro quando observamos a declaração do anjo a Maria: “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37) em comparação com a pergunta a Sara: “Acaso para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18.14). Ao relato sobre a gravidez de Isabel (Lc 1.24-25) segue-se a visita do anjo a Maria, sua parente, uma adolescente recentemente prometida em casamento ao jovem José. Apesar da pouca idade, Maria questiona a si e ao anjo antes de afirmar: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a sua palavra”. (Lc 1.38).

Maria, uma menina em idade, mas uma grande mulher nas decisões e na firmeza de propósitos que se transforma na primeira discípula do Mestre Jesus, sempre guardando as palavras e meditando-as no coração (Lc.2.19 e 51). Já grávida, Maria decide buscar refúgio seguro junto à sua parente Isabel, alertada pelo anjo de que esta também estava passando uma situação semelhante: uma gravidez impossível (Lc 1.36).

Em um encontro emocionante, o Espírito de Deus se manifesta no diálogo entre as duas mulheres, mediado pelos bebês que ambas esperam (Lc. 1. 39-45). E Isabel, “possuída do Espírito Santo” declara pela primeira vez que aquele bebê sendo gerado no ventre de Maria não era uma simples criança, mas era o Senhor! Lucas então registra um belíssimo cântico de Maria (Lc 1.46-55) que revela seu conhecimento das Escrituras e seu reconhecimento da gravidez sobrenatural que está experimentando pois parafraseia o cântico de Ana, que por sua vez também experimentava uma gravidez impossível (I Sm 2.1-10).

Após alguns meses junto a Isabel, Maria, mais fortalecida em sua fé e determinação casa-se com José (Lc 1.56; 2.5). Será um pouco mais de uma semana após o nascimento de Jesus, que uma terceira mulher entrará na história com uma preciosa declaração. Lucas apresenta a profetisa Ana, uma viúva idosa da tribo de Aser, uma das tribos retornadas da diáspora do Reino do Norte (Lc 2.36-38). Será esta mulher a primeira a divulgar que aquele menino não era uma simples criança, mas era o Messias esperado há muito, que reunificaria novamente os reinos de Judá e Israel em um só povo, completando a profecia de Simeão. Jesus é a “Luz para a revelação aos gentios e para a glória do povo de Israel” (Lc 2.32)

Uma criança, três mulheres e três revelações. Naquele Natal, no menino Jesus já se revelavam o Mestre, o Senhor e o Messias!

Lidice Meyer Pinto Ribeiro é doutora em Antropologia, Professora no Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, Portugal

Este artigo foi publicado originalmente no Portal da Revista Comunhão, em 24 de dezembro de 2021. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.

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