Nos últimos tempos muitos artistas do meio secular têm gravado clássicos e obras inéditas da música gospel, que fogem ao seu repertório habitual.
Por Priscila Cerqueira
Mas será essa uma tendência? E por que essa atração por essas canções? O mercado da música gospel cresceu muito e os hits lançados por artistas desse meio, de Anderson Freire a Thalles Roberto, inspiram os cantores seculares.
“Os artistas seculares sentem o coração grato a Deus por conseguirem visibilidade e alcançarem o sucesso e a fama, então, acabam gravando música gospel no sentido de registrar o agradecimento a Deus. É uma espécie de homenagem”, explica Márcio Moreira, diretor de música gospel da Som Livre, gravadora que tem o maior número de artistas seculares no Brasil.
O mais recente lançamento do tipo foi o EP “Freedom”, do cantor canadense Justin Bieber, com seis faixas inéditas, com temas ligados ao evangelho.
Em novembro do ano passado, o Brasil passou a conhecer Luciano Camargo cantando música gospel. O artista, dupla sertaneja com o irmão, Zezé Di Camargo há 29 anos, apresentou seu primeiro álbum gospel, “A Ti entrego”, com 15 canções. “Minha prioridade hoje é cantar para Jesus. Estou no ápice da minha carreira por vaidade espiritual”, declarou.
César Menotti e Fabiano, que são membros da Igreja Batista Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), mas têm carreira secular, gravaram algumas canções bem conhecidas no segmento gospel: “Porque Ele vive”, “Presença” e “Segura Na Mão de Deus”. Em 2019, eles fizeram uma participação em uma gravação do EP “Segundo tempo”, do grupo Preto no Branco, na canção “Com você eu topo”.
E a mais recente gravação da dupla foi da canção Tá chorando Por Quê? “Tem momentos da vida em que o que mais precisamos é de uma palavra de esperança”, escreveu Fabiano em seu Instagram. Já César dedicou a canção para abençoá-los, e acrescentou: “Creia, tudo vai passar”.
Outros artistas seculares famosos também cantaram canções gospel no Brasil como a dupla Marcos e Belutti, que gravou o hit “Ninguém explica Deus”, do grupo Preto no Branco, Thiaguinho também gravou “Deus cuida de mim”, de Kleber Lucas e Luan Santana o clássico “Sonda-me, Usa-me”, de Aline Barros. Todos participaram do projeto Análaga no Youtube, só com músicas gospel. E a cantora Ivete Sangalo cantou a música do Thalles Roberto, “Arde outra vez”, durante um show em São Paulo.
Da fama para o gospel
Com grande visibilidade no mercado, Simone, da dupla sertaneja com Simária também já fez diversos covers de músicas gospel. Em agosto de 2018, a artista cantou o clássico “Deus de promessas”, com o próprio compositor dela, o cantor Davi Sacer, que, na ocasião, gravou seu DVD em comemoração aos seus 15 anos de carreira.
“Foi incrível, pensa numa alegria para mim participar desse trabalho? Foi muito gratificante minha primeira participação cantando para Deus. Espero do fundo do meu coração que esse louvor invada os corações de vocês e que Deus fale poderosamente através dessa música que gravei com o Davi”, expressou a artista.
Em 2019, por ocasião da gravação do DVD dos seus 25 anos de carreira, Joelma Mendes, que ficou conhecida pela banda Calypso, gravou a canção “Um novo começo/ Os sonhos de Deus”, com participação da amiga e também cantora, Ludmila Ferber.
A beleza e a riqueza do gospel
Os hits lançados pelos artistas evangélicos têm atraído os seculares especialmente pela sua beleza e riqueza de conteúdo. Não só pela boa música que se produz, mas também pelo tributo e agradecimento. Os artistas se sentem inspirados a quererem cantar o gospel.
Maurício Soares, diretor da Sony Music gospel, maior gravadora evangélica do país e que também abriga grandes artistas seculares, afirma que a música gospel cresceu muito nos últimos anos, marcada pela popularidade do conteúdo evangélico nas plataformas. Ou seja, a música passou a ser mais popular, facilitando o crescimento da pregação cristã.
Hoje a música gospel toca em rádios seculares, o que não acontecia antes. “O digital democratizou o acesso dessas músicas ao maior público. Antes, era necessário ter um CD, mas hoje a música está ao alcance de todos. A pessoa tem mais acesso aos conteúdos nas plataformas”, explicou. Soares
A música gospel também aborda temas como dor, vida, comunhão e busca pela presença de Deus. Um exemplo é a canção “Faz um milagre em mim”, de Regis Danese, que estourou no mercado em 2008 e faz sucesso até hoje. Em tempos de pandemia, em meio a tanto luto, essa busca pelo mundo espiritual tem sido mais constante do que nunca.
“Os artistas encontram um caminho em Deus para nutrir esperança de tempos melhores e a música gospel é um ótimo veículo nesse sentido”, pondera Márcio. “A música gospel é uma contraposição neste momento de violência, corrupção e pandemia, pois traz paz e alívio”, acrescenta Maurício.