A única maneira se preparar como “soldado de Cristo” para a luta contra o mal é vestindo a armadura de Deus. Cada parte dela é essencial para quem quer resistir aos ataques e alcançar a vitória
1ª parte de duas
Diariamente, enfrentamos dois tipos de batalha: a física e a espiritual. Enquanto a física atinge o corpo, a espiritual tenta derrubar a nossa fé. Mas como saber quando somos atingidos? É mais simples do que imaginamos. Quando o nosso espírito é atacado, somos dominados por um sentimento de desânimo, perdemos rapidamente a comunhão com Deus, nos afastamos de Sua Palavra e até ficamos suscetíveis ao pecado. Quando isso acontece é hora de tomar uma decisão: se prostrar e perder ou se levantar para lutar. E quem decide lutar precisa de coragem.
Jesus disse: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10.28).
Posteriormente, o apóstolo Paulo, que se considerava um “soldado de Cristo” e estava habituado às lutas e provações, exortou os crentes da igreja em Éfeso a se vestirem de uma “armadura”. Segundo ele, somente protegidos espiritualmente é que poderiam enfrentar os “dardos inflamados de Satanás”. Além disso, se tivessem a fé como um escudo de proteção, resistiriam aos dias maus.
“Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do Diabo, porque nós não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares. Portanto, tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e ficar de pé depois de ter vencido tudo. Estai, pois, firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade, vestindo a couraça da justiça, e tendo os pés calçados para ir anunciar o Evangelho da paz; tomando, sobretudo o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do maligno; tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, orando continuamente em espírito, com toda a sorte de orações e de súplicas” (Ef 6:10-18).
Segundo a Bíblia, existe um perigo iminente no mundo espiritual, e quem não o identifica corre o risco de sofrer danos irreversíveis. É como estar desprotegido em meio a uma batalha, pior ainda, é nem perceber que ela está acontecendo. Mas quem lê a Bíblia, além de saber identificar quando essa batalha começa, também sabe se proteger tomando posse da “armadura” que Deus disponibiliza para cada um de nós. Cada parte dessa armadura tem a sua utilidade de proteção, portanto, abrir mão de qualquer uma delas pode fazer com que o soldado se torne vulnerável. Numa analogia às batalhas do Império Romano, vestir-se, hoje, com a armadura de Deus é algo imprescindível na guerra diária espiritual pelo Reino. Pensando nisso, a equipe da Revista Comunhão traz de volta este tema, numa republicação sobre a utilidade das seis partes que compõem a armadura. Nesta primeira matéria, abordaremos três delas: cinturão da verdade, couraça da justiça e sandálias da paz.
Aprenda a vencer as batalhas
Jesus proclamou a liberdade aos presos e oprimidos (Lucas 4.18). Ao convocar seus discípulos, deu a eles todas as instruções para que alcançassem a vitória. E Paulo, habituado a conviver diariamente sob o domínio do Império Romano, usou o exemplo da armadura dos soldados para revelar aos cristãos como proceder diante das batalhas daqueles dias. Paulo também se identificava como “guerreiro de Deus”. Seu ministério é comparado a uma milícia. Sua vida foi um árduo combate (1 Coríntios 9.26; Filipenses 1.30; 1 Tessalonicenses 2.2; 2 Timóteo 2.3-4; 4.7).
O pastor aposentado Luiz Jubrael, na época em que pastoreou a Primeira Igreja Batista de Campo Grande, Cariacica, destacou que “quem segue a Cristo deve estar disposto a lutar contra as forças espirituais do mal. Essa luta não é algo suave ou indolor. E mais, os ataques vêm de todos os lados”. O pastor Ruy Santos, da Igreja do Evangelho Quadrangular do Bairro República, Vitória, compartilha da mesma opinião. Segundo ele, a batalha que enfrentamos está em todos os lugares: em casa, no trabalho, na escola, na convivência social em geral. “A vida com Cristo é maravilhosa, mas cheia de desafios, de luta incessante contra nosso maior inimigo, o diabo. O ataque vem de qualquer lado, não temos como prevê-lo. A Bíblia fala que lutamos contra um inimigo invisível. A guerra é árdua, sim, mas nossas armas são poderosíssimas.” Traduzida do grego, a palavra “armadura” vem de “panoplia”, que se refere ao equipamento completo de um soldado – “pan”, que significa “toda”; e hopla, “armas”. Por isso, o texto bíblico reforça que os crentes devem tomar “toda” a armadura de Deus, que é constituída por diferentes elementos.
O alvo
O alvo de nossa luta não é o nosso próximo. O inimigo a ser combatido é Satanás, assim como seus demônios (1 Pedro 5.8; Efésios 6.12). O diabo não é um adversário qualquer; ele age na mente e no coração do homem para destruí-lo. Ninguém pode enfrentar o maligno de peito aberto, desprotegido, porque será derrotado. “Não basta esta ou aquela peça, nosso corpo precisa de “toda” a proteção. Se o diabo encontrar uma só brecha, por menor que seja não hesitará em nos atacar nesse ponto desguarnecido”, disse o pastor Ruy Santos. A armadura exalta as virtudes espirituais que devem fazer parte do nosso caráter e da nossa vida. Sem ela, não temos qualquer chance nessa guerra.
O CINTO DA VERDADE
A primeira peça da armadura de Deus é o cinturão da verdade. Cingir significa enfaixar, cercar ou apertar ao redor; neste caso, a si mesmo (cingindo-vos). O cinto de couro usado pelos soldados protegia a região do baixo abdômen, sustentando boa parte da armadura.
Prendia a túnica do soldado, um traje muito comum em várias culturas como no Oriente Médio, onde é a principal peça do vestuário árabe. É uma espécie de vestido largo, de manga comprida e que cobre todo o corpo. O cinto de couro ajudava a manter a túnica no seu lugar, limitada ao corpo, evitando embaraços na hora da luta. Também sustentava a couraça e servia de base para colocar a espada. Sem o cinto, outras partes da armadura poderiam ficar comprometidas. A verdade não é outra senão a verdade de Cristo; a veracidade do Evangelho. Vestir o cinto da verdade é se vestir da verdade de Cristo.
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”; e ainda: “Eu sou o caminho a verdade e a vida” (João 8.33; 14.6). Na vida do discípulo, a peça central é a verdade, que vem de Deus (João 17.17). Para servir de proteção, a verdade precisa ser conhecida, recebida e aplicada. Isso exige estudo cuidadoso, aceitação de coração bom e sincero e coragem de aplicar a Palavra em nossas vidas e efetuar as mudanças necessárias. O crente deve ter uma vida marcada pela autenticidade e pela sinceridade. Ele jamais apoiará o engano.
“Podemos nos vestir com a verdade, falando e vivendo a verdade (Efésios 4.25). Quem poderá nos acusar legitimamente? Sendo verdadeiros, sempre estaremos com a razão”, diz o pastor Ruy Santos, que completa: “Aquele que mente é vulnerável aos ataques do mal. Mentir é ter intenção de enganar. Deus é verdade (Deuteronômio 32.4) e acha a mentira um dos pecados mais odiosos (Provérbios 6.16-19). Não há lugar para mentirosos no Reino (Apocalipse 22.15) e por boa razão: Satanás é o pai deles (João 8.44)”.
Assim como um cavaleiro se levanta e põe a sua armadura, preparando-se para as batalhas, nós também precisamos fazer isso, como a primeira atitude do dia, e nos envolver com a Palavra de Deus, que é a verdade (João 17.17).
Assim, ninguém poderá envergonhá-lo ou atingi-lo com falsas verdades ou acusações. Além disso, esse soldado de Cristo terá uma potente arma para desfazer os enganos e teorias disseminadas, enquanto divulga a autenticidade do Evangelho. Contra a verdade não há preocupação. Ela prevalecerá no dia mau. O rei Davi, que lutou muito com povos inimigos de Deus e com seus próprios erros, concluiu: “Sei que desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria.” (Salmos 51.6)
A COURAÇA DA JUSTIÇA
A couraça era um traje feito de placas de metal e couro duro, que servia para proteger o tronco de um soldado treinado de Roma. Ela cobria o corpo do pescoço até abaixo da cintura, o peito e as costas, onde estavam o coração, o pulmão e outros órgãos vitais.
Numa guerra de espadas e flechas na Idade Média, a couraça dificultava o adversário de ferir o soldado com golpes mortais. Era também o revestimento de um soldado na antiguidade (2 Crônicas 26.14; Neemias 4.16). Foi parte da armadura do gigante Golias. O rei Saul chegou a vestir Davi com sua couraça, mas ele a dispensou (1 Samuel 17.5-38).
Quanto mais forte era essa parte da armadura, mais proteção tinha o guerreiro. Se fosse fina, o inimigo poderia atravessar o material com um golpe certeiro e atingir órgãos decisivos para a sobrevivência. Em que sentido o apóstolo Paulo fala da metáfora da couraça da Justiça? Será que a Justiça de Cristo recebida pelo crente por meio da fé? Ou as obras de justiça feitas pelos filhos de Deus por causa da justiça que Ele lhes concedeu? A couraça simboliza os dois tipos de Justiça, tanto a justificação do cristão em Cristo (2 Coríntios 5.21) quanto sua vida justa no Senhor que o leva a justiça prática e diária (Efésios 4.24).
Justiça pode ser definida simplesmente como fazer o que é certo aos olhos de Deus e não nos sujar com a injustiça do mundo ou duvidar do sacrifício justificador de Cristo. Ela nos protege de perfurar nossos pulmões espirituais tirando nosso oxigênio. Ou os nossos rins, localizados abaixo de cada caixa torácica, um em cada lado da coluna vertebral, e que servem para filtrar as impurezas do sangue que afetam outros órgãos do corpo. E a coluna vertebral do soldado, que a mantém de pé e em constante movimento. Sem a couraça da Justiça, o soldado fica paralisado, como uma presa indefesa nas garras do inimigo. Se a couraça for fina, o inimigo atravessará por ela. Como declaram Isaías 64:6 – “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia” – e Romanos 3:10 – “Não há justo, nem um sequer”. Ao caminharmos na verdadeira Graça de Deus, nos tornamos justos em nossas ações e em nossos corações (Romanos 14.17).
O calçado da paz
O solado dos calçados feitos de couro era cravejado com pregos agudos. Esses calçados davam estabilidade ao soldado, pois se prendiam ao chão. Esse elemento da armadura era para dar-lhes vantagem contra os inimigos despreparados e sem cuidado com o lugar onde pisavam.
Pouco adiantaria ao soldado romano estar cingido com o cinto de couro e vestido com a couraça de metal se estivesse com sandálias inadequadas ou mesmo descalço. Sem segurança e estabilidade nos pés, faltariam-lhe prontidão e firmeza para correr e atacar.
O calçado do soldado fala da segurança, da prontidão e do conforto que há nas boas-novas e na reconciliação com Deus. Ter os pés calçados significa o estabelecimento de um alicerce espiritual firme para os pés daqueles que cruzam desertos e terrenos montanhosos, levando a Boa-Nova da paz.
Imagine-se de pé e descalço numa região árida, cheia de pedras, como a do Oriente Médio.
É possível se mover, mas com muito cuidado e sem agilidade. Sem sapatos, o peso das outras peças da armadura tornaria os pés sensíveis e o soldado seria um alvo fácil. As boas-novas do Evangelho elevam-nos à condição de paz com Deus em Cristo. Jesus é o promotor da paz entre os homens, e essa é nossa missão. No exército de Deus, nosso general não promete vitória para os soldados desavisados ou negligentes no uso da armadura.
Dicas de leitura
Guerra contra os santos
Jessie Penn-Lewis
Ed. Mundo Cristão
A armadura espiritual
Hank Hanegraaff
Ed. CPAD
Blindagem contra as trevas
Oswaldo Lôbo Jr.
Ed. A.D. Santos