“Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito” (Ef 5:33)
Por Fabiana Tostes
Lá vai o casal mais uma vez para um gabinete pastoral! Casados há tanto tempo, marido e mulher se sentam diante do pastor e repetem as mesmas palavras do último gabinete. Ela reclama que não se sente amada pelo marido e ele que não se sente respeitado pela esposa. Eles oram, são tementes a Deus, querem bem um ao outro, mas algo não se encaixa na vida a dois, e o desgaste ocasionado por isso tem provocado dor, amargura e ameaçado destruir o casamento.
A história do casal relatada acima é fictícia, mas a situação vivida por eles é bem real e constante na vida de muitos casais de verdade. Não é novidade que a instituição familiar está em crise e que o “princípio das dores” vem do núcleo da família (ou seja, marido e mulher). “Quando marido e mulher não vão bem, a família toda vai mal, e assim, a igreja vai mal e a sociedade também”, disse o pastor Hélcio Duarte, da Igreja Evangélica Missionária Pentecostal (Iemp), em Vitória.
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E para ele que está à frente do ministério de casais da sua igreja e reuniu, no último retiro do ministério, 48 casais – a maioria dos problenas entre marido e mulher reside em não observar dois princípios simples, mas fundamentais dentro do casamento: amor e respeito. O retiro de casais programado pelo pastor e por sua esposa contou com palestras sobre esse tema.
“É impossível trabalhar com casais sem puxar para estes princípios. A Bíblia é sábia e completa. Ela diz que a mulher precisa respeitar o marido. Por que não diz que ela deve amá-lo? Porque a mulher já faz isso naturalmente, ela nasceu para amar. Qual a mulher que, dentro da normalidade, não se casa por amor? Mas o amor não leva necessariamente ao respeito. Ela pode amar e, ao mesmo tempo, ser insubmissa. Já com relação ao homem, é natural dele respeitar. Em sua relação de trabalho, profissional, o que mais ele zela é pelo respeito. Mas para ele já não é tão fácil expressar o amor. Por isso a Bíblia diz para o homem amar a sua esposa”, disse o pastor.
O texto a que o pastor se refere encontra-se em Efésios 5:33. Com efeito, o capítulo 5 de Efésios é considerado por muitos teólogos o mais importante tratado sobre casamento no Novo Testamento. Foi também nesse texto que o Dr. Emerson Eggerichs se baseou para escrever o livro Love & Respect (em português, Amor e Respeito). Segundo afirma o autor em seu livro, Deus lhe chamou a atenção para esses dois princípios primeiramente para salvar o seu próprio casamento e, depois, para ajudar muitos outros casais em crise.
Princípio 5.33
Não se trata de nenhuma fórmula mágica, nem de nenhuma novidade. Pelo contrário. É até bastante conhecido o texto em que o apóstolo Paulo fala sobre os deveres conjugais. No entanto, o fato de o livro do Dr. Emerson ter sido considerado um best-seller e obtido ampla repercussão não só nos Estados Unidos como também aqui no Brasil mostra que, se não era desconhecida, a mensagem de amor e respeito baseada em Efésios 5:33 passava despercebida por muitos. Uma verdade simples, mas profunda, que tem transformado a vida de casais.
“Escrevi este livro por causa de um desespero que se transformou em inspiração. Como pastor, eu aconselhava casais, mas não conseguia resolver seus problemas. O principal problema que ouvia das esposas era: ‘Ele não me ama. As esposas são feitas para amar, querem amar e esperam amor. Muitos maridos deixam de fazer a entrega. Mas, conforme continuei a estudar as Escrituras e a aconselhar casais, finalmente enxerguei a outra parte da equação. Os maridos não diziam o mesmo, mas pensavam: ‘Ela não me respeita’ Os maridos são feitos para serem respeitados, querem respeito, e esperam respeito. Muitas esposas deixam de entregar isso. O resultado é que metade dos casamentos termina numa vara de família (e incluímos aí os casais evangélicos)”, escreveu Eggerichs.
“A separação é o caminho mais fácil, mas fico feliz em ver casais buscando o caminho da restauração. É um caminho difícil, mas é o melhor” – Pastor Eliomar Corrêa
Da mesma opinião compartilha o pastor Hélcio. “Por que Deus fala: Ainda que uma mãe se esqueça do filho que ainda mama…?, Porque isso é algo impossível de acontecer, pois não há nada comparável ao amor de uma mulher. Já para o homem, digo isso sinceramente e também como homem, não há nada pior do que ser desrespeitado. Toda nossa postura tem a ver com isso”, relatou.
Para quem já lida com esse tema, a dificuldade está nas pessoas entenderem que não só o amor é incondicional, mas também o respeito. A esposa não precisa ‘merecer’ amor para ser amada, assim como o esposo não necessita de ‘conquistar’ o respeito para ser respeitado. É uma ordem de Deus aos casais, expressa não somente na carta aos Efésios, mas em toda a Escritura.
A carta de I Pedro também ensina isso. “Do mesmo modo, mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, a fim de que, se ele não obedece à palavra, seja ganho sem palavras, pelo procedimento de sua mulher…” (I Pe 3:1) e em I Pe 2:15, a questão do respeito é estendida ainda mais: “Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei”.
Há quase dois mil anos Paulo deixava à igreja de Éfeso uma orientação que, se observada, mudaria completamente a vida de muitos casais. “Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito (Ef 5:33)”. Mais atual do que nunca, essa mensagem de amor e respeito expressa hoje exatamente o que a mulher tanto deseja e o que o homem tanto precisa dentro de um casamento.
Segundo a missionária Isabel Zwahlen, da agência Jovens com uma Missão (Jocum), o respeito precisa ser resgatado. “Trata-se de um princípio que precisa ser resgatado na vida das pessoas em geral. Se elas não tiverem respeito e consideração umas pelas outras, não poderão aplicar isso no casamento. A questão do respeito no relacionamento conjugal tem muito a ver com o entendimento que cada um possa ter do outro como pessoa e, depois, como homem e mulher”, disse ela.
Isabel disse ainda que estamos vivendo numa sociedade desmoralizante, que não tem o respeito como um valor. “Os homens estão perdendo sua hombridade e as mulheres sua dignidade ao exercerem papéis que não são seus, funções que não são suas. A competição, o machismo, o feminismo, roubam das pessoas esse respeito pelo outro. Não se pode aplicar um princípio em cima do vácuo. Os princípios da Bíblia são aplicáveis em cima de outros princípios básicos. Se falta um, faltará o outro”, disse.
E a falta de um dos valores acarreta um círculo insano que gira com maior intensidade com o passar do tempo. Se faltar amor, a mulher responde com falta de respeito. Se faltar respeito, o homem responde com falta de amor.
Rosa ≠ Azul
Não! As mulheres não são de Vênus e os homens não são de Marte, como intitula o livro tão conhecido do escritor John Gray. Homem e mulher vieram da mesma ‘matéria-prima, são imagem e semelhança de Deus. São iguais em valor e importância, porém, não há como negar que são diferentes em muitos aspectos, principalmente em sua linguagem, na forma como percebem o mundo ao redor. Há códigos na fala dos casais que precisam ser decifrados. A comunicação num casamento, ou a falta dela, tem sido o pomo da discórdia.
É como se a mulher enxergasse tudo à sua volta com um par de óculos cor-de-rosa e o homem com um par de óculos azul. É como se ela ouvisse com um aparelho auditivo cor-de-rosa, e ele, com um azul. Diante disso, corresponder às necessidades do cônjuge torna- se um desafio. Quando esse código’ não é decifrado e trabalhado, falta diálogo e sobra hostilidade para ambos os lados.
Um bom exemplo disso é a interpretação diferente que homem e mulher fazem de uma mesma exclamação. “Não tenho roupa para vestir!”. Se essa frase fosse dita por uma mulher, é bem provável que o que ela estivesse querendo dizer é que não tem nada novo para vestir. Já se fosse dita por um homem, o entendimento mais provável é que ele queira dizer que não tem nada limpo para vestir. Trata-se de um exemplo simples, sem outros desdobramentos, mas que revela com clareza como falhas na comunicação e entendimento podem se tornar inimigas de um casamento.
“Aprender a cultivar amor e respeito em seu relacionamento de namoro e noivado é uma das chaves para um casamento saudável.” – Isabel Zwahlen
“Um dos pontos iniciais para que a relação de amor e respeito seja abalada é a falta de diálogo. Acredito que para o homem é mais difícil compreender essa dinâmica, por ter, culturalmente, dificuldades de comunicação. Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum os casais procurarem terapeutas familiares ou conselheiros matrimoniais. No Brasil ainda temos limitação nessa área, principalmente porque o homem não se dobra. Já a mulher é mais sensível”, disse o pastor Eliomar Corrêa de Jesus, ministro auxiliar da Primeira Igreja Batista de Vitória.
Casado há 18 anos e há 15 atuando com a igreja, o pastor se anima quando vê casais em crise escolhendo o caminho da restauração. “A separação é o caminho mais fácil, mas fico feliz em ver casais buscando o caminho da restauração. É um caminho difícil, mas é o melhor”, disse ele.
Nunca diga…
- …à sua esposa que ela deve conquistar seu amor para que você possa amá-la.
- … Ao seu esposo que ele deve conquistar o seu respeito para que você possa, então, respeitá-lo.
- … Justificativas de sua falta de amor com a falta de respeito dela. Sua falta de amor é uma desobediência a Efésios 5:33a.
- … Justificativas de sua falta de respeito com a falta de amor dele. Sua falta de respeito é uma desobediência a Efésios 5:33b.
- “Não vou amar essa mulher até que ela me respeite”.
- “Não vou respeitar esse homem até que ele me ame”.
- “Ninguém pode amar essa mulher!”.
- “Ninguém pode respeitar esse homem!”.
Rosa Dela+Azul Dele = Lilás De Deus
Diversidade nunca foi sinônimo de divisão, como unidade nunca foi de conformismo. Saber lidar com as diferenças, renunciar ao seu direito em favor do direito do seu cônjuge, perdoar em todos os casos e em todas as vezes e respeitar e amar de forma incondicional podem não só melhorar a vida a dois como salvar um casamento. E se esses princípios forem observados antes, ainda no tempo de namoro ou noivado, as chances de dar certo são ainda maiores.
“Aprender a cultivar amor e respeito em seu relacionamento de namoro e noivado é uma das chaves para um casamento saudável. A visão errada do homem e da mulher é a primeira coisa que precisa ser corrigida. Cada um em seu lugar, seu papel e sua função. Respeitando o outro como ser diferente, mas de valor igual, coloca-se um fundamento saudável para desenvolver o amor e o respeito necessários para o casamento”, disse Isabel.
É isso ela aprendeu com sua própria experiência. Casada com um missionário suíço há 27 anos, ela teve que aprender muitas coisas ainda antes de se casar. “Viemos de duas culturas diferentes, temos temperamentos opostos, fomos criados de maneiras diferentes. Quando nos conhecemos, nossos líderes nos ensinaram desde o tempo de namoro a entender nossas diferenças culturais e de personalidade. Aprendemos a valorizar um ao outro, e nosso amor foi crescendo. Eu admiro meu marido como pessoa e como líder, e o respeito. Ele me ama, me dá segurança, respeita minha individualidade. Eu o amo mais. Para nós dois, os princípios bíblicos são muito importantes. São eles que orientam nossas escolhas, nossas metas, tudo que fazemos”, contou.
Compreender os princípios de amor e respeito contidos na Escritura e praticá-los no dia a dia do casamento nem sempre será fácil. Para muitos, será um processo de reeducação difícil, penoso e talvez até sofrido, já que, em muitos casos, será cumprir o sofrer por amor, relatado na carta aos Coríntios (1Co 13:7). Mas, ainda que seja trabalhoso, entregar o amor que a mulher deseja e o respeito que o homem precisa é a chave que tem aberto o coração dos cônjuges para a felicidade no casamento, na família e em toda a sociedade.
“Isso é casamento!”
“Lembro de uma vez em que tive que resolver um problema numa das igrejas na Bahia e passei mais de 20 dias fora, longe da minha família. Hoje eu não faria mais isso, mas na época eu fiz. Quando cheguei em casa, era por volta de 1 hora, estava muito cansado. Então, minha esposa me olhou, me abraçou, me beijou, só perguntou se eu estava cansado e não falou mais nada. Me levou para o banheiro, me despiu, me colocou debaixo do chuveiro, ensaboou minha cabeça, me enxugou, me vestiu com o pijama, me colocou na cama, preparou um lanche, me serviu na bandeja e depois deitou ao meu lado e dormiu com a cabeça no meu peito. No outro dia, eu estava pronto pra resolver qualquer problema. Era um novo homem, estava como um leão. Eu me senti cuidado e respeitado. Isso é casamento!”. Pastor Hélcio Duarte, casado há 21 anos com Elizângela Duarte, da Igreja Evangélica Missionária Pentecostal (lemp)
“Ele tem sido mais romântico”
“Minha natureza é de ser imediatista, mais presente, autoritária. Já meu marido é o oposto. Seria muito mais fácil para mim ser submissa se eu fosse retraída, e seria muito mais fácil para ele também ser o cabeça do casal se ele não fosse tão calado. Deus falou muito comigo sobre respeitar meu marido. Eu achava que respeito era só não trair, não olhar para outros homens, mas não é só isso, é também permitir que ele lidere o casamento. Isso tem sido um exercício para mim, estou tendo que me refrear e ele tem me ajudado nisso. Não tem sido muito fácil, mas Deus me abrandou e acatar isso não tem me humilhado, porque eu sempre achei que ser submissa era ser humilhada, mas não é. E isso tem reflexos até na criação dos filhos. Quando acho que ele agiu de forma errada, agora eu me calo, antes eu dava uma cortada nele na frente das crianças. Mas agindo de outra forma agora acho até que ficou mais fácil de ele me amar. Ele tem sido mais romântico”. Sandra Ferreira, casada há 16 anos com Cláudio Taliati, ambos da Igreja Evangélica Missionária Pentecostal (lemp), Vitória.
“Ela foi muito sábia e prudente”
“Eu não era crente e a minha mulher me ganhou para Jesus sem nunca ter brigado comigo. Eu ia pra pagode, pra barzinho e ela me acompanhava. Ela conversou com o pastor dizendo que precisava estar comigo nesses lugares e isso chamou minha atenção. Ela ia aos lugares que eu gostava e nunca ficava com expressão de aborrecida. Hoje eu sei que ela ficava orando, mas nunca reclamava de nada. Então eu comecei a pensar que também poderia frequentar os lugares de que ela gostava, como a igreja. Foi aí o início da minha conversão. Ela foi muito sábia e prudente. Sem falar nada, ela conseguiu me mostrar as coisas certas. Nunca jogou nada na minha cara. Toda vez que eu chegava em casa, às vezes bêbado, chato, ela pacientemente me demonstrava carinho, sempre me levava comida e eu fui minado pelo amor. Ela trouxe a mim uma realidade que eu não conhecia e foi aí que eu me dei conta do tempão que perdi no mundo. Hoje, já faz 20 anos que eu me converti, e vivo muito bem”. Flamarion Ferreira Silva, casado há 39 anos com Edneusa Gomes Silva, ambos da Igreja de Nova Vida, Vitória.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 148 da revista Comunhão, de julho de 2009. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.