A busca por bens materiais pode representar um desafio à vida cristã? Como equilibrar a prosperidade com a fé?
Por Patrícia Esteves
A riqueza é frequentemente associada a status e sucesso, mas a Bíblia adverte sobre os perigos do apego às posses. Passagens como Mateus 19:24, que afirma que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus, levantam questionamentos sobre a relação entre fé e riqueza. Contudo, a questão que permeia muitas discussões é: ser rico atrapalha a fé? É um obstáculo para a salvação?
O pastor Kennedy Sobrinho, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério de Madureira, em Campo de Caldas Novas/GO, oferece uma perspectiva esclarecedora sobre esse assunto delicado. Segundo ele, “com toda certeza é possível ter riquezas e não atrapalhar o seu relacionamento com Deus”. Para Kennedy, a chave está na atitude em relação ao dinheiro. “O dinheiro é um péssimo senhor, mas é um ótimo servo”, explica. Para ele, por isso a prática da generosidade emerge como um princípio fundamental. Quando as riquezas são usadas para ajudar o próximo, elas não apenas promovem o bem-estar social, mas também fortalecem a relação do cristão com Deus.
A Bíblia ensina sobre a importância da generosidade em várias passagens. Em 2 Coríntios 9:7, lemos: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza, nem por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”. A prática da generosidade transforma a maneira como os cristãos veem suas posses e riquezas, permitindo-lhes enxergar a riqueza não como um fardo, mas como uma ferramenta para servir aos outros.
Entretanto, a falta de humildade pode distorcer essa relação. Kennedy alerta que “quando a pessoa se torna soberba, prepotente, quando a pessoa vai perdendo a sua humanidade achando que o seu dinheiro abre todas as portas, isso faz com que a pessoa tenha a sua confiança mais no seu dinheiro do que em Deus e nas pessoas”. Essa confiança excessiva na riqueza pode minar a dependência de Deus e afastar a pessoa de suas verdades espirituais, conforme ensina Tiago 4:6: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.
Por outro lado, o pastor enfatiza que a verdadeira prosperidade está na disposição de compartilhar. “A pessoa próspera é aquela que, às vezes, não tem muito, mas sabe repartir com quem tem menos”, afirma. Essa visão contrasta com a ideia de que a riqueza é um fim em si mesma. Em vez disso, ela é um meio de promover a solidariedade e o amor ao próximo, pilares da fé cristã.
A passagem sobre o camelo e o fundo da agulha também convida à reflexão. O “fundo da agulha” pode ser interpretado como uma pequena abertura, uma passagem que simboliza a dificuldade que os ricos enfrentam em abrir mão de suas posses e se submeterem à vontade de Deus. Essa imagem serve como um lembrete de que, muitas vezes, as distrações da vida material podem dificultar a verdadeira conexão espiritual. A riqueza não é em si mesma um mal, mas o apego a ela pode criar barreiras para entrar no reino de Deus.
Recomendações
Para aqueles que já nasceram ou se tornaram ricos, Kennedy recomenda a prática da humildade e o reconhecimento da igualdade na fé. “A melhor maneira de exercer influência positiva na comunidade é deixar claro, em reuniões e eventos, que a pessoa rica é igual na fé ao irmão que não tem posses”, sugere. Essa abordagem não apenas fortalece a comunidade de fé, mas também ajuda a evitar a alienação que pode surgir da riqueza.
A relação entre riqueza e fé não precisa ser conflituosa. Ao adotar uma atitude generosa e reconhecer a importância da humildade, é possível que o cristão exerça sua fé plenamente, independentemente de sua situação financeira. A verdadeira essência da prosperidade reside em como se utilizam as riquezas: como um recurso para abençoar vidas e construir um legado de amor e fé. Assim, a pergunta persiste: será que a riqueza é, de fato, um empecilho para a salvação, ou pode ser um veículo para o amor e a generosidade? A resposta pode estar mais próxima do coração do que se imagina. A resposta está na atitude do cristão em relação a Deus e ao próximo, não no dinheiro.