Superproteger pode parecer um gesto de amor, mas permitir que os filhos enfrentem desafios é essencial para seu crescimento emocional e espiritual
Por Patrícia Esteves
Muitos pais se preocupam em proteger seus filhos de qualquer dor ou desconforto. Embora essa proteção venha do desejo sincero de evitar sofrimentos desnecessários, a superproteção pode ter efeitos negativos na formação emocional, psicológica e espiritual das crianças. A psicóloga Paula Santos, da Igreja Ser Amor, em Vila Velha/ES, aponta que privar os filhos de experiências que envolvam dificuldades e frustrações pode enfraquecer seu desenvolvimento e dificultar sua maturidade emocional. Em vez de prepará-los para enfrentar os desafios da vida, a superproteção pode fazer com que cresçam inseguros, dependentes e incapazes de lidar com a realidade.
Na Bíblia, o desenvolvimento da resiliência e do caráter é um processo que envolve perseverança, paciência e a capacidade de passar por adversidades. Romanos 5:3 diz que “a tribulação produz a perseverança; e a perseverança, a experiência; e a experiência, a esperança”. Esse processo é fundamental para o amadurecimento da fé e para que se aprenda a depender de Deus, e não apenas das próprias forças. Quando os pais privam os filhos de aprender essas lições, podem, sem querer, dificultar o crescimento espiritual e a fé que é moldada ao longo das dificuldades.
Segundo Paula, que também é psicanalista infantojuvenil e educadora parental, muitos pais, com boas intenções, acabam sendo excessivamente protetores, tentando “poupar” os filhos de qualquer dor. Porém, essa atitude, se levada ao extremo, pode impedir que as crianças aprendam lições valiosas sobre perseverança e autocontrole. A superproteção pode gerar uma dependência emocional nos pais, fazendo com que as crianças não consigam tomar decisões ou lidar com frustrações quando não estão por perto. Isso pode resultar em adultos emocionalmente imaturos, que têm dificuldade em lidar com conflitos, incertezas e perdas.
Além disso, em uma sociedade que busca soluções rápidas e constantemente evita o desconforto, é comum que as crianças cresçam sem entender que a dor e as frustrações fazem parte do aprendizado. De acordo com Paula, a geração atual, exposta ao que chama de “geração dopamina”, acostumou-se ao prazer imediato e não sabe enfrentar momentos de dor. Com isso, surgiu uma juventude fragilizada, emocionalmente vulnerável e com menos capacidade de enfrentamento.
Conselhos práticos para ensinar os filhos a lidarem com a dor
Permitir que eles enfrentem pequenos desafios
Paula aconselha que os pais não tentem resolver todas as situações problemáticas para os filhos, pois permitir que eles enfrentem pequenas frustrações, como não conseguir algo que querem imediatamente, ajuda-os a aprender o valor da espera e da perseverança.
Ensinar sobre a importância do processo
Em um mundo acelerado, onde tudo é imediato, as crianças e jovens têm dificuldade em lidar com a espera. Os pais podem incentivar atividades que promovam o processo, como a leitura, a prática de esportes ou hobbies que exijam paciência e dedicação. Essas atividades ajudam os filhos a entenderem que alguns resultados não vêm instantaneamente, e que a perseverança é uma qualidade valiosa.
Integrar as disciplinas espirituais na rotina
Cristãos precisam ensinar que a oração, o estudo da Bíblia e o tempo de comunhão com Deus são disciplinas que ajudam a lidar com momentos difíceis. Quando as crianças aprendem a confiar em Deus e a buscar força na fé, elas desenvolvem uma base sólida para enfrentar as dificuldades da vida. Além disso, ao verem seus pais vivendo essa verdade, elas se inspiram a aplicar o mesmo princípio em suas vidas.
Conversar sobre fracasso e frustração
Paula também sugere que os pais conversem com os filhos sobre a normalidade de errar e sobre como o fracasso faz parte da jornada. Essa perspectiva permite que as crianças cresçam entendendo que as derrotas podem ser oportunidades de aprendizado e que o crescimento surge, muitas vezes, das dificuldades.
O exemplo de Jesus e a formação do caráter cristão
Jesus Cristo passou por dores, privações e desafios em sua jornada. Seu exemplo de perseverança e fé diante da dor inspira a enxergar a dificuldade como um caminho para o amadurecimento e a confiança em Deus. Ao permitir que os filhos enfrentem dificuldades, mesmo que pequenas, os pais os capacitam para serem resilientes, para viverem uma fé genuína e para desenvolverem o caráter de Cristo. Assim, eles aprendem que Deus está ao lado deles em todos os momentos, e que as lutas da vida não são em vão, mas uma preparação para algo maior.
A superproteção, embora bem-intencionada, pode impedir o desenvolvimento de uma fé madura e de uma resiliência emocional essencial para a vida adulta. Os pais podem oferecer apoio e orientação sem isentar os filhos das dificuldades necessárias para o crescimento. Com paciência, disciplina e fé, pode-se ensiná-los a ver a dor e os desafios como oportunidades de aprendizado e a confiar que, em todas as coisas, Deus está no controle. Assim, eles se tornam testemunhas vivas de Cristo, prontos para enfrentar o mundo com coragem e amor.