28.8 C
Vitória
quinta-feira, 28 março 2024

A igreja sabe amar os diferentes?

O novo desenho da sociedade em que vivemos torna legítima e legal qualquer manifestação de gênero. Todo ser humano tem suas dores e necessidades emocionais e, nesse cenário, travestis, prostitutas, homossexuais e transexuais, além dos indivíduos que destoam dos moldes socialmente aceitos, cada vez mais buscam a Igreja para encontrar refúgio emocional e espiritual. Mas e a Igreja? Está preparada para lidar, em amor, com os diferentes?

Concordar com a união de pessoas do mesmo sexo é contradizer a Bíblia, que aponta de forma veemente essa prática como pecado. Mas uma pergunta essencial se faz necessária nessa abordagem: a Igreja tem cumprido o seu papel de praticar o Evangelho de Cristo com amor e compaixão ao lidar com esse tema?

Existem muitas passagens na Bíblia que se referem ao relacionamento sexual padrão, normal, aceitável e ordenado por Deus, o casamento monogâmico heterossexual. O 20º capítulo de Levítico proíbe não somente as relações entre indivíduos do mesmo sexo, mas também o adultério, o incesto e a bestialidade.

Por isso, não é correto usar as Escrituras como base para tachar homossexuais como os piores pecadores, vinculando-os à impossibilidade de salvação e condenando-os ao ódio e ao desprezo. É o que explica Débora Fonseca, coordenadora do Ministério Luz na Noite, um projeto presbiteriano iniciado há 15 anos e que hoje tem uma sala para atender aqueles que querem abandonar a homossexualidade. “Ninguém é melhor do que ninguém, e a graça coloca todos no mesmo patamar: somos todos carentes do mesmo remédio, que é o sangue de Cristo”, ressalta

- Continua após a publicidade -

Vivendo o amor de Cristo
Para Débora, a Igreja precisa adotar uma outra visão, atuando como comunidade terapêutica no trato para esse grupo. A mudança  de postura pode contribuir no modo como essas pessoas enxergam  os cristãos e na aceitação da abordagem para aconselhamento.

A igreja sabe amar os diferentes?“A mensagem que a Igreja deve viver, antes de tentar passá-la a eles, é a da graça. Infelizmente, nossas igrejas perderam a relevância de suas palavras, pois tentam transmiti-las sem vivê-las. É hora de repensar o Evangelho e entender que ele é para todos nós e não somente para travestis, prostitutas ou homossexuais. Quando modificamos nossa atitude, creio que voltaremos a ser ouvidos”, defende.

Assim também pensa o Pr. Fabrini Viguier, autor do livro “Ser Homem”, da Editora Thomas Nelson Brasil. Ele considera lamentável e triste o preconceito sofrido pelos homossexuais por parte dos crentes, uma conduta muito comum no passado, porém, ainda bastante reproduzida no presente. E reforça: a mensagem da Bíblia não é essa, mas de que “Todos pecaram e carecem da glória de Deus”(Romanos 3.23).

“A Igreja não está preparada para lidar com o assunto, que invadiu os debates sociais atualmente. Temos visto casos difíceis, com agressões deploráveis e tristes. Os cristãos evangélicos passaram por momentos terríveis de perseguição por parte dos católicos, eram hostilizados. Nesse momento, não podemos esquecer esse passado, como eram ruins o preconceito e a perseguição religiosa por causa da nossa opção. Esse o mesmo sentimento dessas pessoas quando são hostilizadas”, alerta o pastor.

Sofrimento solitário
O arrependimento e a submissão a Jesus Cristo, o Salvador, pela fé, é o que abre o caminho para o perdão e a vida eterna. Por isso, é preciso fazer a distinção entre tratar a prática sexual como pecado e condenar a tentação e o desejo. Não é pecado ser tentado ao homossexualismo, da mesma forma que não é pecado ser tentado ao adultério ou ao roubo, desde que se resista; pessoas que passam por essa situação sofrem caladas, de maneira solitária.

No aconselhamento, chega ao projeto. “Os sentimentos são desespero, angústia, apatia, descrença, desesperança. São cristãos com conflitos homossexuais que lutam sozinhos, escondendo suas tentações ou quedas da igreja, do pastor, de sua liderança, com medo real do preconceito, da discriminação e da exclusão. É muito triste observar que um espaço (os templos) destinado ao acolhimento de pecadores tenha se tornado na maioria das vezes local de religiosidade fria e vazia”, lamenta.

Esses sentimentos tomaram conta da vida de Alex Francisco. Dos 18 aos 30 anos, ele foi Alexia Furacão, um travesti que se prostituía na orla de Camburi, em Vitória, mas que sofria e pedia a Deus em seu coração que mudasse sua situação, transformasse sua vida e o tirasse da homossexualidade e da libertinagem. O encontro com Jesus e o Seu amor se deu por meio da abordagem do projeto Luz na Noite em plena madrugada na rua. Ele lembra que até então poucas foram as vezes que tinha ouvido falar de Cristo em meio à luta que vivia na rua. 

A igreja sabe amar os diferentes? 

“Foi um toque diferente, não foi uma coisa mecânica. As palavras da Débora vinham com o olhar de amor e demonstração de certeza de que Deus seria capaz de mudar minha vida. Eu não sabia como Ele poderia fazer isso, e ela me explicou que seria aos poucos, mas que se eu estava disposto a receber essa bênção, ela iria acontecer. E  aconteceu”, recorda.

Hoje, aos 33 anos, Alex saiu da prostituição e congrega na igreja Deus é Amor, tem seu próprio negócio e dá seu testemunho do poder do Pai. Seu conselho é enfático. Na igreja, sempre fala sobre como é preciso ajudar as pessoas que têm desejo por alguém do mesmo sexo, principalmente as que estão na prostituição. “Eu digo que as igrejas precisam se unir e ir até esses grupos levando amor.  Eles são muito marginalizados e já basta tudo que sofrem nas mãos daqueles que não têm a Cristo. Os servos precisam demonstrar amor. Quantas foram as vezes que recebi xingamentos na rua de pessoas que passavam. Já jogaram fogos de artifício que poderiam ter me queimado. Até bola de sinuca já arremessaram em mim.”

Transexuais
Se a maneira de tratar um homossexual que pede a ajuda na igreja já é complexa, imagine quando quem procura auxílio é um transexual que após a operação de mudança de sexo se encontrou com Jesus e se propõe a segui O. O Pr. Fabrini Viguier é categórico nesse sentido. “É preciso que a Igreja entenda que todos nós carregamos de uma vida sem Cristo uma série de marcas no corpo e na alma que nos fazem sempre lembrar esse passado. Agora, o cristianismo é acima de tudo a religião que nos faz olhar para a frente com esperança. Por isso, alguém que passou por uma transformação de sexo e deseja uma vida com Cristo, que Jesus a aceitou, deve ser também aceita pela Igreja, que também necessita dar a ela um ambiente em que se sinta integrada, não escondendo algo tão importante. Um lugar em que consiga viver sem culpa, sem medo de ser quem é naquele meio. Pode carregar alguns trejeitos e traços da vida pregressa, mas o importante é lidar com isso com muito respeito, sempre dando espaço para que a pessoa fique muito à vontade e seja amada, querida, para viver uma nova vida desafiadora com sua alma e mente em Jesus Cristo”, salienta.

A igreja sabe amar os diferentes?O Pr. José Ernesto Conti, articulista da Comunhão e autor do livro “A Velha Bíblia e a Nova Homossexualidade”, explica que são naturais as dificuldades na evangelização de públicos tão específicos. “Da mesma maneira que abordamos qualquer pecador, devemos tratar os homossexuais. Evangelizar é anunciar a maior mensagem de todos os tempos, ou seja, Jesus morreu na cruz para perdoar todos os nossos pecados. Anunciamos que não importa quão grandes essas faltas sejam, todos foram perdoados. As igrejas (verdadeiras) logo estarão lidando com essa situação de forma tão normal quanto tratam pessoas que fumam ou que bebem. Há 50 anos, abordar um alcoólatra ou fumante, um jovem drogado, era muito complicado. Mais recentemente, uma das dificuldades foi receber prostitutas nas igrejas. Hoje já as recebemos com menos dificuldade. Dentro de mais algum tempo será mais fácil receber os homossexuais. O objetivo sempre foi o mesmo, ou seja, fazer com que o pecador abandone o pecado, não importa qual seja”, concluiu.

Segundo o Pr. Viguier, se “o cristianismo é acima de tudo a religião que nos faz olhar para a frente com esperança”, nada mais pertinente do que a Igreja acolher a todos com carinho e respeito a fim de mostrar-lhes o amor de Deus. Ser submisso a Jesus Cristo, tratar as feridas da alma, e se arrepender dos pecados é o caminho para o perdão e a vida eterna, e a Igreja é uma das portas para se chegar lá.

 

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

- Publicidade -

Matérias relacionadas

Publicidade

Comunhão Digital

Publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

VIDA E FAMÍLIA

- Publicidade -