25.5 C
Vitória
quinta-feira, 25 abril 2024

A Igreja e a Cidade

Igreja nas cidades terrenas: somos alertados para o julgamento de Deus contra o pecado, mas também sobre Seu amor e misericórdia ao pecador

Por Davi Lago

A Bíblia diz:

Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1.8).

A missão cristã atravessa as cidades. Jesus disse que a Igreja testemunharia a partir da cidade de Jerusalém até os confins da terra. De fato, as cidades são incontornáveis: “Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte” (Mt 5.14). A Bíblia fala sobre todo tipo de cidade: cidades fortificadas (Sl 31.22), cidades sem muros (Dt 3.5), cidades reais (Js 10.2), cidades-celeiros (Êx 1.11), cidades de refúgio (Nm 35.11), cidades de mercantes (Ex 17.4), cidades famosas (Jr 49.25), cidades sanguinárias (Ez 24.6,9), cidades fiéis (Is 1.26). Somente no Antigo Testamento há cerca de 300 cidades mencionadas nominalmente e 1.095 citações do termo hebraico mais comum para cidade: “iyr”. No Novo Testamento, há pelo menos 165 ocasiões em que aparece a palavra grega básica para cidade: “pólis”. Desde Enoque, a primeira cidade (Gn 4.17), até a Nova Jerusalém, a última cidade (Ap 22.19), o povo de Deus é chamado a confiar no próprio Deus, nunca na força humana. Embora a Igreja habite nas cidades terrenas, é uma tolice confiar nelas (Jr 5.17). Somos alertados sobre o julgamento de Deus contra as cidades que exultam no pecado (Ez 26.17), mas também sobre o grande amor e misericórdia de Deus por estas cidades. É marcante, por exemplo, a pergunta de Deus para Jonas: “Você tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite morreu. Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?” (Jn 4.10-11).

Como a Igreja testemunha Cristo nas cidades?

Jesus ensinou seus discípulos a iluminarem as cidades, casas e pessoas. O próprio ministério de Jesus foi marcado pelo anúncio do evangelho, com manifestação de sinais e maravilhas de cidade em cidade: “Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando as enfermidades e doenças” (Mt 9.35). Em Atos dos Apóstolos aprendemos sobre o impacto que a igreja primitiva exerceu nas cidades desde que o Espírito Santo a encheu do dia de Pentecostes. A partir de Jerusalém, os cristãos alcançaram a Judeia, Samaria e os confins da Terra. No final de Atos, o apóstolo Paulo tinha chegado à Roma, capital imperial. Podemos destacar alguns pontos:

- Continua após a publicidade -

1) Igreja anuncia o evangelho às cidades no poder do Espírito Santo. Desde a pregação de Pedro no Pentecoste, a igreja segue a semear a Palavra pelo caminho. De uma comunidade multilinguística, a igreja se tornou uma comunidade multicultural, alcançando pessoas de todas as nações. Em Antioquia “quase toda a cidade se reuniu para ouvir a Palavra do Senhor” (At 13.44).

2) A Igreja acolhe doentes e necessitados das cidades. A manifestação do poder sobrenatural de Deus através dos apóstolos fez com que “multidões das cidades” trouxessem todo tipo de enfermos e aflitos diante da igreja (At 5.16).

3) A Igreja ora pelas cidades, nas cidades e fora das cidades. Assim como Abraão intercedeu por Sodoma, devemos orar por nossas cidades e suas autoridades (1Tm 2.1-4). Pedro orou na cidade de Jope (At 11.5). Às vezes é bom sair da correria da cidade para orar: os irmãos procuraram um local de oração tranquilo fora da cidade (At 16.13). Wesley Duewel, um cristão devoto, escritor, missionário, homem de oração, tem um texto maravilhoso chamado “Por qual cidade você tem orado?”. A simples leitura do título é suficiente para despertar em nosso coração uma responsabilidade maior em relação a cidade onde habitamos.

4) A Igreja permanece fiel a Deus e resiste às perseguições nas cidades. Estêvão foi “arrastado para fora da cidade” e apedrejado (At 7.58), assim como Paulo (Atos 14.19). Pedro foi preso injustamente, e após ser liberto miraculosamente, voltou para a cidade (At 12.10). A perseverança no sofrimento é um testemunho poderoso do evangelho de Jesus.

5) A Igreja permanece em comunhão com os irmãos de cidade em cidade. As igrejas não ficaram isoladas, mas estavam unidas pelo mesmo Espírito. Atos registra que os apóstolos não apenas iniciaram igrejas, mas voltaram para ver como os irmãos iam “de cidade em cidade” (At 15.36). Também eram comunicadas as decisões dos apóstolos “nas cidades por onde passavam” (At 16.4).

6) A Igreja confronta a idolatria das cidades. Paulo e Barnabé confrontaram a idolatria em Listra, “cujo templo ficava diante da cidade” (At 14.13). Paulo confrontou a idolatria de Atenas, uma “cidade cheia de ídolos” (At 17.16).

7) A Igreja alcança postos de influência na cidade para cessar com a perseguição religiosa injustificada. Deus animou Paulo dizendo que ele não seria torturado em Corinto: “ninguém vai lhe fazer mal ou feri-lo, porque tenho muita gente nesta cidade” (At 18.10).

Conheça sua cidade: mais do que conhecer estatísticas, conheça a realidade em primeira mão. Quantos anos ela tem? Quem já passou por ela? Quais os eventos que marcaram sua consciência coletiva? Acho muito interessante a oração que os companheiros de Pedro e João fizeram em Atos 4: “De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com o povo de Israel nesta cidade…” (At 4.27). Aqueles cristãos sabiam sobre eventos decisivos que ocorreram na cidade onde estavam.

Em Atos 5.28 os apóstolos são acusados de “encher Jerusalém” com a doutrina cristã. Para alcançar o maior número possível de pessoas da cidade com o evangelho, é válido ter em vista quais são os mecanismos de mídia mais poderosos da cidade. Existem exemplos bíblicos da coleta de informações. Deus disse a Moisés: “Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo dos seus pais enviareis um homem” (Nm 13.2). Lourenço e Estefânia Kraft afirmara: “No Novo Testamento não temos referências específicas sobre a reunião de informações contextuais para usar no evangelismo. Contudo, nós temos um excelente exemplo de como Paulo estudava os contextos nos quais ele estava evangelizando e usava essas informações para construir suas mensagens a fim de ser mais eficaz na comunicação do evangelho” (Espiando a terra, São Paulo: Sepal, 1995). De acordo com a diretiva bíblica devemos compreender nossa cultura. Ignorar a cultura em que vivemos pode induzir à seguinte acusação: “grande sermão; multidão errada”. Observe como Paulo agiu em Atenas: “Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois, esse que adorais sem conhecer, é precisamente aquele que eu vos anuncio” (At 17.22-23). Perceba este trecho: “passando e observando os objetos de vosso culto”. Ou seja, Paulo andou e observou. Podemos fazer o mesmo: andar no meio da cultura contemporânea e observá-la, conhecê-la. Jesus fazia isso. Ele via a necessidade das pessoas de perto. Ele tocou os leprosos, andou no meio dos sofredores, entrou nas casas, foi até os acamados, transformou as cidades por onde passou.

A Igreja rumo à Cidade Celeste

Os cristãos sabem que precisam viver sua cidadania terrena de modo digno de sua cidadania celeste (Fp 1.27). Você ama sua cidade? Enquanto não existir um grande amor em seu coração pela cidade onde você vive, jamais haverá missão urbana. Já li inúmeros textos, artigos, livro, tratados, etc, sobre missões urbanas que não passam de letras frias, sem paixão, sem prática. Missão urbana começa com um profundo amor pela cidade, com um sentimento de pertença, de companheirismo, de respeito, de comprometimento genuíno com a cidade, seus habitantes. Quem ama assume responsabilidades. Deus amou o mundo de tal maneira, amou cada cidade de tal maneira, que enviou Jesus. Ele amou e agiu. O apóstolo Paulo, por exemplo, era cidadão natural de Tarso, na Cilícia (At 21.39), foi educado na cidade de Jerusalém (At 22.3) e possuía cidadania romana (At 22.25). Contudo, a cidadania primária de Paulo era espiritual, ele era um cidadão do Reino de Deus, assim como todos nós que fomos salvos pelo Senhor Jesus. Como está escrito: “Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2.19).

Para refletir

Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mateus 5.14-16 NVI).

Davi Lago é Capelão da Primeira Igreja Batista de São Paulo.

Mais Artigos

- Publicidade -

Comunhão Digital

Continua após a publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

Entrevistas