A gentileza tem um poder transformador. Ela abre portas para a reconciliação, ajuda a curar feridas emocionais e derruba barreiras entre as pessoas
Por Daniel Simoncelos
A gentileza, embora seja muitas vezes considerada uma qualidade comum, também é profundamente espiritual e enraizada no caráter de Deus. Quando examinamos a gentileza na Bíblia, descobrimos que ela não é apenas uma forma de agir bem para com os outros, mas um reflexo do amor e da graça que Deus demonstrou à humanidade. Em um mundo marcado pela dureza e competição, a gentileza bíblica surge como um chamado a viver de maneira contracultural, guiada pelo amor de Cristo e moldada pelo Espírito Santo.
Jesus, o Supremo Exemplo de Gentileza
A encarnação de Cristo é a expressão máxima da gentileza divina. Em sua vida e ministério, Jesus mostrou que a gentileza é mais do que palavras gentis; ela envolve uma disposição para servir, curar e se compadecer dos outros. Ele disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mateus 11.28-29).
A palavra grega usada para “manso” é “πραΰς” (praus), que implica gentileza e humildade de espírito. Jesus não tratava as pessoas com dureza ou desprezo, mas com uma bondade que acolhia até os pecadores mais desprezados pela sociedade. Sua disposição de perdoar e dar uma nova chance a quem a sociedade rejeitava, como a mulher adúltera (João 8.1-11), demonstra uma gentileza que não humilha, mas restaura e dignifica.
Gentileza como Fruto do Espírito
Paulo, em Gálatas 5.22-23, destaca a gentileza como um dos frutos do Espírito: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benignidade (χρηστότης – chrestotes), bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.” A palavra “chrestotes” sugere uma bondade ativa, uma disposição para agir com generosidade e consideração para com os outros. Essa bondade espiritual vai além de um simples gesto; ela é a evidência do Espírito de Deus agindo no coração de cada crente.
Quando agimos com gentileza, permitimos que o Espírito Santo nos conduza a responder ao próximo como Cristo responderia. Efésios 4.32 reforça essa ideia, exortando os crentes: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” A gentileza, portanto, se torna uma expressão do perdão divino que recebemos. Ao demonstrá-la, lembramos o mundo de que, assim como Deus foi bondoso conosco, também devemos ser bondosos uns com os outros.
O Poder Transformador da Gentileza
A gentileza tem um poder transformador que o mundo muitas vezes subestima. Ela abre portas para a reconciliação, ajuda a curar feridas emocionais e derruba barreiras entre as pessoas. Provérbios 15.1 nos ensina: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” Ao responder com mansidão em situações de conflito, evitamos a escalada da raiva e construímos pontes em vez de muros.
Um exemplo claro disso é a prática de gentileza até mesmo para com os inimigos. Em Romanos 12.20-21, Paulo escreve: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber… Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” A gentileza pode suavizar até os corações mais endurecidos e trazer reconciliação em relações aparentemente quebradas.
Aplicando a Gentileza no Nosso Dia a Dia
Para viver com verdadeira gentileza, devemos cultivar uma vida de intimidade com Deus. A oração e o estudo das Escrituras nos ajudam a compreender a profundidade da gentileza de Deus, de modo que possamos imitá-la em nossas próprias vidas. Devemos estar atentos às oportunidades para sermos gentis, especialmente quando isso nos custa algo, seja tempo, esforço ou um pouco de paciência.
Na prática, gentileza pode ser expressa em pequenos atos: oferecer ajuda a um colega de trabalho, ouvir pacientemente alguém que está passando por um momento difícil, perdoar uma ofensa e mostrar consideração genuína pelas necessidades dos outros. Cada ato de gentileza que realizamos é um reflexo de Cristo em nós, um lembrete ao mundo da bondade de Deus.
Daniel Simoncelos é Pastor na Igreja Presbiteriana Esperança, em Vitória (ES)